A Última Sessão de Freud: nem Freud explica

Ainda há quem produza e lance filmes assim. Ainda há quem os veja. Quem? À procura de quê?

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Em A Última Sessão de Freud só vemos bonecos
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Em A Última Sessão de Freud só vemos bonecos
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O facto de existirem em sala filmes como A Última Sessão de Freud é uma partida da realidade. Ainda há quem os produza e lança, ainda há quem os veja. Quem? À procura de quê? É o tipo de anacronismo que se consome — mais justo para descrever do que "se vê" — de forma fortuita quando o frio ou o excesso de calor colam a passividade e a preguiça aos pequenos ecrãs. Antes de a vigília se render.

Anthony Hopkins, em modo automático, é Freud. Corre o ano de 1939, a II Guerra Mundial existe há dois dias. Algumas semanas depois, suicidar-se-ia por não suportar as dores causadas pelo cancro, mas nesses dias em Londres teve um encontro com C. S. Lewis, professor, escritor, romancista — isto é fictício, é uma espécie de wishful thinking em forma de peça de teatro, da autoria de Mark St. Germain, tal como o suposto encontro entre Marilyn Monroe e Einstein serviu a Terry Johnson para escrever Insignificance, que Nicolas Roeg filmou em 1985. A raiz é um desejo infantil de acesso a pop stars, de mexer com as vidas delas, de as ter ali à mercê para com elas se fazer o que se quiser. Junta-se a isso um tema adulto e liminar. Em A Última Sessão de Freud, os dois, Freud e C. S. Lewis (Matthew Goode), discutem a (des)crença em relação à existência de Deus, a forma como, através de percursos simétricos, cada um tomou uma posição perante o silêncio divino.

Esse caminho é ilustrado por flashbacks que psicanalisam os pesadelos e fantasmas de um e de outro, mostrando o que levou C.S. Lewis a acreditar na revelação e a considerar que até a fantasia pagã é mão de Deus (ele é o homem de As Crónicas de Nárnia) e Freud a ficar inflexível no círculo da razão e da ciência há ainda um subplot que senta Freud no divã: a dependência de Anna Freud do seu pai.

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Anthony Hopkins (Freud) e C. S. Lewis (Matthew Goode)

Esses flashbacks tiram o filme esporadicamente do mesmo cenário, a casa do pai da psicanálise em Londres. Mas nada se mexe: só se sublinha a imobilidade da matriz teatral. As figuras têm a condição de títeres, bonecos, não há autodeterminação para elas no horizonte.

Quando o espectador acordar em algum momento de A Última Sessão de Freud, reparará que as inflexões de Anthony Hopkins, as hesitações e as pausas, suposto indicarem que ali existe personagem, também não saíram do mesmo lugar.

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