Burberry avança para despedimento colectivo perante a crise nas vendas

Apesar de a empresa não ter confirmado quantos postos de trabalho estarão em risco, o The Telegraph avança que serão cerca de 400 pessoas afectadas.

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Desfile da Burberry na Semana da Moda de Londres, em Fevereiro deste ano Reuters/HOLLIE ADAMS
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A marca de luxo britânica Burberry prepara-se para avançar com um despedimento colectivo, noticia o The Telegraph. Apesar de não haver confirmação sobre quantos postos de trabalho podem estar em risco, a etiqueta tem lidado com problemas financeiros no último ano e procurou consultoria externa para ajudar a ultrapassar a queda constante de vendas.

Os funcionários da Burberry foram informados dos despedimentos durante uma reunião por Zoom no final de Junho, onde a empresa explicou que aqueles afectados pelos cortes seriam despedidos ou teriam de voltar a concorrer para a mesma vaga, detalha o jornal britânico, que não esclarece como terá obtido a informação.

Os cortes de pessoal enquadram-se na consultoria de 45 dias que está a decorrer, depois de a empresa, conhecida pelo famoso padrão xadrez, ter perdido mais de um terço do valor de mercado desde o início do ano. Por agora, sabe-se que o processo de despedimento colectivo está a ser negociado pelo sindicato para possíveis acordos com trabalhadores, sendo que poderão estar em causa cerca de 400 postos de trabalho.

A Burberry não quis comentar, nem confirmar a notícia ao The Telegraph. A marca britânica empregou, durante o ano fiscal de 2023/2024, cerca de 9000 pessoas a tempo inteiro no mundo todo ─ no Reino Unido, onde está sediada, tem presença em Londres e em Leeds. Espera-se que os despedimentos afectem especialmente os escritórios britânicos.

Este não é o primeiro despedimento colectivo na empresa, que cortou 500 postos de trabalho em 2020 para recuperar 55 milhões de libras (65 milhões de euros) na sequência da crise do luxo, potenciada pela pandemia de covid-19.

No início do ano, face a uma desaceleração das vendas, a Burberry anunciou que o lucro operacional para este ano deverá estar entre os 410 milhões de libras (484 milhões de euros) e os 460 milhões de libras (543 milhões de euros). Ao longo de 2023, as acções caíram 39%.

Como resultado, foi anunciado que o director-executivo, Jonathan Akeroyd, dispensava o bónus anual de 2,3 milhões de libras (2,72 milhões de euros), que devia receber em Maio. Quando chegou à Burberry, em 2022, vindo da Versace, recebeu um incentivo de seis milhões de libras (7,10 milhões de euros) para levar a marca de volta à ribalta ─ até agora ainda não conseguiu fazê-lo e, na imprensa especialista, diz-se que a permanência no cargo poderá estar em risco.

No Reino Unido, a marca tem-se queixado dos efeitos do Brexit e Jonathan Akeroyd chegou a propor uma solução para incentivar os consumidores estrangeiros. A ideia seria criar uma espécie de vales especiais para os clientes de luxo, de forma a compensar as taxas existentes ─ na União Europeia, o IVA é devolvido aos estrangeiros. A sugestão não fez eco junto do então primeiro-ministro Rishi Sunak, mas resta saber se o recém-eleito Keir Starmer terá uma opinião diferente.

No lado criativo, a Burberry, fundada em 1856, também tem enfrentado alguma instabilidade. Em Setembro de 2022, o aclamado criador italiano Riccardo Tisci saiu para dar lugar ao britânico Daniel Lee na liderança criativa. O objectivo era tornar mais jovem a etiqueta e o designer tentou fazê-lo com cores arrojadas, descolando-se do classicismo das gabardines bege. As colecções, apesar de visualmente atractivas, não têm atingido o sucesso comercial esperado.

Resta saber se Daniel Lee conseguirá manter-se no cargo numa altura tão volátil para a moda, em que a direcção criativa é pressionada pelo peso comercial das criações. Por exemplo, Pierpaolo Piccioli saiu recentemente da Valentino depois de 25 anos na liderança para ser substituído pelo mediático Alessandro Michele. Virginie Viard também deixou a Chanel e continua sem sucessão.

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