“Magic Mike”, a última barreira para Portugal
Formado no Paris Saint-Germain, Mike Maignan já foi considerado o melhor guarda-redes da Ligue 1 e da Serie A, e tem sido dos poucos jogadores franceses em destaque no Euro 2024.
Do lado de Portugal, é inequívoco que a presença da equipa comandada por Roberto Martinez nos quartos-de-final do Campeonato da Europa tem a marca bem vincada das duas mãos e do pé esquerdo de Diogo Costa. Porém, quando entrar esta noite no Volksparkstadion, em Hamburgo, Didier Deschamps também terá muito a agradecer Mike Maignan. Preterido no Paris Saint-Germain na sua transição para sénior, “Magic Mike”, como é conhecido o guarda-redes nascido em Cayenne, capital da Guiana francesa, foi, a par de N’Golo Kanté, o melhor jogador do rival português nos quatro primeiros jogos do Europeu, sendo uma barreira que no Alemanha 2024 apenas foi ultrapassada de grande penalidade, por Robert Lewandowski – e à segunda tentativa.
A tradição ainda é o que era e, vinte dias depois de Alemanha e Escócia darem o pontapé de saída para Campeonato da Europa e com dois terços das selecções já em casa, as críticas e as desconfianças têm pautado os comentários da esmagadora maioria dos “analistas” portugueses à prestação da selecção portuguesa.
Usando a mesma bitola, a exacerbada exigência lusa, se aplicada às prestações francesas até ao momento no Europeu, daria motivos para criticas seguramente mais severas. Com três jogos medíocres na fase de grupos, a França teve no difícil duelo com a Bélgica, nos oitavos-de-final, o seu ponto alto até ao momento na Alemanha. Todavia, numa exibição frente aos belgas que se ficou apenas pela competência, os problemas que os vice-campeões do Mundo têm exibido saíram reforçados.
Sem um homem de área que faça a diferença e com Kylian Mbappé condicionado pela lesão que sofreu na estreia frente à Áustria – o jogador do Real Madrid tem mostrado desconforto com a protecção facial que é obrigado a usar –, a produção do ataque gaulês tem sido débil: três golos marcados, sendo um de grande penalidade e os restantes marcados por adversários na própria baliza.
Porém, as fragilidades ofensivas dos “bleus” estão bem mascaradas. Por um lado, há uma “tropa de elite” a meio-campo, formada por Kanté, Adrien Rabiot (o médio da Juventus não defronta Portugal) e Aurélien Tchouaméni que garante a Deschamps uma enorme solidez no seu plano de jogo, mas, quando os rivais encontram a fórmula para desbloquear a táctica gaulesa, Mike Maignan tem estado à altura da exigência de um favorito à conquista do título.
Sendo mais um exemplo da multiculturalidade francesa, Maignan, de 28 anos, é filho de pai guadalupe e de mãe haitiana, tendo nascido na Guiana, território francês na América do Sul onde viveu até aos seis anos, quando se mudou para a pequena localidade de Villiers-le-Bel, subúrbio a Norte de Paris.
Após começar a jogar no clube local, o talento de Maignan para a baliza despertou a atenção do Paris Saint Germain, clube para onde se transferiu aos 14 anos. Apesar de ter tido sempre um papel de destaque nas equipas de formação dos parisienses e das selecções francesas, quando chegou ao escalão sénior, Maignan não foi aposta de Laurent Blanc.
Preterido em favor do italiano Salvatore Sirigu, em 2015 o actual dono da baliza da França foi transferido para o Lille, por apenas um milhão de euros. Embora no início tivesse à sua frente Vincent Enyeama, Maignan aproveitou uma expulsão do guarda-redes nigeriano para agarrar o lugar.
A partir daí, tornou-se numa das figuras do clube do Norte de França: em 2018/19, foi considerado o melhor guarda-redes da Ligue 1; em 2020/21, foi preponderante na inédita conquista do campeonato francês pelo Lille.
Com o título de campeão de França no currículo, Maignan deu um passo em frente. Convencido pelas suas exibições, o AC Milan pagou 15 milhões de euros pela sua contratação e, logo na primeira época na Serie A, o francês foi considerado o melhor guarda-redes do principal campeonato italiano.
Na selecção, no entanto, Maignan continuava na sombra de Hugo Lloris e apenas a 6 de Junho de 2022 fez a estreia num jogo de uma competição oficial (Liga das Nações). Com um estatuto cada vez mais sólido, Maignan acabou por perder a possibilidade de defender a baliza francesa no Mundial 2022 devido a lesão e é na Alemanha, já perto dos 30 anos, que está a fazer a estreia numa grande competição.
No entanto, até ao momento, os franceses nada têm a apontar ao “número 16” e hoje, em Hamburgo, haverá um valioso duelo entre dois guarda-redes de qualidade insuspeita.