Beneficiários de bolsas de estudo com melhores indicadores

Cursos com mais bolseiros têm taxas mais baixas de abandono e mais elevadas de conclusão dos estudos no prazo previsto.

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As investigadoras recomendam mais e melhores apoios financeiros, pois são essenciais ao sucesso dos estudantes mais desfavorecidos Manuel Roberto (Arquivo)
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À primeira vista parece uma contradição: a literatura diz que ter baixas condições económicas é uma das razões que contribuem para o abandono do ensino superior e quem beneficia de bolsas de estudo estará nessas condições, mas o que o estudo agora revelado nos diz é que “os cursos com maior proporção de bolseiros têm menores taxas de abandono e maiores taxas de permanência e conclusão no tempo esperado”. Parece uma contradição, mas não é, e a conclusão só reforça a ideia de que o apoio financeiro do Estado é essencial, defende Orlanda Tavares.

Ao longo de todo o estudo são vários os factores referidos como estando associados a uma maior ou menor taxa de abandono (ser mulher, por exemplo, é um factor que contribui para menores taxas de abandono, enquanto ser trabalhador-estudante ou estrangeiro tem influência no sentido oposto) e o ter acesso a uma bolsa de estudo surge sempre como condição para que as taxas de abandono se reduzam. A explicação geral pode ser encontrada no documento: “Apesar de o estatuto de bolseiro poder ser entendido como um indicador do estatuto social e económico dos estudantes que esperaríamos ser um factor potenciador do abandono, o que estes resultados revelam é que ter bolsa funciona como factor protector do abandono e promotor da permanência”, pode ler-se.

Ou, como refere uma das coordenadoras do estudo, Orlanda Tavares: “O que os resultados nos mostram é como o apoio financeiro é fundamental. Os dados indicam que quando os alunos têm esse apoio são mais bem-sucedidos e isto significa que existiriam potenciais candidatos que com apoio financeiro poderiam singrar, daí o alargamento das bolsas e o aumento das mesmas ser uma das recomendações que fazemos. Ter, por hipótese, bolsas que permitam cobrir não só as propinas, mas outas despesas que estão a ficar cada vez mais incomportáveis, como o alojamento”, defende a investigadora.

O que se propõe, por exemplo, é a necessidade de rever os critérios de atribuição de bolsas, para incluir pessoas que, neste momento, ficam excluídas desse apoio. “O facto de estes estudantes terem sucesso é um indicador de que é necessário continuar a apoiar e alargar esse apoio. Há muitos estudantes que se candidatam e não conseguem obter bolsa, por causa dos rendimentos da família, mas isso não significa que não tenham dificuldades económicas, e se alargássemos a abrangência, poderíamos incluir mais pessoas”, refere Orlanda Tavares. Até porque, como também se refere no estudo: “Essa protecção do abandono oferecida pela bolsa é menor no pós-pandemia.”

Outra característica associada aos bolseiros é que têm maior tendência a concluir os cursos “sem atrasos”. E isto também se explica no relatório: “A manutenção de uma bolsa de estudo tem requisitos subjacentes em termos de número de ECTS [sigla inglesa para Sistema Europeu de Transferência e Acumulação de Créditos] concluídos com sucesso em cada ano, que criam incentivos para a obtenção do diploma dentro do tempo esperado”. O não cumprimento destes requisitos pode levar à perda das bolsas, o que torna estes estudantes “mais responsabilizáveis”, acrescenta a investigadora.

Tudo somado, os bolseiros surgem como um indicador positivo na possibilidade de sucesso no ensino superior e o resumo dos factores que mais contribuem para reduzir as taxas de abandono e ter mais garantias de conclusão dos cursos nos prazos previstos não podia, por isso, deixar de incluir estes estudantes, conforme se lê no documento: “Os factores determinantes para o sucesso académico incluem o género, com as mulheres a apresentar taxas de abandono menores e taxas maiores de permanência e conclusão; a qualificação dos pais, com estudantes cujos pais têm ensino superior a apresentar melhores resultados académicos; e a condição socioeconómica, com bolseiros a revelar menores taxas de abandono”.

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