Judi Dench e Siân Phillips são as primeiras mulheres a ingressar no Garrick Club

O Garrick Club era, até aqui, uma espécie de “Clube do Bolinha”, onde, durante 193 anos, vingou a máxima de “menina não entra”.

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Judi Dench Karen Ballard/REUTERS
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O reputado clube londrino teve, durante quase dois séculos, a regra de que, ali, apenas homens podiam entrar. A excepção para a entrada no espaço de uma mulher ocorria se fosse acompanhada por um homem; mas isso não significava que pudesse integrar a lista de membros. Agora, 193 anos após a sua fundação, o Garrick Club não só aboliu essa regra como nomeou Judi Dench e Siân Phillips enquanto membros ilustres, tornando-as as primeiras mulheres a serem autorizadas a entrar no clube.

As veteranas actrizes foram admitidas como membros durante a assembleia geral anual do clube, nesta segunda-feira, arrancando aplausos, conta o The Guardian. Ainda assim, a decisão de acolher mulheres no seio do clube não foi unânime: foram cerca de 60% dos membros da instituição que, em Maio, votaram a favor. E, embora não faltassem nomeações (da antiga ministra do Interior Amber Rudd à deputada trabalhista Ayesha Hazarika), tudo indicava que não haveria qualquer membro feminino antes de 2026, já que o processo de entrada pode demorar entre dois e cinco anos.

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Um dos espaços do clube The Garrick Club

Só que, segundo uma das alíneas do regulamento, o “comité geral pode, à sua discrição, eleger quatro membros em cada ano, tendo em conta a sua eminência pública ou distinção”, o que acabaria por ser usado para destacar as actrizes Judi Dench e Siân Phillips. Na teoria, até ao fim do ano, o clube pode ainda nomear mais duas mulheres para se juntarem ao rol de cerca de 1500 homens.

“Menina não entra”

“O Clube do Bolinha” nasceu na banda desenhada criada em 1935 por Marjorie Henderson Buell, que, a Portugal, chegou como Luluzinha, via editora Abril e com sotaque do Brasil. Mas, no mundo real, os clubes do Bolinha existiam um pouco por toda a parte. No caso do Garrick Club (em homenagem ao actor e dramaturgo do século XVIII David Garrick), a fundação remonta a 1831, tendo sido criado como ponto de encontro de actores e patronos das artes. Os fundadores foram o arquitecto Samuel Beazley e o dramaturgo Samuel James Arnold, com os primeiros membros a incluírem actores como John Braham, Charles Kemble, William Macready e Charles Mathews; os dramaturgos James Planché, Theodore Hook e Thomas Talfourd; ou os pintores Clarkson Frederick Stanfield e Thomas Grieve.

Extremamente exclusivo, para entrar no clube, até aqui, era preciso ser homem e ser proposto por um membro. E, claro, mover-se em determinadas áreas de influência, descreve a Tatler, num artigo intitulado O que é que realmente se passa no interior do Garrick?​”​.

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A sala de jantar do clube The Garrick Club

Actualmente, entre os seus membros estão nomes sonantes como o próprio rei Carlos III ou o vice-primeiro-ministro, Oliver Dowden, além de dezenas de advogados de renome ou directores de instituições artísticas financiadas com dinheiros públicos, assim como actores (Damian Lewis, Benedict Cumberbatch, Hugh Bonneville…) — todos os nomes foram divulgados numa lista publicada pelo Guardian, em Março, tendo a ausência de mulheres suscitado consternação pública, o que conduziu, por exemplo, à saída do clube do chefe do MI6, Richard Moore.

Em 2015, houve uma votação para abrir o clube a mulheres, mas o resultado parecia ter garantido o futuro só para homens. Só que a crise de relações públicas deste ano acabaria por levar à decisão de votar a entrada de mulheres, tendo por base o facto de uma nova análise do livro de regras do clube, efectuada por David Pannick KC, apoiada por advogados seniores, incluindo dois antigos juízes do Supremo Tribunal, ter concluído que não havia nada que impedisse explicitamente a entrada de mulheres. Isto porque, explica o Guardian, a Lei da Propriedade de 1925 dita que, em documentos legais, a palavra “ele” também seja interpretada como “ela”.

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