Os rankings: transparência e verdade ou ilusão?

Se mais nada resultar dos rankings, que sirvam para relevar o papel insubstituível da Escola Pública como elevador social.

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A Educação é sempre notícia por muitas e dispares razões. Quero acreditar que essa apetência se deve à convicção de que a educação é a real mola mestra que pode catapultar o país para outros níveis de desenvolvimento.

Em cada ano, por esta altura, voltamos a olhar para as Escolas. Desta vez, um olhar sob o prisma do desempenho dos alunos que realizam exames no final do ensino secundário.

Mas esta é também uma oportunidade para, com a sociedade, abordar a necessidade duma reflexão mais alargada sobre o futuro da educação. Uma reflexão, atrevo-me a escrever, em que todos somos desafiados a participar. Uma reflexão sobre o papel do professor e a importância que lhe é devida. Uma reflexão sobre a urgência de um olhar atento sobre os ambientes educativos. Uma reflexão que clarifique, face à atenção que os rankings, anualmente, atraem para a Escola, o papel que dela se espera enquanto espaço promotor de igualdade.

Aquilo que, todos os dias, se faz na Escola, preparar os novos cidadãos para uma mudança constante e dinâmica e também garantir que o conhecimento se renova, exige um esforço de transparência e verdade. Considerando que transparência é o acesso a informação relevante e que a verdade é o respeito pela realidade. Só assim podemos falar de confiança cidadã!

Ora, se olharmos para os rankings de modo muito simplista poderemos correr o risco de criar a ilusão de que os factos que eles nos trazem são os válidos... Quando falamos de resultados, apreciando-se o sucesso, estamos a valorizar o esforço e a superação ou estamos, simplesmente, a fazer a seriação de escolas? Se fazemos seriação, estamos a garantir a transparência e a verdade como as enunciei?

Avaliar uma Escola requer conhecer resultados e conhecer as realidades que os produzem para não corrermos o risco de comparar realidades não comparáveis e tirar conclusões precipitadas... É que a sociedade pode desresponsabilizar-se perante uma apreciação monocromática. Avaliar com seriedade e responsabilidade uma Escola e a Educação obriga à compreensão das instituições e da sociedade. Obriga à avaliação dos professores, das necessidades de formação e a uma avaliação integrada dos alunos. Não basta colocar as escolas numa determinada ordem. É preciso entender os seus contextos.

É ainda preciso que não se confundam as políticas educativas com as políticas sociais. As Escolas realizam as duas, todavia, as segundas devem acontecer previamente e paralelamente às primeiras. Na escola, aspira-se alcançar uma educação de qualidade para todos, não prejudicando a garantia de igualdade de oportunidades e a correção das desigualdades. A construção de saberes adequados aos tempos que se vivem e a preparação de cidadãos responsáveis e informados assim o exige.

Nas Escolas, sobretudo nas da rede pública, mais inclusivas, cada aluno é considerado de acordo com as suas especificidades sob uma pedagogia adequada. São as escolas públicas que acolhem, por exemplo, os alunos provenientes dos quatro cantos do mundo que têm chegado aos milhares nos últimos anos. Que nos dizem os rankings, apesar dos esforços dos últimos anos, sobre isso?

A excelência que os rankings nos trazem, fruto, naturalmente, do esforço de muitos, é conhecida. Pode a receita para essa excelência utilizada ser aplicada em todos os contextos? A ligação às famílias e às comunidades, a democratização no acesso e no sucesso, a motivação dos estudantes, as recusas da mediocridade têm igual grau de adesão em todos os contextos do nosso país?

Os rankings que consideram o contexto, tentam regular as discrepâncias público/privado, mas não tem a visibilidade que os dados crus conquistam. Na verdade, muitas escolas privadas vivem para os rankings, acolhendo e mantendo apenas aqueles que terão bons resultados nos Exames, apesar de a sua população estudantil ser já de contexto privilegiado. Se mais nada resultar dos rankings, que sirvam para relembrarmos esta realidade e relevar o papel insubstituível da Escola Pública como elevador social.

Um mundo em acelerada mudança deveria centrar-se na dignidade humana, na capacidade de ler e compreender o mundo contemporâneo e na busca das respostas adequadas aos desafios do desenvolvimento humano. Olhar de modo simples para seriação de escolas com base em desempenhos em provas de exame, realizadas por alguns alunos, não será, certamente, o caminho para combater o insucesso e o abandono escolar e promover a qualidade.

Cinfães 8 de julho de 2024

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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