Atleta olímpica e grávida de sete meses

Uma atiradora egípcia competiu nos Jogos Olímpico e chegou à segunda ronda na competição de sabre carregando a sua bebé dentro de si.

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Nada Hafez em acção nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 Albert Gea / REUTERS
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Nada Hafez surpreendeu o mundo do desporto ao anunciar que estava grávida de sete meses. A atiradora egípcia de 26 anos tinha acabado de ser eliminada nos oitavos-de-final da prova de sabre quando recorreu às redes sociais para partilhar a alegria de ter competido nos Jogos Olímpicos de Paris na condição de pré-mamã.

“O que parece para vocês como dois jogadores na pista, na verdade eram três! Eu, a minha adversária e o meu pequeno bebé ainda por vir ao nosso mundo. O meu bebé e eu tivemos a nossa quota de desafios, tanto físicos, quanto emocionais. A montanha-russa da gravidez é difícil por si só, mas ter que lutar para manter o equilíbrio entre a vida e o desporto foi nada menos que extenuante, embora tenha valido a pena. Escrevo este post para dizer que o orgulho enche-me por inteiro por garantir o meu lugar nos oitavos-de-final!”, escreveu Nada Hafez. Na estreia nos Jogos de Paris, a egípcia venceu a americana Elizabeth Tartakovsky (15-13), antes de ser eliminada pela sul-coreana Jeon Ha-Young (15-7).

“Tenho sorte de ter compartilhado a confiança do meu marido [Ibrahim Ihab] e da minha família para poder chegar até aqui. Esta Olimpíada específica foi diferente; três vezes ‘olímpica’, mas desta vez carregando uma pequena olímpica”, acrescentou no mesmo post, acompanhado de várias fotos da competição, realizada no Grand Palais.

Sensação semelhante sentiu a basquetebolista Valériane Vukosavljevic que contribuiu para a medalha de bronze da França nos últimos Jogos Olímpicos, em Tóquio, enquanto estava grávida, facto só conhecido de familiares e alguns próximos até ao final da competição.

“Durante o meu tempo livre, quando não estou com a equipa, posso estar com a minha filha. Posso amamentá-la, cuidar dela, fazê-la comer, fazê-la tomar banho – todas as coisas que uma mãe precisa fazer. É importante porque ela ainda é muito jovem e não consigo imaginar deixá-la sozinha por tanto tempo. É importante para uma mãe, para a sua saúde mental”, explicou então Vukosavljevic, antes de salientar: “Tive a aprovação do médico da federação, o acordo médico do meu ginecologista e isso era o principal. A treinadora disse-me que estava muito feliz por mim, que a gravidez não colocava em questão minha selecção para o Euro e os Jogos Olímpicos, se tudo estivesse bem clinicamente.”

Além das cãibras e momentos de enorme fadiga após os encontros, Vukosavljevic não sentiu nenhum alerta físico ou de saúde. “A gravidez não é uma doença, não impede de praticar desporto. Joguei três grandes competições e estou bem. Depois disso, é uma escolha. Eu sabia que queria ter um filho durante a minha carreira”, explicou.

Aos seis meses de gravidez Vukosavljevic teve mesmo de parar, mas pouco tempo após o nascimento de Alani, em Janeiro de 2022, voltou a competir. Em Paris, continua a ser uma peça importante da selecção, enquanto se afirma como uma porta-voz das mães atletas.

Uma das recentes conquistas foi a instalação de um berçário na aldeia olímpica, em estreia nesta edição. “Quando entrei para a Comissão de Atletas do Comité Olímpico Internacional, realmente queria ser a voz das mães atletas e apenas tirar-lhes uma preocupação durante a pressão da competição. Acho que isso diz mesmo às mulheres que podem escolher a maternidade e também estar no topo da sua forma sem ter que perder nada”, explicou Alysson Felix, mãe, atleta olímpica com 11 medalhas conquistadas e a mentora deste espaço.

Estes Jogos Olímpicos têm confirmado a vontade de as atletas de topo prosseguirem as suas carreiras desportivas depois de serem mães, como é o caso da judoca Clarisse Agbegnenou, a tenista Naomi Osaka ou a atleta Shelly-Ann Fraser-Pryce. Aliás, Osaka, mãe de Shai em Julho do ano passado, perdeu na primeira ronda com Angelique Kerber, mãe de Diana em Fevereiro de 2023.

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