Ruanda nega estar por trás do bombardeamento a um campo de deslocados no Congo
O ataque, que os EUA condenaram de forma veemente, matou pelo menos nove pessoas, incluindo sete crianças. Médicos Sem Fronteiras limitaram a sua actividade no Leste do Congo por razões de segurança.
Tanto o Governo do Ruanda como os rebeldes do M23, o grupo armado que luta no Leste da República Democrática do Congo com o apoio de Kigali, negaram este sábado a autoria dos bombardeamentos a um campo de deslocados em Goma, a capital do Norte-Kivu, na sexta-feira. Acusados pelos Estados Unidos de estarem por trás do ataque, que o Departamento de Estado norte-americano condenou de forma veemente, o executivo ruandês garantiu que o seu exército não ataca "pessoas deslocadas".
"As RDF - Forças de Defesa do Ruanda, um exército profissional, nunca atacariam IDP [sigla em inglês para pessoas deslocadas internamente]. Olhem antes para as FDLR e para os wazalendo, foras-da-lei e apoiados pelas FARDC, em relação a este tipo de atrocidades", disse a porta-voz do Governo do Ruanda, Yolande Makolo, numa mensagem publicada no X (antigo Twitter).
As FDLR são as Forças Democráticas pela Libertação do Ruanda, um grupo de maioria hutu considerado responsável pelo genocídio no Ruanda há 30 anos; os wazanela são milícias locais que Kinshasa recrutou e armou para combater o grupo M23; e as FARDC são as Forças Armadas da República Democrática do Congo, o exército do país.
O ataque a um dos campos de deslocados, cujos disparos vieram, segundo o Departamento de Estado norte-americano do lado controlado pelas RDF e pelo M23, provocou a morte de pelo menos nove pessoas, incluindo sete crianças. E levou a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) a anunciar este sábado que tomou "a difícil decisão" de limitar as suas actividades em Goma por razões de segurança.
A organização tinha pessoal na altura no local a "realizar actividades médicas e a distribuir kits", mas não foram atingidos."As nossas equipas escutaram artilharia pesada que caiu em zonas densamente povoadas", explicou a MSF, citada pela Europa Press, falando num "uso cada vez mais regular" deste tipo de projécteis nas imediações dos campos de deslocados.
Os combates entre o M23, com ajuda de forças ruandesas, e o Exército congolês e as milícias locais desatou um êxodo de 1,3 milhões de pessoas no Leste do Congo, sendo que uma parte substancial das pessoas que deixaram as suas casas por causa da violência fugiu para Goma, capital da província do Norte-Kivu, junto à fronteira com o Ruanda. Vivem agora em campos de deslocados com poucas ou nenhumas condições.
O Presidente congolês, Félix Tshisekedi, que há várias semanas se encontra fora do país, resolveu regressar este fim-de-semana a Kinshasa. O porta-voz do seu Governo, Patrick Muyaya, numa mensagem no X, apontou o dedo ao M23. Tal como o tenente-coronel Guillaume Njike Kaiko, porta-voz do Exército congolês na região, alegando que seria uma retaliação do exército ruandês a um ataque das forças congolesas às suas posições que resultou na destruição de armas e munições.