O que querem os jovens?

Os que seguem à frente na corrida de conquistar os jovens são aqueles que melhor conseguiram interpretar a nova geração, falando a sua linguagem e ouvindo as suas ansiedades.

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No jornal britânico The Guardian lia-se, no rescaldo das eleições europeias e a propósito dos bons resultados dos partidos de direita radical, que “os jovens abandonaram os principais partidos – um sinal de que as suas ansiedades não estão a ser ouvidas”. A autora, Albena Azmanova, apelidava o fenómeno de “insurreição populista” dos jovens que estão cada vez mais infelizes.

A reflexão deixa-nos perante alguns dilemas dos nossos dias: 1) o que querem os jovens; 2) porque é que não os conseguimos entender; e 3) porque é que o facto de se sentirem menos felizes do que a geração anterior os há-de levar a votar na extrema-direita?

Em Portugal, a preferência pode não ser tão acentuada como noutros países, mas as sondagens também mostram que os principais partidos estão a perder terreno para a direita radical, sobretudo entre os jovens do sexo masculino (dos 18 aos 34 anos).

Há um gap geracional que explica muita coisa, mas não tudo, desde logo porque ele existe há muito tempo, na política e fora dela. Existe no nosso dia-a-dia, em casa, nas escolas, na cultura. Quantas vezes a afirmação de uma geração não foi feita por oposição à que a antecedeu? Quantas vezes os filhos não se sentiram incompreendidos pelos pais e vice-versa? Quantas vezes os mais novos não andaram por sítios que os mais velhos acharam pouco recomendáveis?

Nada disso justifica que se queira voltar a criminalizar o aborto, que se aceite de novo que há coisas (do lar) para as quais as mulheres, e só as mulheres, estão vocacionadas ou que se censure novamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Será mesmo isso que os jovens querem? É difícil de acreditar.

O que parece certo é que os que seguem à frente na corrida de conquistar a juventude são aqueles que melhor conseguiram, mesmo que de forma incompleta, interpretar a nova geração, falando a sua linguagem e ouvindo as suas ansiedades, como escreve Azmanova.

Talvez a chave esteja mesmo nas ansiedades, muitas delas já identificadas, como é o caso da climática, da pandémica e da financeira. E porque ansiedades são medos, é preciso lembrar que é do medo do outro, do diferente, do pobre, do há-de vir, etc, que o radicalismo se alimenta. Sem respostas para os seus receios (uns mais reais do que outros), os jovens continuarão a afastar-se dos principais partidos. E, quiçá, os mais velhos também.

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