Ataque contra Trump terá consequências políticas “imensas”
“O facto de Trump ter erguido o punho vai tornar-se um novo símbolo”, disse o historiador presidencial Douglas Brinkley.
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Tiros, gritos e depois sangue: como foi o ataque no comício de Trump
Depois de ser atingido e se baixar, com um grupo de pessoas de fatos escuros dos serviços secretos sobre si para o proteger e uma gigante bandeira americana em fundo, Donald Trump levanta-se, sangue na orelha e na cara, um punho erguido, e dirige-se aos seus apoiantes: “fight, fight, fight”.
Na rede social X (ex-Twitter), as três palavras foram logo um trending topic, sublinhava Gabriela Greiniger, da Universidade da Geórgia, que estuda a direita radical e erosão democrática. Algumas fotografias do momento, tiradas de baixo (a imprensa teve de se baixar também) são “icónicas”, na classificação do Washington Post.
“É difícil imaginar um momento que tenha simbolizado mais completamente a ligação visceral de Trump com os seus apoiantes, e o seu domínio da idade mediática moderna”, escreveu o jornalista Shawn McCreesh no New York Times.
A tentativa de assassínio do candidato presidencial e ex-Presidente Donald Trump foi condenada pelo Presidente, Joe Biden, e vários democratas.
Mas irá mudar o tom de uma campanha já muito polarizada e usando linguagem violenta, algo que tem sido apontado, ao longo dos anos, ao campo do próprio Donald Trump (cujos apoiantes têm ameaçado juízes, testemunhas e procuradores em todos os processos em que é visado, e ainda alguns responsáveis eleitorais na sequência das eleições de 2020).
A historiadora Emma Shortis escreveu, no site The Conversation, que “a ameaça de violência tornou-se central para a imagem política de Trump, o seu apelo e a sua base.”
Republican presidential candidate former President Donald Trump raises his fist as he is rushed off stage after an assassination attempt during a campaign rally in Butler, Pa. @apnews pic.twitter.com/VoAYqRC4QV
— Evan Vucci (@evanvucci) July 14, 2024
As estimativas gerais são, no entanto, de que o ataque acabe por beneficiar o candidato republicano.
“Há algo no espírito americano que gosta de ver firmeza e coragem sob pressão e o facto de Trump ter erguido o punho vai tornar-se um novo símbolo”, disse o historiador presidencial Douglas Brinkley ao Washington Post. “Ao sobreviver a uma tentativa de assassínio, torna-se um mártir, porque consegue uma onda de simpatia pública.”
Trump, diz o jornal, “está muitas vezes mais confortável — e é mais eficaz — quando faz tanto de mártir como de vítima, e os disparos de sábado lançam-no naturalmente para esse papel”.
No Post, Brinkley lembrava que este ataque contra Trump fazia lembrar outro, em 1902, na véspera da convenção republicana no Milwaukee, contra Theodore Roosevelt, em que depois de ser atingido a tiro no peito, o ex-Presidente continuou a discursar, dizendo que era preciso mais do que aquela bala para o matar, antes de deixar que o levassem para o hospital.
“As consequências políticas disto serão enormes, e vão beneficiar Donald Trump, que respondeu a ser atingido a tiro do mesmo modo que Teddy Rossevelt”, declarou um antigo estratega republicano e crítico de Trump Steve Schmidt, ao Post.
Roosevelt venceu a nomeação na convenção republicana, mas perdeu as eleições para Woordrow Wilson.
O caso de Bolsonaro
Outro caso que foi prontamente recordado após Trump ser atingido foi o do então candidato à Presidência do Brasil Jair Bolsonaro, em 2018. No Brasil, tal como nos Estados Unidos, a violência foi vista como um seguimento de um clima político duro em que adversários são tratados cada vez mais quase como inimigos.
No dia do ataque, tinham sido revelados dados de sondagens que mostravam que Bolsonaro tinha o maior índice de rejeição de todos os candidatos, o que lhe traria problemas na segunda volta.
O dilema que então enfrentaram as outras campanhas – como atacar um homem que acabou de quase ser morto? – será também agora o dilema democrata, tirando por momentos o foco da questão que tem dominado o campo nas últimas duas semanas, os efeitos da idade de Biden e se este está preparado para uma campanha difícil.
Apesar da diferença de idades entre Trump e Biden não ser tão significativa (78 e 81), Trump conseguiu ao longo da sua carreira política mostrar uma imagem de vitalidade (apesar de se saber que a sua agenda enquanto Presidente era muito menos carregada do que o habitual) vê ainda esta característica sua reforçada pela reacção ao disparo e em contraste com um adversário mais frágil.