Russo Artem Nych é o novo rei da Volta a Portugal

Ciclista tinha destronado Afonso Eulálio na Senhora da Graça. O melhor português foi Gonçalo Leaça, com o quarto na classificação geral.

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Artem Nych foi o mais forte no contra-relógio que encerrou a Volta NUNO VEIGA / LUSA
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Assumido opositor da guerra na Ucrânia, o russo Artem Nych encontrou em Portugal um porto seguro para prosseguir a carreira nas duas rodas, na equipa Sabgal/Anicolor. Chegou em 2023 e alcançou este domingo, com 29 anos, o ponto mais alto da carreira, ao vencer a 85.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta. Um triunfo confirmado com o primeiro lugar do contra-relógio final, em Viseu.

A mais de oito mil quilómetros da sua cidade natal, Kemerovo, na Sibéria, Nych é o ciclista do momento nas estradas nacionais. Quarto classificado na edição da Volta do ano passado, o russo destronou o suíço Colin Stussi (Team Vorarlberg), que acabou com o segundo lugar da geral. Depois da vitória de Vladimir Efimkin, em 2005, esta é a segunda vez que um corredor russo vence a maior prova portuguesa.

“Sempre fui mais ou menos bom no contra-relógio, mas hoje corri com a camisola amarela que me deu mais força”, sintetizou no final Artem Nych, num português já bastante trabalhado e com um enorme sorriso que contrastava com o rosto absolutamente fechado nos instantes que antecederam a sua participação nos derradeiros 26,6 quilómetros da competição, sob escaldantes 35 graus. “É a primeira vez que ganho um contra-relógio em Portugal”, congratulou-se.

Um triunfo tão mais saboroso pela forma inesperada como ocorreu. Depois de um início pouco auspicioso da Volta, com o russo a andar abaixo do top 10 da classificação, tudo mudaria a partir da sexta etapa. Chegou isolado a Boticas, após ter integrado uma fuga, subindo para o 14.º lugar e reduzindo 2m49s a diferença para o português Afonso Eulálio, que liderou a prova até este sábado.

Artem Nych chegou à penúltima etapa, entre a Maia e o alto da Senhora da Graça, na 12.º posição, antes de revolucionar a corrida e chegar à amarela. Foi segundo na mítica jornada, mas recuperou a desvantagem para todos os adversários à sua frente na geral. A um dia do desfecho, os protagonistas mudavam.

“Senti-me muito mal nas duas primeiras etapas de montanha, mas fiquei melhor, melhor, melhor e agora estava em forma”, explicou o corredor, que tem contrato com a Sabgal/Anicolor, que tem sede em Águeda, até 2025.

Com uma altura pouco discreta de 1,95m – o mais alto do pelotão nesta prova –, Artem Nych foi considerado um dos ciclistas russos mais promissores nos primeiros anos como profissional. Em 2016 e 2017 foi 12.º classificado na Volta à França do Futuro, ao serviço da Gazprom-RusVelo, mas nunca conseguiu subir a um patamar internacional mais elevado, tendo obtido os melhores resultados nas provas internas do seu país, onde foi campeão nacional de fundo em 2021.

Nesse mesmo ano, tinha alcançado o melhor resultado fora de portas, com o oitavo lugar na geral da Volta à Turquia.

Com a extinção da equipa russa, em Março de 2022, o corredor teve de procurar soluções e acabou por receber o convite da então denominada Glassdrive/Q8/Anicolor, no final desse ano. Apontado como um corredor muito completo, bom trepador e experiente contra-relogista, Artem vinha trazer experiência e qualidade à equipa.

O ano de 2024 foi o da confirmação. Venceu com grande vantagem o Grande Prémio Abimota – uma prova de ciclismo de estrada, por etapas, para atletas das categorias Elites e sub-23, que decorreu entre 31 de Maio e 2 de Junho – e conquistou o GP Internacional Beiras e Serra da Estrela, pelo segundo ano consecutivo.

Artem Nych corre sob bandeira neutra, depois da União Ciclista Internacional (UCI) ter recusado a autorização para competir à equipa Gazprom-RusVelo, face às sanções aplicadas às formações desportivas russas, na sequência da invasão da Ucrânia.

Se Artem festejou efusivamente em Viseu, o português Afonso Eulálio era o rosto do desalento. Depois de vestir amarelo durante sete dias, acabou por ceder na Senhora da Graça e encerrou a maratona em 10.º lugar da geral.

No último lugar do pódio, acabou por ficar Abner González (Sabgal-Anicolor), de Porto Rico, que havia vencido na Senhora da Graça. Gonçalo Leaça (Efapel Cycling), com a quarta posição, foi o melhor português, a 3m07s do vencedor.

O corredor nacional tinha sido quinto no sábado, tendo subido ao segundo posto da geral (a 37 segundos de Artem), mas uma penalização de 20 segundos, por abastecimento indevido de água, atirou-o para a quarta posição, que manteve este domingo.

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