Tudo o que deve saber sobre o cancro da cabeça e pescoço

Um diagnóstico precoce e atempado é crucial para melhores taxas de cura, com menos consequências e complicações dos tratamentos. Neste sábado assinala-se o Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço.

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Em Portugal a incidência do cancro da cabeça e pescoço está entre 2500 a 3000 casos anuais Jose Antonio Gallego Vázquez/pexels
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O que é o cancro da cabeça e do pescoço?

Este termo médico refere-se a um conjunto de cancros que partilham características comuns: os fatores de risco, sintomas mais frequentes, localização anatómica muito próxima e modalidades de tratamento.

Dos mais frequentes para os menos frequentes temos o cancro do lábio, boca, língua, cordas vocais (laringe), garganta (faringe), glândulas salivares, nariz, seios perinasais e ouvido.

A nível mundial existem 686.000 casos anuais — destes 150.000 são diagnosticados na Europa —, sendo que apenas metade vai estar viva cinco anos depois do diagnóstico.

As estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para os novos casos de cancro de cabeça e pescoço diagnosticados, são de um aumento de 8% até 2045, tendo por referência o ano de 2022. Por tudo isto é necessário alertar e contribuir para a literacia em saúde, dando a conhecer quais os sinais e sintomas que deverão motivar a ida ao médico e deixando muito claro que um diagnóstico precoce e atempado é crucial para melhores taxas de cura, com menos consequências e complicações dos tratamentos.

Qual o impacto deste cancro na sociedade?

Varia muito de acordo com o país que estivermos a falar, sendo que para a realidade portuguesa temos entre os 2500 e 3000 novos casos por ano. Em Portugal, sabemos que a maioria dos pacientes tem mais de 50 anos e é do sexo masculino. No entanto, os dados têm vindo a alterar-se:

  • Existem cada vez mais casos em mulheres, uma vez que nesta população os hábitos tabágicos e alcoólicos têm vindo a aumentar;
  • Há cada vez mais casos em indivíduos jovens, em parte devido ao crescimento do vírus do papiloma humano (HPV), muito associado a um dos cancros da cabeça e pescoço (orofaringe). Mais especificamente, estamos a falar de um pico de incidência inferior em dez anos, ou seja, pessoas com 40 ou até mesmo 30 anos.

Quais são os principais fatores de risco?

Existem três principais fatores de risco: álcool, tabaco e o vírus do papiloma humano. O risco é cumulativo, isto é, se a pessoa apenas fumar, ou se apenas beber, a possibilidade de ter cancro na boca é de seis a oito vezes maior do que alguém que não fuma e não bebe. Mas se fumar e beber ao mesmo tempo o risco dispara para 80 a 100 vezes.

Os pacientes questionam muitas vezes sobre os malefícios associados ao uso dos cigarros eletrónicos. Dado tratar-se de uma tecnologia relativamente recente ainda não existem estudos a esse respeito. No entanto, sabemos que o problema do tabaco não está apenas relacionado com a nicotina e outros produtos usados nos cigarros aquecidos, mas também à combustão, uma vez que esta gera produtos carcinogénicos, isto é, promotores de cancro, o que faz com que não possamos aconselhar a substituição do tabaco dito “normal” pelos cigarros elétricos.

Além destas causas, existem outras que importa salientar:

  • Higiene oral deficitária;
  • Fatores de risco profissionais, como por exemplo, a exposição a madeiras ou amianto. Nestes casos a evicção do risco passa pela utilização de proteções respiratórias para se evitar a inalação de partículas;
  • Exposição à radiação ionizante, quer em profissionais de saúde não adequadamente protegidos, quer em doentes que realizaram radioterapia no passado, quer em qualquer outro contexto.

A existência destes fatores não significa que apenas as pessoas que os apresentem é que virão a ter um diagnóstico de cancro da cabeça e do pescoço — na realidade um em cada cinco doentes não têm qualquer registo dos fatores mais fortes: consumo de álcool e/ou tabaco. Contudo, se conseguíssemos eliminar os fatores de risco haveria uma redução destes cancros em 80%.

Quais as principais queixas que estes tumores causam?

Os sinais/sintomas de alerta que devem motivar a ida ao médico incluem:

  • Um nódulo/gânglio aumentado no pescoço;
  • Uma rouquidão que se mantém por mais de 15 dias;
  • Uma ferida/úlcera no lábio, boca ou língua por mais de 15 dias;
  • Dor ou dificuldade, persistente, a engolir.

Como é feito o diagnóstico?

A observação é essencial e o diagnóstico precoce tem impacto na mortalidade e nas hipóteses de cura da doença. O cancro da cabeça e do pescoço é curável se detetado precocemente.

Neste tópico salientamos a importância do autoexame da boca, à semelhança do que existe para o cancro da mama ou do testículo. Trata-se de uma auto-observação fácil, rápida e que é recomendada realizar uma vez por semana, sendo que para tal basta um espelho e uma boa iluminação para conseguirmos examinar os lábios, a parte de dentro da bochecha, a língua, o céu-da-boca, a parte posterior da boca (orofaringe) e apalpar o pescoço.

Aquando desta pesquisa devemos estar alerta para pequenas feridas, úlceras e caroços no pescoço.

A título de ilustração da importância do diagnóstico precoce fica o seguinte alerta: um paciente que chega à consulta devido a uma alteração da voz com 15 dias de evolução, ao qual seja feito o diagnóstico de um pequeno tumor nas cordas vocais localizado, ainda sem metástases no pescoço, terá uma sobrevida ao fim de cinco anos, de 85 a 90 %. Mas se uma pessoa tem uma afta/ferida na boca com vários meses de evolução, mas que apenas recorre ao médico quando aparece um caroço no pescoço, isso significa que o tumor evoluiu e neste caso apenas 40 a 45% das pessoas estarão vivas ao fim de cinco anos.

Podemos falar de prevenção neste tipo de cancros?

A prevenção passa pela evicção/redução dos fatores de risco. No entanto, e dado o papel crescente do vírus do papiloma humano, nos Estados Unidos já se sugere a vacinação contra o vírus até aos 45 anos de idade, esperando que venha a ter um impacto significativo na redução de novos casos de cancro da orofaringe, um dos tipos de cancro da cabeça e do pescoço.


Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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