Príncipe Filipe consta em documentos do FBI sobre escândalo de espionagem e sexo

Ficheiros secretos da polícia federal americana dão conta de rumores de que o marido de Isabel II pode ter estado envolvido com duas mulheres no centro do caso Profumo, escândalo sexual dos anos 60.

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Filipe e Isabel II foram casados durante 73 anos, tiveram quatro filhos: Carlos, Ana, André e Eduardo entral Press/Getty Images
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O nome do príncipe Filipe (1921-2021), que foi consorte de Isabel II durante todo o reinado da monarca, surge em documentos do FBI relacionados com o caso Profumo, um dos maiores escândalos britânicos do século XX, que começou com um romance de cinco meses entre um ministro casado e uma call girl, terminando com a demissão do político do executivo liderado pelo então primeiro-ministro Harold Macmillan, que também acabou por ser arrastado, assim como a facção que representava: meses depois de o rebentar do escândalo, o governante afastou-se da liderança do Governo e o Partido Conservador não conseguiria a reeleição no ano seguinte.

O caso remonta a 1961, quando o artista e osteopata Stephen Ward apresentou Christine Keeler, uma call girl que teria sob sua protecção,​ ao conservador John Profumo (1915-2006), que era secretário de Estado da Guerra depois de ter servido como ministro dos Negócios Estrangeiros de Macmillan.

Os relatos sugerem uma relação romântica de Keeler com Profumo, mas, além desta, a jovem aspirante a modelo manteria relações com Ward e com o adido militar soviético em Londres, Eugene Ivanov, com o conhecimento dos serviços secretos britânicos, que viam em Ivanov um possível desertor. Para a história interessa ainda referir que Profumo, casado com a actriz Valerie Hobson, era tido em boa conta no Palácio de Buckingham.

Mas voltemos ao escândalo: Christine Keeler vivia, de tempos a tempos, com Ward, mas mantinha ainda, fora das altas esferas, um relacionamento com Johnny Edgecombe, um antigo marinheiro mercante, que viria a atacar o cantor Lucky Gordon depois de Keeler ter acusado este de a ter agredido. Só que, quando Edgecombe pediu a ajuda de Keeler para arranjar um advogado, a ex-namorada informou-o que iria testemunhar contra ele (e viria a ser condenada por perjúrio).

Em Dezembro de 1962, Christine Keeler e Mandy Rice-Davies estavam em casa de Ward, quando Edgecombe apareceu. A antiga amante recusou-se a falar com ele e o homem disparou cinco tiros contra a porta da casa do osteopata. Foi esse incidente que chamou a atenção das autoridades e da imprensa, que descreveu Keeler como “uma modelo freelance” ou “uma actriz”. E a jovem percebeu que a sua história poderia vender, começando a falar indiscretamente sobre Ward, Profumo, Ivanov e o tiroteio de Edgecombe, tendo dito até que Ward lhe teria pedido para arrancar segredos militares a Profumo, levando à suspeita de se estar perante uma questão que punha em causa a segurança nacional (até pelo envolvimento do adido militar soviético).

As histórias que contou, assim como a sua amiga Mandy Rice-Davies, foram repetidas pela imprensa, em documentários televisivos, no filme de ficção Escândalo (1989), de Michael Caton-Jones, e até em músicas que se popularizaram duas décadas depois, como Nothing has been proved e In private, nascidas da colaboração entre Dusty Springfield e os Pet Shop Boys.

Depois de ter negado no Parlamento o seu envolvimento no escândalo sexual e até ter contado com o apoio do primeiro-ministro, John Profumo acabaria por admitir a relação com Keeler e demitiu-se do Governo. Dois dias depois, Ward foi detido e acusado de vários crimes, nomeadamente de lenocínio.

Apesar do caso ser fraco e de, a meio do julgamento, se ter concluído que Keeler tinha prestado falsos depoimentos, no dia em que a acusação fez os seus argumentos finais, Ward escreveu cartas a amigos e às autoridades e tomou uma dose excessiva de comprimidos para dormir. O júri declarou Ward culpado de dois crimes de lenocínio, tendo-o absolvido de várias outras acusações. A sentença foi adiada até o artista estar em condições de comparecer, mas acabaria por morrer poucos dias depois. A morte de Ward foi estabelecida como suicídio por envenenamento com barbitúricos.

Agora, documentos do FBI apontam para o facto de terem, na época, surgido rumores de que o príncipe Filipe se teria relacionado com as duas mulheres, Keeler e Rice-Davies. Um memorando assinado por J. Edgar Hoover, citado pelo jornal britânico Mail on Sunday, diz que “havia um rumor de que o príncipe Filipe poderia ter estado envolvido com estas duas raparigas”.

O que parece certo é que o duque de Edimburgo tinha uma relação com Ward, até porque este era membro do Thursday Club, que o príncipe co-fundou com o tenente-comandante Michael Parker. E, na série The Crown, há a sugestão de que a amizade não era bem vista, ao se mostrar o episódio em que a rainha é vista a ser informada de que Ward tinha desenhado Filipe e que este era um convidado frequente nas reuniões do osteopata.

Ou seja, a tese, pelo menos, de que o príncipe conheceria as duas raparigas é reforçada pela sua relação com o osteopata. Mas, dizem os documentos do FBI, tratou-se apenas de rumores, não tendo sido apresentadas provas capazes de suster a teoria.

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