Centenas de vendedores protestam à porta dos escritórios do grupo chinês Temu

Vendedores chineses acusaram a empresa de estabelecer condições muito rigorosas, incluindo as multas elevadas no caso de os clientes se queixarem ou pedirem um reembolso.

Foto
Temu expandiu rapidamente a presença para 75 países, após o lançamento em Setembro de 2022 DANIEL ROCHA
Ouça este artigo
00:00
02:43

Centenas de vendedores da plataforma chinesa de comércio electrónico Temu protestaram em frente à empresa em Cantão, no sudeste da China, contra o que consideram ser a aplicação injusta de multas por problemas pós-venda.

Vídeos publicados nas redes sociais chinesas e por órgãos de comunicação locais mostravam que alguns dos manifestantes chegaram a entrar nos escritórios da Temu e só saíram depois da intervenção da polícia.

O jornal Caixin referiu que o primeiro protesto ocorreu a 22 de Julho e que esta segunda-feira ocorreu nova manifestação com maior afluência de pessoas, estimando-se que o número de manifestantes se situe entre 700 e 800.

A Temu, plataforma internacional da empresa de comércio electrónico local Pinduoduo, expandiu rapidamente a presença para 75 países, após o lançamento em Setembro de 2022, e compete com rivais chineses como a Shein, a TikTok Shop e o AliExpress, o braço internacional da Alibaba, tornando-se conhecida por oferecer produtos a preços muito baixos.

No entanto, os vendedores chineses acusaram a empresa de estabelecer condições muito rigorosas, incluindo as multas acima mencionadas no caso de os clientes se queixarem ou pedirem um reembolso.

A Caixin citou um dos manifestantes, um retalhista de vestuário, que afirmou que as multas da Temu e os fundos reservados para os litígios pós-venda ascendem a cerca de 35% das suas vendas totais: “A margem de lucro bruta que a Temu nos dá com os seus preços é entre 10% e 20%, por isso, depois das multas, ‘sangramos’".

Outro comerciante, citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, afirmou que a Temu o multou em três milhões de yuans (383.111 euros), no ano passado, retirando-lhe quase todos os lucros.

Um vendedor de telemóveis na cidade de Shenzhen, no sudeste do país, afirmou ter perdido cerca de 80.000 dólares (73.900 euros) para a Temu devido às multas e também à política da empresa de deixar os clientes ficarem com os produtos quando há um litígio, em vez de os devolverem, afirmando que a empresa impõe penalizações até cinco vezes o preço cobrado.

“Os comerciantes recusaram-se a resolver os litígios através das vias legais e de mediação previstas nos contratos. A situação é estável e a empresa está a trabalhar activamente com os comerciantes para encontrar uma solução”, declarou a empresa, num comunicado citado pelo jornal de Hong Kong.

No entanto, há comerciantes que colocaram o caso nas mãos de advogados para protestar através do regulador do mercado, de acordo com a Caixin.

A Temu está a ser alvo de escrutínio por parte das autoridades da UE e dos Estados Unidos, que estão a ponderar impor taxas alfandegárias a estas plataformas chinesas que vendem a preços baixos. A plataforma de comércio electrónico registou vendas de 20 mil milhões de dólares (18 mil milhões de euros) no primeiro semestre do ano, ultrapassando os 18 mil milhões no ano passado, noticiou a imprensa local.