O “amor” santomense por Portugal e a amizade profunda entre Guiné-Bissau e Rússia

Patrice Trovoada garante que acordo militar com a Rússia é “normal” e que o seu país já deu “provas suficientes de amor”. Umaro Sissoco Embaló convidou Vladimir Putin a visitar Bissau.

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Os presidentes guineense, Umaro Sissoco Embaló, e russo, Vladimir Putin, na quinta-feira, durante as celebrações do Dia da Vitória em Moscovo Maxim Shemetov / REUTERS
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O alinhamento de São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau com a Rússia, numa altura em que as forças russas continuam a sua guerra na Ucrânia, é mesmo para manter, e Portugal até pode estranhar, mas vai ter mesmo de entranhar que os dois países da CPLP são soberanos e independentes para estabelecer acordos militares com Moscovo. O de São Tomé entrou agora em vigor, o da Guiné-Bissau já vem desde 2019.

Patrice Trovoada, o primeiro-ministro santomense, tentou pôr água na fervura em relação ao acordo de cooperação militar assinado pelo seu país com a Rússia e que entrou em vigor no dia 5 de Maio: “Acho que não há razões nenhumas para preocupações. É um acordo normal, habitual, que existe com vários países e sobretudo Portugal não tem razões para estar preocupado”, disse o chefe do Governo à Lusa.

Sobre as palavras do ministro de Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que revelou a sua “estranheza e apreensão” face à aproximação russo-santomense, Trovoada fez questão de lembrar que estamos a falar de um país soberano e independente: “Nós somos independentes, soberanos, ninguém vai nos ditar como devemos nos relacionar com a Rússia.”

E se Trovoada, tentando por todos os meios desvalorizar a importância do acordo militar, jurou amor eterno a Portugal – “entre Portugal e São Tomé e Príncipe as coisas vão bem e, como se diz, no amor não é só dizer ‘eu te amo’, mas nós já demos provas suficientes de amor” –, ao Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, só lhes faltou mesmo usarem a palavra amor para falar da relação russo-guineense.

No seu encontro de quinta-feira com Putin, por duas vezes Embaló chamou a Putin “meu querido amigo”, de acordo com a transcrição da reunião disponibilizada pelo Kremlin, sublinhou a importância da Rússia na independência da Guiné-Bissau, a formação de muitos altos quadros guineenses na União Soviética (“Mais de 70% dos nossos militares e autoridades civis foram formados na União Soviética”) e expressou a “solidariedade” entre as duas nações.

“Somos bons aliados agora e esperamos continuar a sê-lo no futuro. Podem contar com a Guiné-Bissau como um parceiro fiável, que nunca mudará”, acrescentou Embaló. O Presidente guineense, que vai na terceira visita à Rússia desde que assumiu o cargo em 2020, foi agora convidado pelo seu homólogo para “uma visita de Estado à Federação Russa” e aproveitou para reciprocar.

“Quero aproveitar também para agradecer o convite para visitar a Rússia. Espero que algum dia faça um périplo por África que inclua a Guiné-Bissau”, disse Embaló. “A Rússia pode contar com a Guiné-Bissau como um aliado permanente, isso não mudará nunca.”

Bissau e Moscovo assinaram um acordo de cooperação militar a 25 de Junho de 2019, à margem da participação da delegação do Governo guineense no Fórum Internacional Técnico-Militar. As assinaturas no acordo são dos ministros da Defesa russo, Serguei Shoigu, e guineense, Eduardo Costa Sanhá. Mas nessa altura ainda a Rússia não tinha invadido a Ucrânia e não se tinha tornado em pária numa parte substancial do mundo, por isso, o documento mereceu pouca atenção internacional.

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