O Barco, de Grada Kilomba, exibido pela primeira vez em Inhotim

Escultura da artista que integrou equipa de curadores da 35.ª Bienal de São Paulo, em 2023, exposta no maior museu a céu aberto do Brasil.

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Grada Kilomba reuniu 134 blocos de madeira queimada que se estendem por 32 metros em referência à arquitectura do fundo dos navios negreiros dr
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A artista portuguesa Grada Kilomba expõe a obra escultórica, performática e poética O Barco, a partir deste sábado em Inhotim, o maior museu aberto do Brasil, no estado de Minas Gerais.

Será a primeira vez que essa obra é exposta no Brasil, país em que a artista portuguesa tem ganho destaque, tendo integrado em 2023 a equipa curatorial da 35.ª Bienal de São Paulo, ao lado do espanhol Manuel Borja-Villel e dos brasileiros Diane Lima e Hélio Menezes.

Em O Barco (2021), Grada Kilomba reuniu 134 blocos de madeira queimada que se estendem por 32 metros, dispostos em referência à arquitectura do fundo dos navios negreiros, que levavam africanos escravizados até ao Brasil.

Ao longo do deslocamento entre os blocos, o visitante depara-se com um poema escrito por Kilomba e traduzido para seis idiomas: yorubá, crioulo de Cabo Verde, kimbundu, português, inglês e árabe.

A instalação escultórica será acompanhada, ainda, de três actos de performance: já no domingo, será o grupo Ensemble Lisboa, que reúne vozes de gospel e da ópera, percussionistas e bailarinos clássicos, numa apresentação que acontecerá na Galeria Galpão.

O Barco foi apresentado pela primeira vez em Setembro de 2021 em Lisboa, no âmbito da BoCA - Bienal de Arte Contemporânea. Um ano mais tarde, esteve em exposição na Somerset House, em Londres.

Quando da apresentação em Lisboa, Grada Kilomba explicou que esta obra foi criada como "metáfora para produzir um novo futuro", no qual a História da escravatura "seja contada de forma correcta", sem apagar o sofrimento de milhões de pessoas.

Com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, Grada Kilomba tem trabalhado as questões do racismo, do trauma colonial, das vozes silenciadas e de género, e foi uma de cinco criadores convidados a apresentar uma proposta para um memorial da escravatura em Lisboa, concurso que haveria de escolher o artista angolano Kiluanji Kia Henda. A artista marcou já presença na 10.ª Bienal de Berlim, na Documenta 14 de Kassel, na Bienal de Lubumbashi VI, e na 32.ª Bienal de São Paulo, assim como em vários museus e teatros internacionais - está representada na colecção da Tate Modern.

O museu de Inhotim tem cerca de 560 obras, de aproximadamente 60 artistas oriundos de 38 países diferentes, além de 24 galerias com obras em exposição, segundo informações divulgadas no site da instituição.

Nos 140 hectares que compreendem sua área, os visitantes caminham entre 4,3 mil espécies de plantas de diferentes continentes e um acervo artístico composto por esculturas, instalações, fotografias, pinturas e muitos outros suportes de grandes nomes da arte contemporânea brasileira e internacional.

O museu de Inhotim está localizado numa área de transição entre os biomas brasileiro Mata Atlântica e Cerrado o que, segundo informações divulgadas pela fundação que administra a instituição, permite a exibição permanente de trabalhos em grande escala que, geralmente, não poderiam ser expostos em museus tradicionais.