O Instituto Europeo di Design (IED) vai chegar oficialmente a Portugal. A escola italiana assinou um protocolo com a Cooperativa de Ensino Superior Artístico do Porto (Cesap) para a criação de novos cursos de design e moda na Escola Superior Artística do Porto. Ainda não há data para o arranque das formações, que deverão ser de ensino superior, mas o reitor Riccardo Balbo já celebra a conquista. “Portugal é o que nos faltava culturalmente”, declara ao PÚBLICO.
No ano passado, o instituto italiano já tinha falado sobre ambição de expandir para Portugal e a aproximação começou com o apoio ao concurso Sangue Novo da ModaLisboa. Apesar de a parceria continuar, é no Porto que está a aposta do IED no mercado português. “Só abrimos uma escola porque há razões que a justifiquem. E só é possível em Portugal porque há uma rede cultural e uma indústria relacionada que a apoie”, contextualiza.
Mas a aposta não foi em criar uma instituição de ensino de forma independente ─ “não queremos aterrar como uma nave espacial e impor programas e pessoas” ─, mas ligar-se a uma escola de design já existente. “A ideia que está por trás da nossa escola não é lucro porque é gerida por uma fundação e queríamos criar uma parceria com alguém que partilhasse a mesma abordagem. Foi uma ligação imediata”, explica, lembrando que a Cesap é uma cooperativa.
Depois de feito o namoro, Riccardo Balbo percebeu que as duas instituições também encaravam o ensino de design e moda da mesma forma. “O IED é uma escola que considera o design um chapéu muito largo e está interessada em compreender onde é que o design pode levar o planeta mais do que focar-se numa indústria específica”, analisa, lembrando que a Escola Superior Artística do Porto tem vários cursos de artes gráficas, performativas ou até teatro e cinema, mas não tinha programas de estudos em design de interiores ou design de moda, que passará a dispor com o protocolo com o IED.
Ainda não está finalizada a estrutura dos cursos, que está dependente da aprovação do Ministério da Educação, lembra Stefano Carta Vasconcellos, director académico do grupo que já tem escolas em Itália, Espanha e Brasil. “A nossa ideia é enriquecer o que eles têm como ofertas de cursos com uma cultura que é nossa, que é a forma de desenvolver o projecto, a nossa identidade central”, esclarece o responsável.
O objectivo é que os cursos assentem em três eixos, acrescenta: “Projecto, distribuição e produção.” É este lado prático que acreditam que vão trazer de diferente ao ensino português e a aposta faz ainda mais sentido no contexto actual da indústria portuguesa. “Portugal está a crescer nestes três eixos e é nesse ambiente que o instituto trabalha, com os designers a dividirem-se entre empresas e a escola, que é um ambiente protegido”, detalha, avançando que contarão com professores italianos e portugueses.
Aproximar Portugal e Itália
Este propósito de ligar Itália e Portugal é uma das ambições da iniciativa. “Temos de descobrir o que significa ser feito em Portugal e em que pode ser diferente do feito em Itália. Em tempos, Portugal era onde as marcas vinham produzir, mas está a mudar drasticamente e a afirmar a sua identidade”, declara Riccardo Balbo, que garante não querer forçar os portugueses a copiarem o modelo italiano de sucesso (o famoso Made in Italy). “Não queremos chegar e ensinar, mas perceber o que é diferente. Mais do que uma relação académica ou comercial, isto é uma relação cultural.”
Até porque acredita que há muito em comum na forma de pensar a moda por portugueses e italianos, pela “personalidade mediterrânica”. E insiste: “Não estamos interessados em expandir para o norte da Europa, porque somos povos diferentes em termos de relações. Portugal é importante para nós.”
A história do IED recua a 1966, quando foi fundado por Francesco Morelli, em Milão, com o propósito trazer algo de diferente ao ensino do design, no preâmbulo das revoltas estudantis do Maio de 1968. O instituto sempre se afastou do ensino universitário tradicional e aproximou-se mais do politécnico com uma forma componente profissional. Actualmente, tem quatro áreas de ensino: Design, Moda, Comunicação e Gestão, Artes e Restauro e Artes Visuais.
O responsável não abre o jogo sobre se este é apenas o primeiro passo em Portugal e se pretendem abrir, no futuro, uma escola a solo. “Não queremos fazer as coisas sozinhos. Não é o nosso estilo. Por exemplo, acabamos de abrir em Bilbau com outra instituição”, responde. E Stefano Carta Vasconcellos completa: “Este é o novo modelo que estamos a desenvolver para implementar uma nova operação porque é mais interessante com uma instituição local que já conhece a cultura.”
Como tal, também não revelam se pretendem estender o modelo de cooperação para Lisboa. “A cultura do design está mais no Porto. Acreditamos que há um potencial muito forte naquele distrito cultural, naquela região”, termina Riccardo Balbo.