Quando o leão rugia: o centenário da MGM

Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), assim se chamava o maior estúdio de cinema que o mundo já conheceu. Em 2024, a MGM cumpre 100 anos.

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Hoje, são poucos os filmes que vemos no cinema que começam com o lindíssimo logótipo do leão a rugir. Mas, há 90 anos, ele aparecia com frequência nas salas de cinema, introduzindo um mundo de glamour que permitia ao espectador, por duas horas, escapar da miséria da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. Regida com mão de ferro por Louis B. Mayer, o fascinante judeu que basicamente criou Hollywood, a MGM era o estúdio das estrelas e da sumptuosidade. Nenhum outro estúdio tinha a quantidade absurda de movie stars que a MGM detinha sob contrato (o seu slogan era “more stars than there are in heaven”, mais estrelas do que no céu).

A década de 1930 é a mais gloriosa da sua história e, nesta década, trabalhavam para o estúdio nomes como Greta Garbo, com os seus filmes de mulher exótica, erótica, andrógina e trágica, e Norma Shearer (hoje muito pouco conhecida, era uma das maiores estrelas da casa por ser casada com o produtor todo poderoso Irving Thalberg) que começou os talkies, fazendo filmes de mulher livre, para passar, com a idade, a encarnar mulheres mais convencionais e “grandes” papéis como Maria Antonieta.

Havia ainda duas grandes estrelas de cariz menos sumptuoso: Joan Crawford e Jean Harlow. Crawford, ainda longe de assumir um rosto duro e caricatural especializou-se em dar vida a mulheres humildes que trabalhavam duro, subindo na escada social. Harlow foi a primeira loira platinada de Hollywood e o ídolo de Marilyn Monroe. O estúdio tinha ainda a charmosa actriz e cantora de ópera Jeanette MacDonald, com um apelo muito campy, e a sofisticada Myrna Loy, que é possivelmente a mulher mais inteligente e bem formada de Hollywood naquela altura.

Quanto aos homens, havia, como não, Clark Gable, o rei de Hollywood (o apelo masculino de Gable não envelheceu tão bem quanto a suavidade e elegância de Cary Grant, mas ele continua a ser muito magnético), Spencer Tracy, um actor muito talentoso que ganhou um Óscar a dar vida a um pescador português em Lobos do Mar (realizado por Victor Fleming, o realizador mais importante da companhia e que iria assinar duas obras primas de 1939: E Tudo o Vento Levou e O Feiticeiro de Oz), o charmoso William Powell e o belo Robert Taylor que ficou miseravelmente para a história por ter denunciado colegas na época da Caça às Bruxas.

Nesta década de 30 temos filmes inesquecíveis como Grande Hotel, Jantar às Oito, O Homem Sombra, Adeus Mr. Chips, Mulheres e Ninotchka. Importante destacar o desenhador de vestuário Adrian que, ao longo da década, criou frequentemente vestidos elegantes para Garbo e Crawford, sendo ironicamente o seu produto mais famoso o vestido de algodão azul e branco que Judy Garland usa em O Feiticeiro de Oz.

A década de 1940 daria a conhecer estrelas importantes como os astros do cinema musical Judy Garland, Gene Kelly, Frank Sinatra (o estúdio especializar-se-ia, de facto, no género musical sendo os produzidos por Arthur Freed os de melhor qualidade) e uma estrela sem concorrência alguma, a nadadora Esther Williams, para a qual foi inventado um subgénero, o aquamusical. Também é o tempo das divas glamorosas Lana Turner, Ava Gardner e Hedy Lamarr, vendida como uma substituta de Garbo que abandonou Hollywood em 1942. Uma adolescente Elizabeth Taylor também começava a dar os primeiros passos no cinema e a sua beleza já era mais que evidente. A ruiva britânica Greer Garson torna-se a nova Norma Shearer, que abandonou o estúdio no início dos anos 40, passa a ser uma das actrizes mais conceituadas do seu tempo. A dupla Katharine Hepburn e Spencer Tracy brilham nas suas comédias feministas. Desta década destacam-se filmes como A Loja da Esquina, a série Andy Hardy, Casamento Escandaloso, Não Há Como a Nossa Casa, A Família Miniver e Meia Luz.

Na década de 1950, a MGM começa a perder a sua identidade. A televisão banaliza-se e rouba espectadores ao cinema, o colapso do studio system começa e praticamente apenas duas novas actrizes marcam esta década, Debbie Reynolds e Grace Kelly, cujos filmes mais importantes se fizeram à margem da MGM. Em 1951, Mayer foi demitido e substituído por Dore Schary que queria fazer filmes com mensagem e sem glamour. Ainda assim, saíram da MGM grandes musicais como A Roda da Fortuna e (como não) Serenata à Chuva. Desta década, destaco ainda O Pai da Noiva e Gata em telhado de Zinco Quente.

A partir dos anos 60 foi sempre a descer e o maravilhoso mundo em technicolor da MGM perdia-se naquela terra quente, Culver City.

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