Cessar-fogo congolense-ruandês entra em vigor à meia de noite de domingo
Mediação angolana adiantou o resultado da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países realizada em Luanda. Ruanda garante que empenhada em alcançar a paz na região.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Ruanda e da República Democrática do Congo (RDC), reunidos em Luanda na terça-feira sob mediação angolana, chegaram a acordo para um cessar-fogo no Leste da RDC a partir da meia-noite de domingo, 4 de Agosto. Nenhum dos ministros fez qualquer declaração depois do encontro, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros ruandês escreveu no Twitter que “o Ruanda mantém o seu compromisso de alcançar uma paz duradoura na região abordando as causas profundas do conflito”.
Esta foi a segunda reunião dos chefes da diplomacia dos dois países sob os auspícios da mediação angolana, a quem a União Africana mandatou para encontrar uma solução para o conflito no Leste do Congo. Segundo a secretaria de imprensa da presidência angolana, que divulgou a notícia, o cessar-fogo será supervisionado pelo Mecanismo de Verificação Ad Hoc devidamente reforçado.
Um primeiro sucesso da diplomacia angolana e um reflexo da diplomacia pró-activa que a ministra dos Negócios Estrangeiros congolesa, Thérèse Kayikwamba Wagner, afirmou querer implementar para tentar encontrar uma solução para o conflito no Leste do Congo. Uma diplomacia que passa por abordar as “conversas difíceis”, de maneira a tentar encontra soluções para o conflito, como explicou em entrevista à Voz da América.
O chefe da diplomacia ruandesa, Olivier Nduhungirebe, agradeceu na sua conta de Instagram à sua homóloga por um “intercâmbio franco e cordial, num espírito construtivo” que levou a um “bom resultado”. Ao fim de 12 horas de reunião e quando já era noite de terça-feira na capital angolana, o ministro ruandês agradeceu também ao Presidente João Lourenço, “pela sua sabedoria e orientação”, e ao ministro dos Negócios Estrangeiros angolano, Téte António, “pela sua gestão”.
O cessar-fogo acordado em Luanda, que será supervisionado pelo Mecanismo de Verificação Ad Hoc reforçado, vem na sequência de uma reunião que começou, segundo a Lusa, por um apelo de Téte António a que se fizessem “propostas concretas” e se chegasse a um consenso em torno de um caminho para a paz.
A notícia do acordo chega numa altura em que a ONU fala na presença de quatro mil soldados ruandeses e que os Estados Unidos impuseram sanções a três membros dos rebeldes do Movimento 23 de Março (M23), apoiado por Kigali: Corneille Nangaa, Bertrand Bisimwa e Charles Sematama. Os três são acusados do uso de violência que provocou a fuga de civis.
Para Thérèse Kayikwamba Wagner, esta decisão dos EUA é importante, embora seja apenas um primeiro pequeno passo face a um conflito que provocou uma catástrofe humanitária com sete milhões de deslocados.
Embora o conflito se mantenha desde 1998, envolvendo o exército congolês, com ajuda de milícias locais e forças burundianas, contra os rebeldes tutsis do M23, apoiados pelas Forças de Defesa do Ruanda, no Leste da RDC, sobretudo na província do Norte-Kivu, assistiu-se a um recrudescimento desde o final de 2021. O M23, substancialmente ajudado pela presença de soldados e equipamento militar ruandês, tem ocupado parte substancial do território, avançando em direcção à capital provincial, Goma.
Há vários meses que EUA, França, Bélgica e União Europeia pedem ao Ruanda que retire as suas tropas e o seu equipamento militar do território congolês e que ponha fim ao seu apoio ao M23, mas os pedidos não foram, até agora, atendidos. Apesar desses apelos, nenhum dos países retirou o seu apoio financeiro a Kigali e a UE assinou mesmo recentemente um acordo com o Ruanda para ter acesso a minerais estratégicos que os ruandeses contrabandeiam das minas controladas pelo M23 no Leste do Congo. Algo que o Uganda também faz em relação ao ouro congolês.