Palcos da semana: do jazz ao metal, entre fotos e filmes da realidade
Os festivais Jazz em Agosto, Ponte d’Lima e Vagos Metal Fest sobressaem numa agenda também preenchida por World Press Photo e MDoc - Festival Internacional de Documentário de Melgaço.
Em Ponte d’Lima, sê ecléctico
Depois de ter atraído dez milhares de festivaleiros à edição de estreia, no ano passado, o Festival Ponte D’Lima atira-se à segunda ronda determinado a superar esse número. Para isso, convoca “um cartaz ecléctico, num equilíbrio perfeito entre a música de raiz, a música electrónica, o rap, o kuduro e o rock”, garante a organização.
Confirma-se: entre os mais de 20 nomes alinhados para três dias, aparecem os supremos garage rockers Osees, o entusiasmo funk-punk dos californianos !!! (Chk Chk Chk), a criatividade enérgica e interventiva dos congoleses Kokoko!, o kuduro sem barreiras da luso-angolana Pongo, o “tecno sírio” de Omar Souleyman ou os ritmos balcânicos servidos pelo bem português Matko Destrokanov.
A 40.ª disrupção
O festival Jazz em Agosto, já se sabe, é palco para estilhaçar convenções. Não espanta, por isso, que a 40.ª edição se traduza não num estandarte comemorativo, mas num reforço do “nosso legado, o nosso Manifesto, em que o passo seguinte procurará ser sempre mais disruptivo que o anterior ou simplesmente diferente”, sublinha o texto de apresentação.
A intenção espraia-se desde a abertura, em que o saxofonista James Brandon Lewis homenageia a cantora gospel e activista Mahalia Jackson à frente de um quinteto, até ao final, com Echoes da revista e aumentada Fire! Orchestra de Mats Gustafsson.
Passa também pelos pianos de Sylvie Courvoisier e Cory Smythe inspirados por Stravinsky, pelo movimento Fluxus no sopro de Darius Jones e pela “indomada guitarra” de Ava Mendoza, para referir apenas um punhado do muito que vai acontecer num total de 17 concertos.
Humanidade e seus vislumbres
“Composta com cuidado e respeito, oferecendo ao mesmo tempo um vislumbre metafórico e literal de uma perda inimaginável". Foi com essas palavras que o júri da World Press Photo justificou a atribuição do título de foto do ano a Mulher Palestiniana Abraça o Cadáver da Sua Sobrinha. Foi captada no hospital Nasser, para a agência Reuters, pelo palestiniano Mohammed Salem, que assim se tornou repetente no galardão máximo, que já tinha recebido em 2010.
A tragédia da(s) guerra(s) deixa a sua impressão nesta edição dos maiores prémios mundiais de fotojornalismo, assim como migrações, pobreza, alterações climáticas ou demência. Mas também há histórias de “perseverança, coragem, amor, família e sonhos”, assinala a organização. Tudo o que é humano, portanto. Aqui nem há lugar para imagens produzidas por inteligência artificial.
As fotografias distinguidas – 33 entre 61.062, oriundas de 130 países – estão reunidas numa exposição que percorre várias cidades do mundo, convidando quem as vê “a sair do ciclo noticioso e a olhar com mais profundidade tanto as histórias proeminentes que conhecemos como aquelas que passam despercebidas”. Chegou a vez de Portimão.
Panorama alargado
Também Melgaço põe os olhos na realidade, mas revelada na tela. À décima edição, o MDoc - Festival Internacional de Documentário de Melgaço mantém o desafio à reflexão sobre a trindade “identidade, memória e fronteira”, mas alarga o panorama a temas como “a questão palestiniana, os direitos humanos, as migrações, o colonialismo, o ambiente, as questões de género”, faz saber a organização.
São 31 os filmes que compõem a selecção oficial (nove deles portugueses; 22 com o selo de estreia nacional), incluindo No Other Land, uma visão da Palestina sob ocupação israelita; Of Caravan and the Dogs, retrato de uma Rússia de pensamento agrilhoado; Democracy Noir, de Connie Field, a problematizar a ascensão de Orbán; The Takeover, de Anders Hammer, a registar a perda de direitos das mulheres num Afeganistão recém-tomado pelos taliban; The Battle for Laikipia, sobre um conflito radicado na crise climática; e a resistência à mineração de lítio em Covas do Barroso, abordada por Paulo Carneiro n’A Savana e a Montanha.
A Vagos os pesos-pesados
Os senhores do thrash norte-americano Overkill em riste com Scorched, o vigésimo álbum de estúdio. O metal sinfónico dos neerlandeses Epica conduzido pela voz de Simone Simons. Os germânicos Blind Guardian em rota de celebração de 40 anos ao serviço do power metal. E também o toque industrial dos suíços Samael, as sombras e arestas dos portugueses Mão Morta e a herança celta aplicada ao black metal pelos irlandeses Primordial.
Estas são apenas algumas das hostilidades a não perder na sétima edição do Vagos Metal Fest, o festival que torna a fazer jus ao historial da vila enquanto ponto de encontro das sonoridades pesadas, venham elas de talentos emergentes ou da velha guarda.