Junta da Ajuda recorda promessa de centro intergeracional em antigo hospital de Belém

Presidente da junta acusa Câmara de Lisboa de “traição”, ao permitir centro de acolhimento de migrantes onde se previa equipamento para a população. E critica Moedas por alegadamente não o informar.

Foto
Hospital Militar de Belém serviu como serviço de rectaguarda durante a pandemia Rui Gaudêncio
Ouça este artigo
00:00
03:21

A Junta de Freguesia da Ajuda recordou hoje "o compromisso" da Câmara de Lisboa de construir um centro intergeracional no antigo hospital militar de Belém, opondo-se à eventualidade de o local ser escolhido para acolher imigrantes.

Em declarações à Lusa, o presidente da Junta da Ajuda, Jorge Marques (PS), disse que esperava que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), "defendesse os interesses da cidade de Lisboa e os compromissos que assumiu" com a freguesia.

Em causa está, segundo lembrou, a "promessa de executar um centro intergeracional, com residência para idosos, com creches", numa das freguesias "mais envelhecidas e mais carenciadas em equipamentos".

O autarca falava depois de Carlos Moedas não ter descartado a hipótese de o antigo hospital militar de Belém ser um dos "vários potenciais locais" identificados para receber o anunciado centro de acolhimento temporário de imigrantes.

O presidente da Câmara de Lisboa ressalvou, no entanto, que o local onde será instalado esse centro será "uma escolha do Governo".

Estas declarações de Moedas "não alteram" a posição assumida pela Junta de Freguesia da Ajuda, que num comunicado distribuído na segunda-feira, acusou a Câmara de Lisboa de "traição", dizendo ter tido conhecimento pela comunicação social, "com surpresa e estupefação" e "sem qualquer aviso prévio", da possibilidade de o hospital militar de Belém ser transformado num centro de acolhimento para pessoas migrantes.

Comentando à Lusa as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, Jorge Marques reiterou: "Estranho muito que o Governo tenha tomado uma decisão à revelia da Câmara Municipal de Lisboa e que a Câmara Municipal de Lisboa não tenha opinião sobre o assunto".

O presidente da Junta da Ajuda criticou ainda Moedas por lhe ser "indiferente a forma como os imigrantes são acolhidos" na cidade.

No comunicado divulgado antes, a Junta da Ajuda escreveu que não põe "em causa a necessidade de se encontrar uma solução" para o "problema humanitário" das pessoas migrantes sem-abrigo, mas explicitando que "não pode deixar de se opor a esta solução".

No mesmo comunicado, a junta referiu não ter tido "sequer um telefonema" da Câmara de Lisboa antes de a hipótese do antigo hospital militar de Belém surgir na comunicação social.

Segundo contou hoje à Lusa, Jorge Marques falou "pela primeira vez sobre o assunto" com Carlos Moedas na segunda-feira à noite.

O presidente da Câmara disse-lhe "que a decisão não estava tomada" e Jorge Marques argumentou pelo afastamento da opção do antigo hospital militar, instalado no antigo Convento dos Agostinhos Descalços de Nossa Senhora de Belém.

"Tenho grandes dúvidas que esta seja até uma boa solução para os migrantes, mas o nosso principal ponto é que tínhamos uma promessa eleitoral e um compromisso do presidente da câmara de que aqui faria um centro intergeracional. Se abdicou desse compromisso, então devia ter-nos dito alguma coisa, ou então dizer ao Governo que este sítio não estava disponível", declarou à Lusa.

Em declarações feitas hoje à margem de uma reunião sobre o impacto económico da Jornada Mundial da Juventude, Carlos Moedas recordou que a Câmara de Lisboa já havia pedido "um antigo quartel ou um antigo hospital que pudesse acolher provisoriamente" pessoas migrantes, estando, por isso, "muito contente" com o anúncio feito entretanto pelo Governo (PSD-CDS/PP), que incluiu essa medida no Plano de Ação para as Migrações.

"Só preciso que o Governo me diga onde é que é", assinalou, confirmando que há "alguns sítios identificados", entre os quais o antigo hospital militar de Belém.

Carlos Moedas adiantou que se vai reunir ainda hoje com o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, sobre o assunto.

Sugerir correcção
Comentar