Grada Kilomba apresenta nova obra, Opera to a Black Venus, na Alemanha

Artista portuguesa tem a primeira mostra individual na Alemanha na semana em que é anunciada como finalista do concurso para o Memorial às Vítimas da Escravatura Transatlântica, a erguer em Londres.

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Artista portuguesa Grada Kilomba com a sua Opera to a Black Venus numa imagem da Staatliche Kunsthalle Baden-Baden cortesia da artista/Staatliche Kunsthalle Baden-Baden
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A artista portuguesa Grada Kilomba vai apresentar, numa exposição a ser inaugurada nesta quinta-feira na Alemanha, uma nova obra, Opera to a Black Venus, comissariada pela Staatliche Kunsthalle Baden-Baden e pelo museu espanhol Rainha Sofia.

De acordo com informação disponível no site oficial da Staatliche Kunsthalle Baden-Baden, no "coração da mostra" estão duas obras que serão apresentadas ao público pela primeira vez: a instalação vídeo em larga escala Opera to a Black Venus e a instalação site specific Labyrinth.

Opera to a Black Venus, que dá nome à primeira exposição institucional que Grada Kilomba realiza em nome próprio na Alemanha, será apresentada ainda este ano no Museu Nacional Rainha Sofia, em Madrid.

Na obra, Grada Kilomba "encena uma ópera contemporânea dedicada a uma Vénus negra, que vive no fundo do mar e se torna oráculo de histórias sobre memória e resiliência", lê-se no texto de apresentação da mostra em Baden-Baden. "Num cenário futurista, uma paisagem desoladora revela a arqueologia da existência humana", acrescenta o mesmo texto, na qual é revelado que Grada Kilomba criou um ensemble único - com sopranos, contraltos e tenores, bem como percussionistas e bailarinos - para realizar a obra.

A artista usa um barco "como metáfora para a política de violência e recorre à sua subversiva e poética linguagem visual para perguntar: 'O que nos diria o fundo do oceano amanhã, se fosse esvaziado hoje?'". É também recorrendo ao tema do barco enquanto "metáfora", neste caso com o projecto Arqueologia da Contemplação, que a artista portuguesa está entre os seis finalistas do concurso para o Memorial às Vítimas da Escravatura Transatlântica a erguer em Londres, como anunciado esta semana pela Câmara Municipal da capital britânica.

Opera to a Black Venus é a última parte de uma trilogia iniciada com a instalação performativa O Barco, estreada em 2021 na BoCA - Bienal de Arte Contemporânea, em Lisboa. A segunda parte, 18 Verses of a Boat, foi apresentada pela primeira vez em 2022, no Castello di Rivoli Museo d'Arte Contemporanea, em Turim, Itália.

Na exposição na Alemanha, a artista apresenta também pela primeira vez Labyrinth, instalação de larga escala em tecido, formando rectângulos, na qual "cria caminhos e formas" na sala que acolhe a mostra. "A instalação mostra a possibilidade e impossibilidade de rotas diferentes, evocando o comércio transatlântico de escravos e a luta constante por liberdade global, espaço e movimento", lê-se no texto, no qual é referido que o uso de tecido em algodão "reafirma o recurso da artista a materiais naturais e efémeros, como terra, pedra e madeira, reinscrevendo a materialidade da história e do mar como um arquivo de política violenta".

A exposição na Staatliche Kunsthalle Baden-Baden inclui também trabalhos anteriores de Grada Kilomba, como Table of Goods (2017), Illusions Vol. II, Oedipus (2018), Illusions Vol. II, Antigone (2019), 18 Verses (2022) e Sounds of Water (2023), que serão apresentados "em diálogo com novos trabalhos, criando uma continuidade na política narrativa".

Grada Kilomba, que vive em Berlim, é uma artista interdisciplinar, escritora e investigadora doutorada em Filosofia pela Universidade Livre de Berlim, e que tem vindo a leccionar em diversas universidades internacionais, como a Universidade de Artes de Viena, na Áustria. Com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, a artista tem abordado o racismo, o trauma colonial, as vozes silenciadas, as questões de género. As suas obras têm sido exibidas em eventos como a 10.ª Bienal de Berlim, a Documenta 14 de Kassel, a Bienal de Lubumbashi VI, e a 32.ª Bienal de São Paulo (integrou, aliás, a equipa curatorial desta última edição), como em vários museus e teatros internacionais.