Nelson Évora: “O exercício mais difícil da minha vida é acharem que estou sempre bem”

Depois das “quedas mais duras” no desporto e na vida pessoal, o atleta sente que ganhou um estatuto de invencibilidade, mas admite que nem sempre tem forças para “cair de pé”.

Foi campeão olímpico do triplo salto nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, mas várias lesões e perdas familiares depois, Nélson Évora recusa o estatuto de homem forte invencível.

"Eu tive das quedas mais duras no desporto e na vida pessoal. Das coisas mais difíceis que eu já tive e tenho ainda hoje, nos meus piores dias, é que eu ganhei um estatuto. As pessoas acham que eu não caio. Eu sou um gato autêntico: 'Se cair vai cair de pé'."

Mas o atleta de 40 anos não se vê da mesma forma. "Chega uma altura em que nós não queremos cair de pé, não temos forças para cair de pé. Temos de ir de costas, de cabeça, seja como for. O exercício mais difícil da minha vida é as pessoas acharem que eu estou sempre bem, porque eu já provei que sou forte", diz, no episódio desta semana do podcast Um Homem não Chora.

"Não tenho problema em dizer: eu gostava de ir aos Jogos Olímpicos. Eu não vou aos Jogos Olímpicos. Deixa-me triste? Deixa, porque faz parte do meu ADN lutar. Mas já não me deixa abalado", confessa.

Neste episódio gravado semanas antes do nascimento da filha, Isabella, Nelson Évora fala sobre a infância, após se mudar da Costa do Marfim para Odivelas, o primeiro contacto com o racismo e sobre a sua visão da masculinidade: "Eu passei a fazer uma coisa que já vi pessoas acharem estranho, eu dou um beijo aos meus amigos. Faço questão de o fazer porque se é isso que eu sinto, se é esse o carinho e amor que eu sinto por eles, porque é que eu tenho de ter em mente o que é que a pessoa do lado vai pensar?"


Um Homem Não Chora está disponível às segundas-feiras em todas as aplicações para escuta de podcasts — como a Apple Podcasts ou o Spotify —​ e na área de podcasts do site do PÚBLICO.

Sugerir correcção
Comentar