Contar e cantar a tradição oral

Um livro que pode ser também escutado e visto, sob a forma de concerto. Reflecte uma pesquisa de contos e lengalengas do contador de histórias Carlos Marques.

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“Descia um velho campónio do seu monte ao povoado/ Levava um neto que tinha no seu burrinho montado. Hi ho!/ Encontra uns homens que lhe dizem: — olha, aquele, que tolo é! Montado o rapaz, que é forte, e o velho, trôpego, a pé!” André da Loba
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O espectáculo associado ao livro conta com a colaboração de Ana Sofia Paiva André da Loba
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“A mosca na velha e a velha a fiar. Estava a mosca no seu lugar. Veio a aranha chatear” André da Loba
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O ilustrador associou uma cor diferente a cada tema André da Loba
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Capa de Contos Cantados, edição conjunta da Trimagisto e da Bichinho de Conto André da Loba
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Uma recolha de histórias junto dos mais velhos a pensar nos mais novos. Assim se pode resumir estes Contos Cantados, que surgem aqui como audiolivro ilustrado por André da Loba e que reúnem sete músicas, três contos e quatro lengalengas.

Carlos Marques pesquisou e registou durante mais de 15 anos a voz dos que nasceram há mais tempo para a transmitir aos que vieram depois. O performer, que organiza a Festa de Contos, em Montemor-o-Novo, diz ao PÚBLICO: “É um miminho que deixo para os por vir. Costumo dizer a brincar que é a herança que deixo à minha filha.”

No prefácio, de Luís Correia Carmelo, pode ler-se: “A singularidade do Carlos Marques está de forma mais evidente na sua música, no seu ritmo e energia vibrantes. Mas, além disso, trata-se de um contador de histórias que respeita a infância a ponto de não ter medo de lhe falar de coisas sérias, mesmo que seja a brincar. E é aqui que este audiolivro se diferencia da maioria dos títulos propostos pelas estantes coloridas das grandes superfícies e das cadeias de lojas e livrarias.” De acordo.

Aqui vai o início de um dos contos recolhidos em que a verdade não é omitida às crianças: Tranglomanglo dos filhos com fome (Não comem nada, porque poucos comem tudo). “Tinha 10 filhos com fome, em cima deles chove. Deu-lhes um tranglotrico tranglomanglo neles. Não ficaram senão 9. / Desses 9 que ficaram, sonhavam comer biscoitos. Deu-lhes um tranglotrico tranglomanglo neles/ Não ficaram senão 8.”

E assim por diante, até ficar só um: “E esse filho que ficou/ tinha uma fome de leão/ Por não ter comido nada, olhem,/ Acabou-se a geração/ Por não ter comido um pão.”

Para cada capítulo, uma cor

André da Loba conta ao PÚBLICO como foi ilustrar contos desta natureza: “Este livro tem a particularidade de ter sete livros dentro, ou seja, tem sete universos distintos que tive de conseguir unificar graficamente e ao mesmo deixar claro que se tratavam de histórias diferentes.”

Os sete universos estão identificados logo no início/índice: Era não era; Tranglomanglo dos filhos com fome; O velho, o rapaz e o burro; A velha a fiar; A velha e a cabaça; O velho mouco e Os velhos e a morte.

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O livro nasceu do desafio ao autor pelo projecto educativo “À Descoberta das 4 Cidades” André da Loba

A cor ajudou o ilustrador a orientar o seu trabalho: “A cada capítulo/música corresponde uma cor e com semanas de separação entre ilustração, de modo a que as personagens de umas histórias não entrassem para dentro de outras.”

As técnicas usadas variaram de texto para texto: “Em cada capítulo/música, usei técnicas de ilustração diferente; no conto Os velhos e a morte, referenciei a banda desenhada; no Tranglomanglo dos filhos com fome, usei vinhetas; no O velho, o rapaz e o burro, as ilustrações andam no meio do texto como nos livros infantis mais clássicos; no A velha a fiar, a ilustração constrói-se durante a lengalenga; no O velho mouco, repito a fórmula, mas separo a ilustração do texto.”

André da Loba ilustrou com recurso a linogravura, uma técnica que não usava há muito tempo e que teve de “reaprender”. Descrição: “O ‘erro’ próprio da técnica e que lhe confere beleza e unicidade foi a parte mais difícil de assimilar depois de tantos anos a trabalhar quase exclusivamente no computador.”

O artista plástico faz questão de realçar o papel da editora e livreira Mafalda Milhões: “Fez um trabalho precioso e preciso no acompanhamento da impressão do livro, que foi idealizado para ser uma peça ‘tosca’ e com defeitos próprios da manualidade e pouco polido, para representar melhor o conteúdo e origem das músicas do Carlos Marques, um bocadinho em contramão das tendências maquinistas e pouco humanas dos nossos objectos quotidianos e para conseguirmos que cada exemplar seja único.” E conclui: “Não há duas capas iguais deste livro.”

O audiolivro ilustrado Contos Contados é apresentado neste sábado, dia 18 de Maio, às 15h, na Festa de Contos – Festival da Palavra, em Montemor-o-Novo, no Espaço Livreiro, com a presença dos autores e mediação de Mafalda Milhões, da editora e livraria Bichinho de Conto. Às 16h, realiza-se o concerto encenado para famílias, no Cine-Teatro Curvo Semedo, com a participação de Ana Sofia Paiva e Sira Camacho. Prontos para contar e cantar.

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