Ingleses estão a esticar a corda, mas com Verbruggen não dá mais

Jogo após jogo, os ingleses têm baixado um patamar, esticando mais a corda da fortuna e dos triunfos sofridos. Na meia-final, não podem esticar mais, porque vão ter à frente o Diogo Costa neerlandês.

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Verbruggen em acção no Países Baixos-Turquia Fabian Bimmer / REUTERS
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Tem sido giro o percurso da Inglaterra no Euro 2024. Primeiro, um triunfo por 1-0. Depois, baixaram para um empate com golos. A seguir, um empate sem golos. Na fase a eliminar, começaram com um empate só resolvido no prolongamento. E seguiram com um empate só resolvido nos penáltis.

Jogo após jogo, os ingleses têm baixado um patamar, no sentido em que esticam mais a corda da fortuna e dos triunfos sofridos. Nesta quarta-feira, não podem esticar mais – a seguir a um triunfo nos penáltis não há nenhum patamar antes da derrota.

Na meia-final do Europeu, frente aos Países Baixos (20h, SIC), a selecção inglesa tem de parar de esticar a corda, porque ela vai partir – sobretudo se levarem a coisa para os penáltis.

O Diogo Verbruggen e o Bart Costa

Na selecção dos países baixos joga um rapaz chamado Bart Verbruggen, que tem sido um dos melhores jogadores da prova. E tem um currículo ainda curto, mas com um detalhe que pode ser útil. Em 2023, na Liga Conferência, defendeu os três pontapés de penálti batidos pelo Ludogorets, numa noite “à Diogo Costa”.

O Costa dos Países Baixos tornou-se o primeiro guarda-redes em 35 anos a fazer uma clean sheet num desempate por penáltis e, apesar de o guarda-redes de 21 anos ser destacado sobretudo pelos recordes de juventude, o que já fez na baliza neerlandesa mereceria maior reconhecimento. Dono de reflexos tremendos, já fez defesas de alto nível, sobretudo em remates à “queima-roupa”. Com a Turquia, por exemplo, foi absolutamente monstruoso.

Verbruggen tem mostrado que está na rota para ser um dos melhores do mundo, até pelo jogo de pés de primeira água que exibe na selecção e no Brighton – sim, foi contratado por De Zerbi, como não poderia deixar de ser.

A tranquilidade com que manobra a bola em zonas próximas da sua baliza, aliada a uma capacidade de passe tremenda, tem sido suficiente para mostrar o conforto de Verbruggen em construção. E já se tornou, neste Europeu, o recordista de passes e acerto de passes desde 1980 (ano até onde há registos), com 39 em 40.

Verbruggen tem podido exibir também capacidade nos cruzamentos e controlo de profundidade – e muito os neerlandeses têm precisado dele nisto –, pelo que é, aparentemente, um guarda-redes sem fraquezas claras.

Os neerlandeses e um pinheiro

Mais fraquezas são visíveis nas equipas a nível colectivo. Começamos pelos ingleses, porque com eles é fácil: jogam pouco mais do que nada.

A equipa troca a bola na zona defensiva sem capacidade para verticalizar e só quando consegue activar Saka é que consegue tirar qualquer coisa extra. Os laterais estão a participar pouco, Kane está claramente cansado, o segundo médio – e já foram vários – está a ter pouca chegada e mesmo Bellingham, apesar de já ter sido decisivo, está longe do seu nível. Nada parece estar bem trabalhado ali.

No caso dos Países Baixos a situação é outra. A equipa não parece imbatível, de todo, até pela permeabilidade considerável nas costas da linha defensiva, mas ataca melhor.

E parece uma equipa que melhora sempre que torna o seu jogo menos complexo e mais rudimentar: que no caso dos neerlandeses significa levar a jogo o “pinheiro” Weghorst e tê-lo a ganhar bolas aéreas e a centrar atenções em si, libertando Gakpo e Depay.

Sim, Gakpo tem conseguido ser finalizador, mas a equipa não tem sido assim tão capaz de o incluir na criação ofensiva, deixando-o muitas vezes colado ao corredor.

Tal como Portugal, os neerlandeses colocam o lateral por dentro, para deixarem o corredor a Gakpo – que é o Rafael Leão ali do sítio –, mas o jogador do Liverpool tem sido a antítese do do AC Milan: Leão foi tremendo a criar, mas muito mau a definir os lances, enquanto Gakpo nem tem sido muito forte a criar, mas insaciável a definir.

Estas equipas têm tido quase sempre mais bola do que os adversários e ambas já sofreram bastante com a profundidade. Curiosamente, são as duas muito fortes nisso, o que pode sugerir problemas à que mais tentar tomar conta do jogo.

De um lado, há Gakpo, Simons e Malen. Do outro, há Foden, Saka e Bellingham. Há matéria suficiente para ferir o adversário caso o jogo se abra. Pode ser giro.

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