BCE pode continuar a baixar os juros, dizem economistas em Sintra

Conferência organizada pelo Banco Central Europeu em Sintra arrancou com estudo de dois economistas que estimam que o caminho da inflação até 2% é menos arriscado e difícil do que o esperado.

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Sede do BCE em Frankfurt WOLFGANG RATTAY / REUTERS
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Com a inflação na zona euro a dar sinais de que os últimos passos até chegar ao objectivo de 2% não serão particularmente difíceis, o Banco Central Europeu (BCE) tem o caminho aberto para continuar a baixar as taxas de juro progressivamente ao longo dos próximos meses, defende um dos estudos apresentado esta terça-feira na conferência anual que a autoridade monetária realiza em Sintra.

Depois de, no discurso de abertura realizado esta segunda-feira à noite, Christine Lagarde ter feito questão de lembrar que o combate à inflação ainda não está concluído, que o ambiente ainda é de grande incerteza e que as próximas decisões dependerão dos dados que entretanto forem sendo conhecidos, o primeiro trabalho académico apresentado no Fórum do BCE passa aos responsáveis do banco central uma mensagem de maior tranquilidade em relação ao futuro: a de que continuarem a descer as taxas de juro progressivamente não deverá pôr em causa a trajectória suave da inflação na zona euro até aos 2%.

Giorgio Primiceri, economista na Northwestern University, e Domenico Giannone, da Universidade de Washington e recentemente a trabalhar no Fundo Monetário Internacional, construíram, com base nos dados observados ao longo dos anos, um modelo para a evolução do PIB, inflação e taxas de juro na zona euro. E aquilo que concluíram é que, durante os próximos trimestres, num cenário de redução progressiva das taxas de juro por parte do BCE (colocando-as perto dos 3% no final deste ano e continuando a cair em 2025), aquilo que se antecipa é um percurso “bastante suave” da inflação até ao objectivo de 2%, com a economia a registar algum crescimento, embora “moderado” e provavelmente abaixo “da tendência pré-covid”.

Este tipo de previsões responde directamente aos receios várias vezes revelados nos últimos meses pelos responsáveis do BCE, de que os últimos passos da inflação até chegar aos 2% serão mais demorados e difíceis do que a descida registada desde que este indicador atingiu um máximo de 10,6% em Outubro de 2022.

Os dados preliminares divulgados na semana passada pelo Eurostat mostram que, em Maio, a taxa de inflação na zona euro se terá cifrado em 2,6%, uma ligeira subida face aos 2,4% que se verificaram em Abril, parecendo mostrar que o caminho até aos 2% não será linear. Entretanto, em Junho, já voltaram a desacelerar ligeiramente para os 2,5%.

Giorgio Primiceri e Domenico Giannone, contudo, assinalam no seu estudo que a tendência geral irá ser, em condições normais, de continuação de uma descida progressiva, algo que dá margem ao BCE para prosseguir a retirada da sua política restritiva, um movimento que começou a fazer em Junho, quando baixou a sua taxa de juro de depósito (a principal referência para os custos de financiamento na zona euro) de 4% para 3,75%.

“De acordo com o modelo, a inflação está a regressar ao objectivo e ‘o último quilómetro’ não parece particularmente arriscado e difícil, na ausência de perturbações imprevisíveis”, afirma o estudo apresentado esta terça-feira no Fórum do BCE.

Outra conclusão retirada pelos dois economistas é a de que, ao contrário daquilo que é actualmente a visão prevalente, a principal explicação para a escalada da inflação em 2021 e 2022 na zona euro vem do lado da procura e não dos choques de oferta, como os registados no mercado da energia. Isto leva igualmente os autores a calcular que, caso o BCE tivesse optado por agir mais cedo, começando a subir as taxas de juro um ano antes, a inflação teria subido menos três pontos percentuais, mas em compensação, o PIB registaria um valor um ponto percentual abaixo do registado, o que significa a entrada da zona euro num cenário de recessão mais profunda, algo que até agora foi evitado.

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