Wout Weghorst, el bobo, um homem de velinhas e velhinhos

Fora do campo, Wout acende velas na igreja e passeia com idosos solitários. Lá dentro, pode ter seduzido Koeman a aplicar o “Woutball” – ou, em português, “acertar com a bola na cabeça do pinheiro”.

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Wout Weghorst, avançado dos Países Baixos Leszek Szymanski / EPA
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Qué mirás, bobo? Anda pa' alla" [estás a olhar para onde, estúpido? Põe-te a andar...] foi uma frase que ficou famosa no Mundial 2022, quando Lionel Messi se dirigiu, com altos níveis de ira, a Wout Weghorst, avançado neerlandês que estava a passar. A tirada passou a estar em T-shirts, canecas, memes e músicas e Weghorst ficou mais famoso pela condição de el bobo do que propriamente pelos feitos futebolísticos. Mas talvez o neerlandês não seja assim tão bobo.

Weghorst, que garantiu neste domingo a vitória dos Países Baixos frente à Polónia, no Euro 2024, é uma personagem bastante rica – no futebol, com uma aura de jogador que compensa a falta de talento com trabalho, e fora dele, com um perfil solidário e bondoso. Comecemos pela bola.

Futebolisticamente, não há forma de fugir: trata-se de um verdadeiro “pinheiro”, como diria Paulo Sérgio, quando procurava essa espécie para o seu Sporting.

Com quase dois metros, predicados técnicos limitados (ainda que com um aceitável jogo de apoios frontais), pouca velocidade e reduzida mobilidade, Weghorst vale, sobretudo, pelas virtudes a trabalhar na área, quer a nível de movimentação, quer na finalização e jogo aéreo. E não se trata apenas de uma mera “viga”, já que Weghorst chegou a contratar um treinador de voleibol para lhe melhorar o tempo de salto.

“Quero um avançado com estatura. Falta-nos um pinheiro, com 1,90 metros, que a gente acerte na cabeça dele e a bola vá para a baliza”, desejava Paulo Sérgio, que teria aberto uma garrafa de champanhe se lhe tivessem oferecido um Weghorst. Ele é grande, sabe saltar e sabe finalizar – no fundo, é tudo o que Paulo Sérgio queria e tudo o que Ronald Koeman pode vir a querer.

O que fazer no ataque?

Depois de 20 remates frente à Polónia – e apenas quatro à baliza –, a discussão já foi lançada nos Países Baixos: será que Ronald Koeman tem de apostar no “Woutball”, desenhando uma equipa que jogue mais para Wout?

O volume ofensivo neerlandês, que foi bastante elogiável, está refém de alguém como Weghorst, já que Depay, Gakpo e Simons não são tremendos finalizadores – Depay e Gakpo enviaram para o lixo mais de meia dúzia de boas oportunidades.

E ter Weghorst no lugar de Depay limitaria a produção global da equipa? Talvez sim, talvez não. Depay jogou bastante fora da zona central do ataque, tentando dar soluções em apoio e nas alas, pelo que o perfil de Weghorst seria muito diferente.

Por um lado, perde-se na mobilidade, técnica, velocidade e capacidade associativa de Depay, que se dá menos às marcações. Por outro, ganha-se, com Weghorst, o jogo aéreo, a finalização e a capacidade de fixar marcações, até abrindo espaços para colegas.

Pela selecção, Weghorst tem 12 golos em 34 jogos, mas marca um golo pela selecção a cada 107 minutos. Estamos a falar de quase um golo por cada 90 minutos de futebol, uma média bastante assinalável, até tendo em conta que entra quase sempre na parte final das partidas – em 34 jogos, apenas em nove jogou mais de 60 minutos.

As velinhas e os velhinhos

Valerá a pena? Não há resposta certa. Mas se os Países Baixos continuarem a produzir o que produziram e a finalizar como finalizaram, então Koeman bem pode ir à igreja acender uma velinha pelo sucesso dos Países Baixos.

E pode ser que por lá se encontre com Weghorst e possam, juntos, discutir o tema.

Weghorst, de 31 anos, é religioso e gosta de ir acender velas na igreja, bem como entregar-se à causa social através de apoio a idosos.

“As caminhadas dão-me paz e satisfação. Basta sair para fazer uma caminhada e conversar um pouco durante o caminho – eles [idosos] ficam felizes e eu também. Fiquei chocado quando soube a quantidade de idosos que estão sozinhos. Tocou-me e quis fazer algo”, contou, citado pelo Guardian, referindo-se à fase da pandemia em que começou esse projecto pessoal.

Caro Messi, talvez Weghorst não seja assim tão bobo...

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