Espanha-Inglaterra: favoritos contra os milagres

A “roja” é a escolha consensual para a melhor equipa do Euro 2024, mas ninguém esperava que os britânicos chegassem tão longe. Quem sairá vencedor da final em Berlim?

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O troféu no Estádio Olímpico de Berlim Alex Pantling/UEFA/Getty Images
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Relações entre Espanha e Inglaterra? Como se diria numa certa rede social, “é complicado”. São monarquias e aliados na NATO, mas os dois países têm uma história de conflitos e disputas, uma das quais ainda viva (mais simbólica do que outra coisa), localizada no sul da Península Ibérica, um pedaço de terra e rocha chamado Gibraltar. Também discutem no futebol quem tem o melhor campeonato do mundo, La Liga ou Premier League e, neste domingo, em Berlim (20h, RTP1), vão discutir quem tem a melhor selecção da Europa. O quarto título da Espanha (já ganhou em 1964, 2008 e 2012), ou o primeiro da Inglaterra, uma destas frases será verdadeira depois de concluído o Euro 2024.

Exactamente um mês depois de ter arrancado com um Alemanha-Escócia e, depois de feita a selecção entre as 24 selecções participantes, somos brindados com um Espanha-Inglaterra, que não é, de todo, uma final inesperada. Mas este último mês de competição legitimou um dos finalistas como o maior candidato ao título, a Espanha, e o outro, a Inglaterra, como um candidato a mais um milagre, tendo em conta o seu percurso.

A verdade é que há um grande consenso sobre quem foi a melhor equipa do Euro 2024. A Espanha foi a única selecção que ganhou todos os seus jogos da fase de grupos (e era o “grupo da morte”, com Croácia e Itália) e resolveu todas as suas eliminatórias sem ter de ir ao desempate por penáltis. Bom futebol, estruturado e atacante, uma equipa que sabe o que está a fazer e como reagir à adversidade – ganhou de reviravolta à Geórgia e à França.

Se a Espanha não era a maior favorita ao título, agora é. E muito deve ao seu treinador Luis de la Fuente, que, em 20 jogos como seleccionador (ficou com o lugar de Luis Enrique em Dezembro de 2022), ganhou uma Liga das Nações (a final com a Croácia foi no seu quarto no cargo), qualificou-se para o Euro 2024 e chegou à final do torneio continental. Antigo lateral com carreira feita no Athletic Bilbau, De la Fuente estava nos sub-21 espanhóis quando foi o escolhido para reanimar a “roja” depois do grande fracasso que fora o Mundial de 2022 (eliminada por Marrocos nos “oitavos”).

E esse passado de treinador de formação está bem presente nesta Espanha, como a aposta sem reservas em Lamine Yamal, o prodígio formado em La Masia que marcou um golo fenomenal nas “meias” com a França. Deu o papel principal ao jovem que completou 17 anos no dia anterior a esta final, mas, claro, a Espanha não é apenas o jovem craque do Barcelona por quem já ofereceram 250 milhões. Há Nico Williams, Pedri (que não jogará a final), Cucurella, Dani Olmo (excelente Europeu para o homem do Leipzig), Rodri, Fabian Ruíz, Morata e todos os outros – já foram utilizados 25 e todos cumpriram o seu papel.

De milagre em milagre

Já se sabe que a Inglaterra entra em todos os torneios a transbordar de optimismo. Este Euro 2024 não fugiu à regra, com uma confiança total numa equipa com o melhor do que a Premier League (e não só) tinha para oferecer. Os dias do Euro foram passando e esse optimismo foi-se transformando em desconfiança. Será que esta Inglaterra iria chegar longe? De exibição cinzenta em exibição cinzenta, com alguns momentos de brilhantismo e grande fortuna pelo meio, aqui está a equipa dos “três leões” no palco da decisão.

Não se esperava que fosse assim uma equipa com Jude Bellingham, Phil Foden, Bukayo Saka, Kobbie Mainoo, Declan Rice. ou Harry Kane. O que a Inglaterra sofreu para aguentar um empate com a Dinamarca (1-1) ou o que não fez para evitar um empate com a Eslovénia deu para seguir em frente e, depois, vieram os milagres. O milagre da bicicleta de Bellingham a salvar os britânicos nos últimos segundos dos oitavos-de-final com a Eslováquia, o milagre da inspiração de Saka nos “quartos” frente à Suíça e o milagre ou a lucidez de Watkins nas “meias” com os Países Baixos.

Gareth Southgate, o seleccionador, é o alvo de todas as críticas pelo cinzentismo britânico, pontuado por algumas escolhas duvidosas e equívocos tácticos e estratégicos. Mas também é justo reconhecer que este antigo central internacional já teve o seu golpe de asa neste Europeu (quando tirou Foden e Kane para meter Palmer e Watkins, assistente e marcador do golo que deu o acesso à final).

E também é justo reconhecer que, com Southgate (no cargo desde 2016), a Inglaterra esteve em todos os torneios desde então (algo que nem sempre acontecia) e com carreira longa – meias-finais no Mundial 2018, “quartos” no de 2022, mais as duas finais em dois Europeus consecutivos. Em 2020, só perdeu nos penáltis com a Itália, em 2024 veremos se é desta que o futebol regressa a casa, depois de um triunfo no Mundial 1966 que continua a ser o único do país que diz ter inventado o futebol.

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