Gustavo Ribeiro: “Se acordas num dia um pouco mais errado, as coisas não funcionam”

Gustavo Ribeiro tinha um plano para chegar à final entre os três primeiros, mas ficou-se pelas eliminatórias em Paris 2024.

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Gustavo Ribeiro esteve nos Jogos pela segunda vez Pilar Olivares / REUTERS
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Gustavo Ribeiro em acção nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 Angelika Warmuth / REUTERS
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O skate já faz parte da família olímpica e não parece que se vá embora tão cedo. Estreou-se em Tóquio, sem público, está a ter o seu segundo capítulo em Paris e tudo continua a fazer sentido. Atletas ágeis, carismáticos e descarados, uma banda sonora ecléctica (Joy Divison, Judas Priest) e todo um ambiente bem menos sisudo do que muitas vezes se vê nos Jogos – quem já viu provas de dressage, sabe do que estamos a falar. Gustavo Ribeiro faz parte disto e vai continuar a fazer, mesmo depois de ter tido um dia mau em que caiu mais do que queria.

Depois do oitavo lugar na final em Tóquio, em que estava limitado por uma lesão no ombro, o skater de Almada apresentava-se em Paris de novo como um dos melhores do mundo e com aspirações. Mas a qualificação, que se previa ser uma formalidade, acabou por ser um pesadelo para ele, que competia no terceiro grupo de qualificação. Na primeira “run”, Ribeiro caiu e foi penalizado na nota (48,31).

Na segunda “run”, o português voltou a cair, mas teve uma nova oportunidade – a proximidade de uma câmara provocara-lhe a queda. Voltou a subir para o skate e parecia estar bem, mas, nos últimos segundos, voltou a cair e não melhorou a nota.

Quando chegou à parte do “tricks”, a qualificação já era muito difícil e o português, depois de um zero no primeiro, fez 93,83 no segundo. Uma nota semelhante numa das restantes três tentativas talvez desse para chegar ao oitavo e último lugar de classificação. Arriscou três vezes e caiu três vezes. A sua segunda viagem olímpica tinha terminado ali.

Mesmo que tivesse tido a nota máxima (100) no segundo “trick”, não daria para chegar ao oitavo apurado para a final – o eslovaco Richard Tury fez 257,99 pontos, Ribeiro, sem pontuação para o segundo “trick”, ficou-se pelos 142,14, que lhe valeu um 17.º lugar entre os 22 skaters. Uma posição indigna para quem, em 2022, foi vice-campeão mundial e que já há muito é considerado um dos melhores. Ele sabia disso e, quando falou aos jornalistas portugueses, a última frase que proferiu foi um pedido de desculpas.

O que acabou mesmo com a sua prova foi aquele mau início, como reconheceu ao PÚBLICO Paulo Ribeiro, o pai e treinador de Gustavo. “Entrar nos jogos a falhar a ‘run’, não é fácil gerir a pressão e notou-se que ele ficou afectado. Tínhamos de arriscar para conseguir chegar à final e não correu como estávamos à espera. Todos os detalhes afectam. É um acumular de pequenas interferências e a cabeça tem de estar sempre limpa senão a pressão começa a ser muita. O Gustavo veio ca para o pódio, não veio cá para marcar uma posição”, admitiu.

E essa pressão notou-se na linguagem corporal do português ao longo da prova. Confiante no início, depois afectado pelas primeiras quedas e a ter de se levantar para um último risco. Mas este não era mesmo o seu dia – que podia ter sido antes, não fosse pela chuva que adiou a prova. Gustavo achava que ia conseguir uma medalha, mas o que ficou foi um sabor a desilusão.

“O skate é injusto, podes trabalhar durante anos, se acordas num dia um pouco mais errado, as coisas não funcionam. Senti que hoje era o meu dia, estava bastante preparado, mas infelizmente não consegui andar de skate da maneira que eu queria, tentei lutar até ao fim, mas às vezes as coisas não funcionam”, lamentou o português de 23 anos. “Não gosto de meter desculpas em nada, depois da minha segunda "run", deram-me uma nova oportunidade, não completei. Senti-me um bocadinho pressionado, a minha cabeça não estava no sitio hoje, mas pronto…”

Gustavo Ribeiro explicou que tinha um plano para acabar a qualificação entre os melhores. “Entrei com tudo o que tinha, a minha “run” era das mais técnicas. Se acertasse, ia para os três primeiros para a final. Os treinos correram bem, mas não completei o meu plano, e pronto…”

Mas isto não acaba aqui e não será uma qualificação falhada nos Jogos que o vai parar. “Tenho uma longa caminhada e muitas oportunidades. E é isso.” E depois veio o tal pedido de desculpas "pela performance".

Quem sabe, se essa próxima oportunidade olímpica não será a competir ao lado de Gabriel, o irmão gémeo que também é um skater de muitos méritos, em Los Angeles 2028, cumprindo um sonho do pai Paulo, que tem alimentado a carreira de ambos desde que eles receberam, aos quatro anos, a mesma prenda no Natal: uma prancha de skate. “Ele é novo, tem 23, está longe de atingir o auge. Temos agora o campeonato mundial e, em L.A. vamos ver se os dois se conseguem qualificar-se. É marcar posição já e não deixar para o fim.”

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