Podia ter Esperado por Agosto… e, já agora, podia-se ter feito um filme

Tecnicamente, César Mourão, Júlia Palha e companhia fizeram um “filme”. Mas só tecnicamente.

ipsilon-papel,cultura,ipsilon,critica,cinema,culturaipsilon,
Fotogaleria
Esta quinta-feira nos cinemas: Podia Ter Esperado por Agosto. Mas porquê?
ipsilon-papel,cultura,ipsilon,critica,cinema,culturaipsilon,
Fotogaleria
Esta quinta-feira nos cinemas: Podia Ter Esperado por Agosto. Mas porquê?
ipsilon-papel,cultura,ipsilon,critica,cinema,culturaipsilon,
Fotogaleria
Esta quinta-feira nos cinemas: Podia Ter Esperado por Agosto. Mas porquê?
ipsilon-papel,cultura,ipsilon,critica,cinema,culturaipsilon,
Fotogaleria
Esta quinta-feira nos cinemas: Podia Ter Esperado por Agosto. Mas porquê?
Carro
Fotogaleria
Esta quinta-feira nos cinemas: Podia Ter Esperado por Agosto. Mas porquê?
,Podia Ter Esperado por Agosto
Fotogaleria
Esta quinta-feira nos cinemas: Podia Ter Esperado por Agosto. Mas porquê?
Ouça este artigo
00:00
03:41

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Drones não faltam em Podia Ter Esperado por Agosto. Do plano inicial em voo à retaguarda sobre montes e vales e rios àquele em que a câmara montada na maquineta viravolteia entre as personagens, em plena praça de uma aldeia minhota, antes se elevar para uma vista geral em picado que é como uma assinatura (do drone, claro), ou como o momento culminante de um anúncio publicitário – só falta aparecer a “assinatura”, o logótipo, do anunciante, que podia ser uma cervejeira ou uma operadora de telecomunicações, aí Podia Ter Esperado por Agosto não se faz esquisito, as suas imagens, mesmo as mais “espectaculares”, são tão vagas que se prestariam a tudo.

É o mais dramático deste filme equívoco e equivocado, já nem relevar de uma influência da televisão, que apesar de tudo tem uma diversidade de registos e programas, mas apenas do que acontece entre os programas: a publicidade. Dir-se-ia feito por gente que não apenas nunca viu um filme na vida nem faz ideia de tudo o que o cinema pode ser como passa horas grudada na televisão e nem faz zapping quando chegam os anúncios porque há aí umas publicidades que estão brutais – e com uns planos de drone do caraças.

Um zénite do “audiovisual”, portanto. Suspeitamos que o mais importante de Podia ter Esperado por Agosto se continue a passar na televisão: a sua campanha publicitária.

A velha solução “audiovisual” para arrancar as pessoas de frente do televisor e levá-las à sala de cinema, oferecendo-lhes figuras da televisão (ou, o que vai dar ao mesmo, das revistas e da Internet do “social”) e um objecto mais ou menos informe que não corra o risco de não se parecer com o que se vê na televisão. Passamos duas horas de projecção a tentar perceber a razão da existência de uma coisa assim, tão sem graça e tão sem vontade de ser alguma coisa (e tão sem talento, mas a ausência de talento até pode nem ser impeditiva da existência de uma vontade e de uma certa graça), até que só sobra uma hipótese plausível: o filme existe apenas porque tem de existir um objecto de características mais ou menos aproximáveis ao produto anunciado pela publicidade. Check.

Tecnicamente, Podia ter Esperado por Agosto é um “filme”. Mas ao contrário da televisão, que existe para vender coisas a posteriori, no cinema a venda faz-se a priori, e quando entra na sala o espectador já comprou o que tinha a comprar, o bilhete, as pipocas e o refrigerante. No papel, a armadilha é perfeita, e este é um filme-armadilha. “Quem paga adiantado é sempre mal servido”, dizia o velho João de Deus, que estaria certamente a pensar nalguns filmes.

Uma armadilha, uma coisa qualquer: Podia ter Esperado por Agosto tem um argumento, a história de um sacristão de uma aldeia de Viana do Castelo (César Mourão, que é também o realizador) apaixonado por uma “betinha” de Lisboa (Júlia Palha), que parece nascido do brainstorming de um grupo de crianças de 12 anos numa aula de Português em que tivessem por tarefa uma redacção colectiva, uma realização de uma total inépcia cómica ou dramática, uma completa falta de sentido de ritmo narrativo ou visual, personagens de traço grosso que dão pena dos actores (sobretudo os mais velhos, Luísa Cruz ou Manuel Cavaco, incapazes de não darem o melhor de si próprios), e uma vedeta, o próprio César Mourão, que é tão liso, tão desprovido de graça ou de carisma, como o Mourão que conhecemos da televisão.

Tem uma atenuante face a outros exemplos recentes, os Cajós e os Filmes do Caraças, que é não ser alarve, mas a pobreza do mundo que o filme propõe aos espectadores (e nem falamos de um mundo “sociológico”, mas de um mundo “cultural”, e de cultura de “entretenimento”) é assustadora. Por norma, mesmo os maus filmes nos fazem pensar noutros filmes, em músicas, em livros, em pintura, deixam-se penetrar pelo mundo cultural em que vivem os que os fazem, e pelas coisas de que gostam. Neste, pensamos em telenovelas e reclamos publicitários, e nem pelos montes, vales, rios e aldeias do Minho o filme dá mostra de ter algum interesse especial.

Foto
Sugerir correcção
Ler 20 comentários