Putin confirma objectivo de criar “zona tampão” em Kharkiv

Esperam-se “combates intensos” nos próximos dias entre as forças ucranianas e as russas na região de Kharkiv, estendendo-se a Sumi, disse o comandante do Exército de Kiev.

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Vladimir Putin acusou a Ucrânia de atacar zonas residenciais de Belgorod Sergei Guneev / VIA REUTERS
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Uma semana depois de ter dado início a uma nova ofensiva no Nordeste da Ucrânia, as forças russas continuam a ter a iniciativa na região de Kharkiv, embora o Exército ucraniano esteja a ser reforçado e se antecipem “combates intensos” nos próximos dias.

A expectativa foi partilhada pelo comandante das Forças Armadas, Oleksandr Sirskii, que explicou que a incursão russa em Kharkiv aconteceu mais cedo do que era esperado pelos serviços de informações ucranianos. “Sabemos que haverá batalhas intensas e que o inimigo se está a preparar para isso”, disse Sirskii através de uma publicação na rede social Telegram.

A Rússia espera poder aproveitar a janela de oportunidade criada pela severa escassez de munições e pela falta de soldados do Exército ucraniano e, por isso, lançou na semana passada uma ofensiva na região fronteiriça de Kharkiv. Desde então, as forças russas conseguiram tomar algumas pequenas localidades – 12, segundo o Ministério da Defesa russo – e aproximaram-se da cidade de Vovchansk, onde se têm concentrado alguns dos principais combates.

O comandante das Forças Armadas ucranianas acredita que a Rússia irá tentar igualmente alargar a sua ofensiva à região de Sumi, também no Norte, e anunciou o reforço das posições nessa zona.

Adivinham-se semanas particularmente difíceis para a Ucrânia, que ainda aguarda pela chegada da ajuda militar dos seus parceiros ocidentais, sobretudo dos EUA. Para além de tentar travar o avanço russo em Kharkiv, as forças ucranianas têm também pela frente as investidas russas no Donbass.

Uma boa notícia foi avançada pelo Presidente Volodymyr Zelensky, que disse esta quinta-feira que, pela primeira vez em vários meses, nenhuma brigada do Exército reportou falta de munições para as suas operações.

As autoridades ucranianas não acreditam que as forças russas tenham capacidade para alcançar a cidade de Kharkiv, a capital provincial e a segunda maior aglomeração urbana do país, e essa avaliação é partilhada pela NATO.

No segundo dia de visita à China, o Presidente russo, Vladimir Putin, referiu-se publicamente pela primeira vez à ofensiva em curso na região de Kharkiv para afirmar que a tomada da cidade não é um objectivo fixado pelo Kremlin, mas antes a criação de uma “zona tampão” dentro do território ucraniano para impedir incursões e ataques inimigos à província russa de Belgorod.

“Eles atacam directamente o centro da cidade, áreas residenciais, e disse publicamente que, se isto continuasse, seríamos forçados a criar uma zona de segurança, uma zona tampão”, afirmou Putin durante a visita à cidade de Harbin, no Norte da China.

O Presidente russo foi recebido pelo homólogo chinês, Xi Jinping, numa visita de Estado que serviu para consagrar os laços próximos entre os dois regimes, unidos por uma visão geopolítica que contraria a ordem mundial estabelecida após o fim da Guerra Fria, caracterizada pela hegemonia dos EUA. Apesar de ter visitado a Europa na semana anterior, onde em França foi pressionado a usar a sua influência sobre Putin para pôr um fim à invasão da Ucrânia, Xi mostrou mais uma vez um apoio sólido ao líder russo.

Putin voltou a abordar a possibilidade de entrar em negociações com as autoridades ucranianas para acabar com o conflito, mas tornou a acusar o Ocidente de não o desejar e de ter deitado por terra as conversações que decorreram nos primeiros meses após o início da invasão em 2022.

“Eles [aliados da Ucrânia] queriam ganhar vantagem no campo de batalha, alcançar uma derrota estratégica [da Rússia], mas isso não funcionou”, afirmou Putin.

Ainda assim, o Presidente russo disse continuar aberto ao diálogo e a uma possível negociação para alcançar um cessar-fogo, mas desde que seja reconhecida a “realidade que está a tomar forma no terreno” – uma forma de declarar que as ocupações territoriais russas na Ucrânia devem ser reconhecidas. Para Kiev, essa tem sido desde o início uma linha vermelha para abrir qualquer processo diplomático.

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