Diplomacia russa lamenta “crise profundíssima” das relações com Portugal
Zakharova afirmou que a Rússia espera pelo “dia em que Portugal faça uma avaliação real dos acontecimentos e que chegue à conclusão que é necessário preservar e desenvolver os laços” entre os países.
A porta-voz da diplomacia russa lamentou esta quinta-feira que as relações com Portugal estejam numa "crise profundíssima" desde o início da invasão da Ucrânia, pedindo a Portugal que faça "uma avaliação real dos acontecimentos".
"As relações luso-russas estão numa crise profundíssima em virtude da posição tomada pelas autoridades portuguesas. Desde há anos que não estavam tão deterioradas como desde o início da operação militar especial [a expressão que as autoridades russas usam para se referir à guerra desencadeada com a invasão da Ucrânia em Fevereiro de 2022]”, disse Maria Zakharova por videoconferência em resposta a uma pergunta da agência Lusa.
Zakharova afirmou que a Rússia espera pelo "dia em que Portugal faça uma avaliação real dos acontecimentos, assente em factos verdadeiros e que chegue à conclusão, por fim, que é necessário preservar e desenvolver os laços" entre Lisboa e Moscovo.
"No entanto, tal consciencialização tem de se basear em factos e não em indicações metódicas provenientes de Bruxelas ou Washington, saídas das cimeiras da NATO”, salientou a diplomata.
Portugal condenou reiteradamente a invasão da Ucrânia desde o início, mas Maria Zakharova defendeu que é "preciso perceber os factos, levar em linha de conta as raízes históricas, compreender os processos que efectivamente ocorrem, não escorados nas narrativas impostas pelos membros daquele bloco”.
Questionada sobre as mudanças no Parlamento Europeu decorrentes das eleições de Junho passado, a representante do Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa afirmou que a política externa russa em relação aos 27 só mudará se o bloco europeu também demonstrar algumas mudanças.
"Se acontecer alguma mudança na política externa dos países da União Europeia, vamos estudá-la e corrigir as nossas abordagens, se tais mudanças corresponderem à realidade. Entretanto, se continuarmos a assistir à demonização do nosso país, à russofobia em relação ao nosso povo, ao caminho das sanções e ultimatos, do fazer da Rússia um papão, da escalada de conflitos já existentes, nesse caso, não vemos necessidade de alterar a nossa política externa”, sublinhou.
Acrescentou que as “crises políticas monstruosas" na Europa "não estão ligadas à ascensão ou queda de líderes ou partidos políticos, mas à polarização da sociedade e ao divórcio dos objectivos propostos em relação à vida real".
Maria Zakharova criticou que os países da UE se "dediquem a tentar resolver os problemas da Ucrânia, com os quais os seus próprios cidadãos nada têm a ver".
"Acontece que os problemas da Ucrânia, que foram gerados pelo Ocidente, são agora problemas enfrentados pelos seus próprios povos. Admira-me que os países da UE, que se acham no direito de solucionar os problemas da Ucrânia, não se apressem a resolver os problemas que têm dentro de portas, como o da imigração, o do crescimento da criminalidade, crise financeira, débil crescimento económico ou a sua contracção. Tudo isto tem uma influência negativa nas áreas financeira e económica”, avaliou.
Aconselhou as nações europeias a "pôr de parte as declarações de [Josep] Borrell (chefe da diplomacia europeia) e tirar os auscultadores através dos quais [a reeleita presidente da Comissão Europeia] Ursula Von der Leyen repete os seus mantras".
"É importante olhar pela janela e ver como vivem os seus próprios cidadãos, ver os problemas com que têm de lidar, passar pelas lojas, falar com as organizações sociais. Talvez não fosse mau começar por aí", sugeriu.