A educação compensatória: gueto ou valorização

Quando as expectativas são baixas, o investimento é igualmente baixo, pois a ideia é que não vale a pena, eles não vão conseguir.

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Há estudos que mostram que o trabalho realizado nas escolas TEIP é "bastante positivo para as minorias" Daniel Rocha/Arquivo
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A educação compensatória tem já alguma história no nosso país, com maior ênfase para a segunda metade do século XX, e vale a pena falar nela devido à 4.ª fase de implementação dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), uma vez que estas escolas destinam-se às áreas geográficas com crianças e jovens com elevada vulnerabilidade social.

A vaga de imigrantes e refugiados que tem entrado no nosso país, nos últimos tempos, garantiu os 146 agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas com designação de TEIP. A pergunta impõe-se: têm estas escolas conseguido cumprir a sua missão de compensarem as vulnerabilidades sociais, económicas, comunicacionais, e ainda de trazer o equilíbrio entre minorias, etnias, e comunidades maioritárias, combater o absentismo e promover o sucesso das aprendizagens?

O trabalho destas escolas tem sido em torno de parcerias com outras instituições, como as juntas de freguesias e diversas organizações que colaboram na integração de minorias e na satisfação de necessidades básicas; bem como no incentivo, suporte e facilitação à escolarização; assim como com o apoio do trabalho dos mediadores e de outros técnicos; e ainda com o trabalho diferenciado dos professores. Porque se para se ser professor é preciso ter vocação, para se ser professor numa escola TEIP é preciso ter ainda mais qualquer coisa.

Alguns estudos mostram que o trabalho realizado nas escolas TEIP é, em determinadas circunstâncias, bastante positivo para as minorias. No entanto, para a comunidade maioritária, é pouco convidativa a frequência de uma escola TEIP, por várias razões. A primeira é logo pelo estigma de ser uma escola onde o sucesso educativo é muito baixo, onde os professores precisam de ter atenção a muitos factores e a aprendizagem não é o foco principal.

Existem também escolas que têm todas as características para serem TEIP e não querem para que os seus alunos não sejam estigmatizados socialmente, no bairro onde a escola está inserida. Na verdade, uma escola TEIP trabalha também ao nível do bairro, com as famílias e os encarregados de educação, com a intenção de diminuir o abandono escolar, o absentismo e as retenções de ano, e de aumentar a frequência escolar, a participação e as transições, ou seja, promovendo o sucesso educativo e escolar. Na verdade, o conceito de sucesso ganha outra dimensão e outro sabor. Para alguns, por exemplo, o ir à escola já é uma vitória.

Uma questão que deve ser tida em conta nestas escolas é a gestão das expectativas, tanto dos professores, como dos alunos e das suas famílias. Da parte dos alunos e das famílias, na maioria das situações espera-se que não existam problemas sociais, nem conflitos com a comunidade maioritária e que o sucesso educativo, ou seja, o transitar de ano, aconteça. Da parte dos professores, muitas vezes as expectativas são baixas, pois antevêem que os alunos têm pouca disponibilidade e empenho nos estudos e que o nível de absentismo será elevado e a existência de outras tarefas para além das escolares, que irão ocupar os alunos. Isto quer dizer que quando as expectativas são baixas, o investimento é igualmente baixo, pois a ideia é que não vale a pena, eles não vão conseguir, ou vão estar tantas vezes ausentes que a necessária sistematização e continuidade dos trabalhos vai-se perder no tempo.

Tudo isto gera, na realidade, baixos índices de sucesso. A compreensão da cultura e da envolvência das famílias destas minorias é muitas vezes descurada, sendo que estas são duas portas de entrada de importância vital para o sucesso da escola na vida destes alunos e para o sucesso destes alunos na vida da escola.

Sendo os TEIP a expressão da educação compensatória em Portugal, o seu sucesso será uma das concretizações do sucesso da integração de minorias diversas no nosso país. É preciso planeamento sério e consciente, o estabelecimento de objetivos estratégicos e de finalidades, com a missão e visão de cada unidade orgânica a balizar projectos e programas, monitorizar a ação e avaliar para melhorar e continuar o ciclo, tendo em conta que os TEIP discriminam, sim, mas positivamente.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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