Em prova: o loureiro ganha peso entre os melhores brancos
Agora que descobriu o caminho da enologia, o loureiro afirma o seu potencial para Vinhos Verdes de grande qualidade, que ganham com o tempo em garrafa, e capazes de acrescentar reconhecimento à região
O carácter vibrante e expressivo, com intensidade fresca, equilíbrio e elegância, sempre conferiu aos vinhos da casta loureiro um perfil muito atractivo e consensual. Mas a região esteve demasiado tempo fixada na sua frescura e juventude, e só agora mostra estar também atenta ao seu enorme potencial para fazer brancos clássicos, sérios, gastronómicos, complexos e estruturados, e com extraordinária capacidade de envelhecimento.
O loureiro está a tornar-se um caso sério entre os vinhos portugueses, capaz de acrescentar valor e notoriedade à região, uma mudança que ficou bem patente nesta prova feita pela Singular na Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVR), mostra do caminho de modernidade que está a ser trilhado pela generalidade dos produtores.
Provados às cegas, desapareceram quase por completo os vinhos com apontamentos de gás e doçura até há pouco tidos como típicos dos vinhos da região. Em dezena e meia de amostras, a tónica geral foram os vinhos secos, complexos e equilibrados, resistindo doçura residual apenas em duas amostras, uma dela também com pico gasoso. Parecia mentira, mas foi-nos garantido que estas eram mesmo as amostras remetidas pelos produtores, sem qualquer selecção ou escolha.
Um belo retrato, portanto, do caminho de valorização e modernidade que está a ser trilhado na região, logo comprovado quando se destaparam as garrafas por rótulos de produtores de referência e enólogos com prestígio, como Anselmo Mendes. Agora, que se descobriu o caminho da enologia, o loureiro afirma o seu potencial para brancos de grande qualidade, que ganham com o tempo de estágio em garrafa, e capazes de acrescentar valor e reconhecimento.
A casta, dominante na região e com capacidade para produzir com qualidade em boas quantidades, encontra nas zonas mais baixas, sobretudo nos vales do Lima e do Cávado, as condições mais favoráveis para o desejado equilíbrio dos vinhos, mas também no Ave, onde se acentua o seu lado mais vegetal, ou no Sousa e Tâmega, com perfil aromático menos exuberante e mais estrutura, se vão produzindo vinhos de grande qualidade.
Cada vez mais bem trabalhado na vinha, com produções e maturações controladas, e na adega, com estilos diversificados e enologia mais afinada e rigorosa, o loureiro está a tornar-se um caso sério entre os brancos portugueses. O passo seguinte passa por lançamentos com estágio prolongado ou de colheitas mais antigas para confirmar o estatuto de clássico.
Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.
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