Em Guimarães, também os vinhos são um património inestimável

Um roteiro por vinhas de encosta e de vale, em redor de Guimarães, onde o Verão convida a parar numa esplanada do centro histórico, a beber um copo e a regalar os olhos na envolvente medieval.

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Centro histórico de Guimarães maria joão gala
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Quinta da Cancela, em Guimarães maria joão gala
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Chef António Loureiro, do restaurante A Cozinha, em Guimarães,Chef António Loureiro, do restaurante A Cozinha, em Guimarães maria joão gala,maria joão gala
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Quinta da Cancela, em Guimarães maria joão gala
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Harmonização de vinhos no restaurante A Cozinha de António Loureiro, em Guimarães maria joão gala
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Quinta dos Encados, em Guimarães maria joão gala
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Taberna Trovador, em Guimarães maria joão gala
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Restaurante São Gião, em Moreira de Cónegos (Guimarães) maria joão gala
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Taberna Trovador, em Guimarães maria joão gala
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Quinta dos Encados, em Guimarães maria joão gala
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Há combinações que nos deixam satisfeitos, sem precisarmos de perceber o porquê. Simplesmente, agradam-nos e isso é suficiente. Um copo de vinho branco, servido à temperatura certa, e uma esplanada num dia de calor é uma dessas parelhas que parecem feitas para proporcionar bons momentos. Ainda assim, se quisermos prestar-nos à reflexão, ousemos atribuir o sucesso deste casamento à frescura natural dos Vinhos Verdes, particularmente aqueles que tiram partido da acidez e mineralidade do arinto (ou pedernã, como é por aqui conhecida a casta), e que ajuda a enfrentar as tardes tórridas em que a cidade de Guimarães mergulha com a chegada das estações quentes.

A ideia forma-se na cabeça de quem rodopia um copo de Casa de Sezim Grande Escolha 2022, enquanto descansa as pernas e recupera o fôlego numa praça do centro histórico, a admirar a envolvência. O coração da cidade abre-se aos visitantes como uma pérola, ainda protegido do turismo massivo, mas capaz de encantar qualquer um que se lance a calcorrear as suas ruas, vielas e praças de aura medieval.

Tomando a Rua de D. João I, que ainda conserva traços dessa época, desaguamos no Largo do Toural, átrio da cidadela, do lado de fora da muralha, que deve o nome ao facto de ali se realizarem feiras de gado e touradas em tempos idos. Daí em diante, passando a antiga Porta da Vila, começa a zona classificada pela UNESCO como Património Mundial, e torna-se desnecessária qualquer orientação, se o intuito for deixar que a descoberta nos guie.

Mesmo sem mapa, facilmente se descobre o caminho para a Colina Sagrada, onde se juntam a icónica estátua de D. Afonso Henriques, da autoria de Soares dos Reis, o Castelo de Guimarães e o imponente Paço dos Duques de Bragança. Pelo meio, atravessa-se o Largo da Oliveira, que na Idade Média foi o centro político, religioso e social e comercial de Guimarães, e hoje continua a pulsar de vida, rivalizando em número de esplanadas – de frente para o alpendre gótico do Padrão do Salado e para a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira – com a vizinha Praça de Santiago. As duas estão ligadas pela arcada dos antigos paços do concelho, e naquela concentração de bares, restaurantes e cafés, onde convivem habitantes e visitantes, não falta onde pôr à prova a constatação que deu início a este roteiro.

Privilegiando o sossego em lugar da envolvência, não muito longe encontramos, no recatado Largo Condessa do Juncal, uma antiga loja de fazendas que virou mercearia. A Mercatus da Condessa conserva ainda o bonito balcão em madeira talhada, “com mais de cem anos”, realça a proprietária Paula Costeira. Ali, põe-se à prova uma mão-cheia de referências de vinhos do concelho, servidas a copo e bem emparelhadas com compotas e queijos da região. Um merecido aperitivo enquanto se decide onde jantar.

A Mercatus da Condessa conserva ainda o bonito balcão “com mais de cem anos”, do tempo em que foi loja de fazendas. Maria João Gala
Pormenor de casa no Largo da Oliveira, no centro histórico de Guimarães,Pormenor de casa no Largo da Oliveira, no centro histórico de Guimarães Maria João Gala,Maria João Gala
Na Mercatus da Condessa, Paula Costeira põe à prova uma mão-cheia de vinhos do concelho, servidos a copo e emparelhados com compotas e queijos da região. Maria João Gala
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A Mercatus da Condessa conserva ainda o bonito balcão “com mais de cem anos”, do tempo em que foi loja de fazendas. Maria João Gala

O périplo já vai longo, e não é preciso caminhar mais do que dois minutos para chegar a bom porto. A Cozinha por António Loureiro tem morada num desses recantos do centro histórico. No primeiro estrela Michelin de Guimarães, os vinhos locais também brilham, mostrando o seu potencial gastronómico, ou não tivesse o restaurante adoptado nos últimos anos uma forte aposta nos produtos de proximidade, sob a filosofia “quilómetro zero”. A Quinta Pousada de Fora foi um dos primeiros produtores do concelho a entrar para a garrafeira, e o seu Loureiro Reserva 2019 não só harmoniza com um dos pratos do menu de degustação da temporada (os espargos brancos corados, servidos num molho de ouriço-do-mar) como também entra na sua confecção. “Antigamente os Vinhos Verdes tinham de ser bebidos no ano e hoje já se fazem vinhos de guarda”, nota o chef, reconhecendo neste loureiro a estrutura e a evolução essenciais para casar com o intenso sabor a mar do prato.

Da rotina habitual do restaurante também fazem parte um rosé de espadeiro da Quinta de São Gião, cuja frescura conjuga com as notas de terra da entrada de beterraba golden, ricota e trufa; o Grande Reserva da Quinta dos Encados, que o chef emparelha com a sua reinvenção de cabidela, feita com peixe-galo; e um colheita tardia da Casa de Sezim que partilha notas cítricas e caramelizadas com o leite-creme de miso e gelado de abóbora e citrinos. O copo é quase uma extensão da sobremesa.

No restaurante A Cozinha, detentor de uma estrela Michelin, o chef António Loureiro dá primazia aos produtos de proximidade, vinhos incluídos. Maria João Gala
Cabidela de peixe-galo no restaurante A Cozinha por António Loureiro, em Guimarães Maria João Gala
Restaurante A Cozinha por António Loureiro, em Guimarães Maria João Gala
Restaurante A Cozinha por António Loureiro, em Guimarães Maria João Gala
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No restaurante A Cozinha, detentor de uma estrela Michelin, o chef António Loureiro dá primazia aos produtos de proximidade, vinhos incluídos. Maria João Gala

Amor à tradição

Ainda que já tenham encontrado caminho até à alta cozinha, os Vinhos Verdes também continuam a ter lugar nas mesas mais tradicionais, ao lado da chouriça assada, das pataniscas com arroz malandrinho de tomate e do polvo em molho verde. Petiscos como os que tão bem serve a Taberna Trovador. Daniel Mendes está agora ao comando da casa que o pai fundou há mais de 20 anos, já do lado de fora do burgo, e a dois passos da Zona de Couros, um núcleo ligado à indústria dos curtumes desde a Idade Média, que se juntou no ano passado à área classificada como Património Mundial.

No pequeno restaurante de atmosfera rústica, com paredes em pedra, mesas de madeira e tijoleira alaranjada, as receitas que Manuel Mendes deixou ao filho antes de se retirar são recriadas por uma equipa de cozinheiras exímias, que a pedido também confeccionam pratos mais robustos da cozinha tradicional minhota, como o arroz de pica-no-chão. “Fizemos uma actualização [essencialmente no serviço], mas sem perder a essência de uma taberna, e para mim uma taberna tem de ter vinho, petiscos e convívio”, diz Daniel.

No que respeita a Vinhos Verdes, em especial aqueles que são produzidos no concelho, Daniel Mendes tem particular orgulho em apresentá-los aos clientes da Taberna Trovador - e a recomendar uma visita às quintas que os produzem. Maria João Gala
Daniel Mendes está hoje à frente da Taberna Trovador, fundada pelo seu pai há 20 anos. Maria João Gala
À mesa da Taberna Trovador serve-se comida tradicional. Coisas como pataniscas de bacalhau com arroz malandrinho de tomate. Maria João Gala
Muitas vezes são os próprios produtores que vêm entregar o vinho. “Conhecemos o projecto, conhecemos quem o faz, conhecemos a história que está por detrás, e isso para mim é essencial”, diz Daniel Mendes. Maria João Gala
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No que respeita a Vinhos Verdes, em especial aqueles que são produzidos no concelho, Daniel Mendes tem particular orgulho em apresentá-los aos clientes da Taberna Trovador - e a recomendar uma visita às quintas que os produzem. Maria João Gala

No capítulo dos vinhos, decidiu reforçar a oferta, apostando em pequenos produtores de todas as regiões nacionais. Quando se trata dos Vinhos Verdes, particularmente os produzidos no concelho (inseridos na sub-região do Ave), orgulha-se de poder apresentá-los aos comensais, a quem recomenda sempre uma visita às quintas. “Muitas vezes são os próprios produtores que vêm cá entregar, nem há distribuição de outras pessoas. Conhecemos o projecto, conhecemos quem o faz, conhecemos a história que está por detrás, e isso para mim é essencial”, reconhece.

Nem de propósito, a meio da refeição chega Arthur Carvalho, da Quinta da Cancela. Vem deixar a encomenda e reconhece logo a garrafa que temos na mesa. É um vinhão produzido por si na propriedade que lhe foi passada pelo avô, e que já está na família há seis gerações. Há 300 anos que ali se colhem tintos, e a tradição manteve-se, contrariando a tendência de reconversão da vinha para uvas brancas do final do século XX. “Nessa altura, o meu avô disse, 'Não, nós vamos cortar as ramadas, mas vamos plantar vinhas de tinto, porque daqui a uns anos o pessoal vai querer tintos e não vai haver'”, recorda Arthur. Dos seus 2,5 hectares de vinha, 70% é vinhão e o restante divide-se em partes semelhantes de syrah e alicante bouschet. “O que me faz ser já conhecido como o maluco de Guimarães que só faz tintos”, lança, risonho.

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A Quinta da Cancela é um legado de família e, por esse motivo, Arthur Carvalho baptizou os vinhos a partir do nome das filhas: HEMJ combina Henriqueta e Maria Júlia. O caçula Arthur Xavier ainda não tinha nascido quando a marca foi lançada, mas não tardará a ter um vinho com o seu nome. Maria João Gala
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A casa principal da Quinta da Cancela, datada de 1720, foi recentemente aberta a hóspedes, juntamente com duas suítes na antiga adega. Maria João Gala
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A antiga casa dos caseiros foi transformada na Casa das Bonecas, um apartamento independente com dois quartos e um terraço virado para uma pitoresca ramada de acesso à vinha. Maria João Gala

A única excepção no seu portefólio é um rosé feito de syrah e vinhão. “Desde os meus 10 anos que piso uvas aqui no lagar, nunca falhei uma vindima, e a minha missão de vida é extrair do vinhão tudo o que possa ser feito, apesar de termos aqui outras castas, para fazermos umas novidades”, esclarece.

Quando regressou às origens para dar continuidade à quinta, o primeiro passo foi recuperar a casa principal, datada de 1720, abrindo uma parte aos hóspedes, juntamente com duas suítes na antiga adega e ainda a casa dos caseiros, agora conhecida como Casa das Bonecas, pelo seu aspecto bucólico: o terraço abre-se para uma pitoresca ramada de acesso à vinha. Quem chega àquele pequeno paraíso em São Lourenço de Sande ao final da tarde é recebido pelo sossego do campo, e por uma acolhedora luz dourada que embrulha toda a propriedade.

O tempo quente que aí vem convida a banhos na piscina, tardes molengas na espreguiçadeira, ou até a participar numa das festas ao pôr-do-sol que juntam sushi e rosé, organizadas no relvado em frente ao Wine Lounge e à adega moderna, construídos num conjunto de contentores marítimos reciclados. Piqueniques, provas, almoços e jantares vínicos complementam a oferta de experiências da Quinta da Cancela.

Alojamento, enoturismo e uma produção vinícola diferenciada são os pilares do projecto de sustentabilidade económica que Arthur quer deixar às gerações futuras. Foi a pensar nos filhos, aliás, que baptizou os seus vinhos: HEMJ junta os nomes de Henriqueta e Maria Júlia. O caçula Arthur Xavier ainda não tinha nascido quando a marca foi lançada, em 2020, mas não tardará a surgir uma novidade a que possa emprestar o nome.

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Arthur Carvalho “o maluco de Guimarães que só faz tintos”, segue o pensamento do avô: "Vamos plantar vinhas de tinto, porque daqui a uns anos o pessoal vai querer tintos e não vai haver." A única excepção é um rosé de syrah e vinhão. Maria João Gala
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No final de um jantar vínico, Arthur Carvalho emparelhou um petit gâteau de chocolate com o seu HEMJ Vinhão. A combinação é surpreendente. Maria João Gala

Um pulmão verde

O Verão, dizíamos, pode ser impiedoso em Guimarães, e quando nem o tal copo de vinho numa esplanada consegue amenizar o calor, há uma outra estratégia que costuma ser infalível: procurar frescura nos 60 hectares de mancha florestal da Penha. A montanha que ladeia a cidade a nascente eleva-se a 617 metros de altitude e, em querendo evitar as curvas e contracurvas da estrada para lá chegar, também se ganha em vista optando pela subida de teleférico.

Uma vez no topo, impõe-se a mesma premissa do centro histórico: explorar os vários trilhos sob o denso arvoredo que levam a miradouros naturais – o mais alto fica ao lado da estátua do papa Pio IX e, em dias de céu limpo, permite avistar o mar –, grutas, ermidas e penedos, e ao imponente santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha.

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"O segredo é o terroir", explica Rui Carvalho Azevedo, que com a sua mulher Maria José e as filhas Filipa (na imagem) e Rita, seguram o leme da Quinta dos Encados. Maria João Gala

É também neste pulmão verde que se esconde a Quinta dos Encados, envolvida num manto de vinha e floresta, sem edifícios à vista, a não ser a antiga casa dos caseiros, agora convertida num alojamento rural perfeitamente encaixado na paisagem. Nele cabem cinco suítes modernas, em tons claros, e com grandes paredes envidraçadas que deixam os 8 hectares de vinha entrar e fazer parte da decoração.

A propriedade é produtora de vinho desde a década de 1970, quando foi adquirida por Armando Areias. Hoje está ao encargo da filha Maria José Areias, confrade da Confraria do Vinho Verde, e da sua família (o marido Rui Carvalho Azevedo e as filhas Filipa e Rita Areias), mas a memória do fundador continua a ser preservada através da sua assinatura nos vinhos que ali nascem: um blend de loureiro e arinto e um monocasta de loureiro, ambos recentemente premiados.

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A Quinta dos Encados esconde-se, entre o manto de vinha e floresta, na Montanha da Penha. Maria João Gala
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“Todos os primeiros domingos de cada mês fazemos uma caminhada pela Penha”, diz Filipa Areias. A actividade termina com uma prova de vinhos. Maria João Gala

O Quinta dos Encados Grande Escolha 2021 conquistou a medalha de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas e o Quinta dos Encados Loureiro 2021 arrecadou também o ouro no Concurso Melhores Verdes da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.

“O segredo é o terroir”, defende Rui Carvalho Azevedo, que trocou a medicina pela viticultura quando se reformou, em 2018. “Isto é virado a sul e tem este microclima que nunca é muito quente nem muito frio”, permitindo a lenta maturação das uvas, colhidas normalmente em Outubro, continua o produtor. Nesse mesmo ano de 2018, a entrada do enólogo António Sousa também marcou uma revolução nos vinhos ali produzidos, para um perfil mais elegante e gastronómico.

O enoturismo entrou no programa há coisa de três anos e, além das provas, a família Areias Azevedo tenta dinamizar a quinta com actividades para toda a família, como workshops artísticos, aulas de ioga e piqueniques. “Todos os primeiros domingos de cada mês fazemos uma caminhada pela Penha”, informa ainda Filipa. “Começamos na quinta e terminamos aqui com uma prova de vinhos”, revela. Cheira-nos a recompensa.

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Nos 60 hectares de mancha florestal da Montanha Penha encontra-se sombra para aliviar dias quentes, mas também vistas privilegiadas sobre Guimarães e arredores. Maria João Gala

O legado da indústria têxtil

Em Moreira de Cónegos, no extremo sul do concelho, o Comendador Joaquim Almeida Freitas, importante industrial da região, não só dá o nome ao estádio do Moreirense, como também esteve na origem de dois outros ícones da vila, ali mesmo ao lado: o restaurante São Gião, referência na gastronomia nacional, e a Quinta de São Gião, que marca a paisagem da zona com as suas parcelas de vinha incrustadas entre a malha industrial (ambos vão buscar o nome ao lugar de São Gião, onde têm morada).

Foi ao empresário têxtil que Pedro Nunes, então chefe de vendas de uma empresa de máquinas agrícolas, alugou um edifício a dez quilómetros do centro de Guimarães, em resposta a um anúncio no jornal, onde viu a oportunidade de dar asas ao seu gosto pela cozinha. Estávamos em 1987. “O objectivo do Comendador Joaquim Almeida Freitas era ter um sítio onde pudesse trazer os clientes dele, onde os industriais da zona pudessem trazer a clientela e onde pudesse servir também o próprio vinho”, conta João Nunes, no restaurante que o pai fundou. Nasceu aí uma sinergia entre a mesa do São Gião e os vinhos da quinta homónima, que dura até hoje.

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O restaurante São Gião é um clássico do panorama gastronómico nacional. O ambiente é de elegância intemporal, marcado por uma lareira ao centro e janelas rasgadas a toda a largura. Maria João Gala

Numa sala de elegância intemporal, marcada por uma lareira ao centro e janelas rasgadas a toda a largura, que deixam ver a vinha de alvarinho da Quinta de São Gião, serve-se uma cozinha enraizada na tradição, mas com traços de modernidade e de outras influências. Clássicos como as tripas à moda de São Gião ou a salada de pescada e gambas (servida fria, mas um sucesso todo o ano), partilham a ementa com novidades frequentes: a empada de perdiz, o spaghettoni de sapateira e cunquate ou o salmonete au meunier, que harmoniza habitualmente com um alvarinho com oito meses de estágio em barricas de carvalho francês, uma das 11 referências produzidas pela Quinta de São Gião.

A produção de vinho iniciou-se em 1972, às mãos do comendador, e é o filho Pedro Almeida quem dá continuidade ao legado do industrial visionário, com 32 hectares de vinha e mais oito recém-plantados. Em 2020, Nuno Reis assumiu a enologia, com o objectivo de rejuvenescer o portefólio e criar vinhos “para a mesa”. Em matéria de novidades, o enólogo aponta os holofotes para o rosé de espadeiro e para um pét-nat de arinto, leve, fresco e límpido. Ainda nas novidades, mas no campo do enoturismo, está prevista para o próximo ano a abertura de uma nova adega, com centro de visitas e provas, onde estará também presente a veia coleccionista da família, com uma galeria de arte.

Em jeito de remate, uma boa oportunidade para conhecer de uma só assentada todos os produtores de Guimarães é o Vinhos Vimaranes, um evento vínico, promovido pela recém-criada Confraria Terras de Vimaranes, que acontece nos dias 31 de Maio e 1 de Junho na Fábrica da Ramada. Como se faltassem pretextos para regressar à cidade. Há ainda muito a descobrir.

Nuno Reis assina, desde 2020, a enologia da Quinta de São Gião, em Moreira de Cónegos Maria João Gala
A sala do restaurante São Gião tem vista para as vinhas da Quinta de São Gião, cujos vinhos marcam também presença à mesa. Maria João Gala
A salada de pescada e gambas é um dos pratos clássicos do restaurante São Gião, um farol da gastronomia nacional. Maria João Gala
No restaurante São Gião, a sala está por conta de João Nunes, enquanto o seu pai Pedro Nunes, que fundou a casa em 1987, se ocupa da cozinha. Maria João Gala
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Nuno Reis assina, desde 2020, a enologia da Quinta de São Gião, em Moreira de Cónegos Maria João Gala

Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.

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