Tempo para brincar: um direito fundamental na infância

São vários os especialistas que têm vindo a reforçar a relevância do “brincar” e da brincadeira para o desenvolvimento dos mais novos.

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"Sem dúvida que a “brincar” a criança está a aprender." Pixabay
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O mês abriu com a comemoração do Dia da Criança e com a oportunidade de refletir sobre os direitos que lhe assistem. Destes direitos quero aproveitar para destacar o direito a brincar.

A importância do “brincar” está consagrada na Declaração Universal dos Direitos das Crianças (ONU, 1959) e na Convenção sobre os Direitos da Criança (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1989). De facto, ao longo do tempo, todos os estados-membros foram produzindo instrumentos jurídicos com o intuito de promover e assegurar os direitos e garantir o desenvolvimento físico-motor, social, moral, emocional, cognitivo e social dos mais pequenos.

O tempo para as crianças brincarem é um dos principais desafios que a nossa sociedade enfrenta atualmente. São vários os especialistas que têm vindo a reforçar a relevância do “brincar” e da brincadeira para o desenvolvimento dos mais novos.

Com este artigo pretendo fazer uma breve reflexão acerca da brincadeira e do tempo para brincar nos dias de hoje.

É do conhecimento de todos que brincar constitui um meio privilegiado de a criança expressar sentimentos e refletir sobre a realidade e a cultura onde está inserida. Esta através do “faz-de-conta” pode experimentar diferentes papéis sociais (mãe, pai, bombeiro, super-homem) e compreende o papel dos adultos.

Sem dúvida que a “brincar” a criança está a aprender. Esta ao aprender não assume um papel passivo, pois perante as influências do meio procura adaptar-se a elas com uma atividade organizadora.

Durante as brincadeiras os mais pequenos compreendem o mundo que os rodeia, simulando situações e conflitos da vida familiar e social, arranjando estratégias para lidar com estas mesmas situações.

Através da brincadeira a criança pode, de forma segura, expressar os medos, as angústias e compreender os seus sentimentos e as suas emoções.

Brincar contribui para o autoconhecimento, ou seja, a liberdade para descobrir o mundo a andar, a correr, a desequilibrar-se ou mesmo a cair permite aos mais novos co-nhecer o seu corpo e os seus limites.

As brincadeiras na infância permitem elaborar e resolver conflitos internos, isto é, através dos jogos há a possibilidade de trabalhar a resistência à frustração. E aprender a lidar com este sentimento é essencial para o equilíbrio emocional e para a formação da personalidade.

A nossa sociedade está constantemente a mudar e o tempo para brincar hoje não é o mesmo que há 30 anos. Perante as alterações que se verificaram no mundo atual, as escolas tiveram de se adaptar de modo a dar resposta às necessidades das famílias.

A oferta curricular que contempla um horário mais alargado teve como principal objetivo oferecer às crianças atividades que enriquecem o currículo e surgiram pela necessidade de apoio às famílias, já que os pais vão trabalhar e não têm onde deixar os seus filhos.

Contudo, o que se tem verificado, em termos práticos, é que as crianças permanecem nas escolas durante dez horas diárias com atividades organizadas e muitas ficam privadas de ter tempo para poder brincar livremente.

Era importante que se refletisse sobre a importância de brincar já que a atividade lúdica não deve ser vista apenas como uma forma de “entretenimento”, mas sobretudo como algo que contribui para a aprendizagem e para o enriquecimento intelectual.

Esta reflexão implica, sobretudo, repensar as políticas laborais dos pais para que as crianças não tenham de permanecer tantas horas na escola e possam ter tempo para brincar.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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