Mais 49 cadáveres descobertos em vala comum junto ao Al-Shifa, em Gaza
De quase 400 corpos encontrados sob os hospitais al-Shifa e Nasser, só 65 foram identificados. Sinais de mutilação e tortura dificultam reconhecimento, denunciam autoridades de Gaza.
Continua a subir o número de corpos encontrados em valas comuns junto a complexos hospitalares na Faixa de Gaza. As autoridades palestinianas confirmaram esta quinta-feira que foram exumados 49 cadáveres da última vala descoberta, sob o Al-Shifa, na cidade de Gaza.
A retirada das forças israelitas para a intensificação da ofensiva militar no Sul do enclave permitiu acelerar as buscas por vítimas palestinianas, que continuam a decorrer.
Só no Hospital al-Shifa, na cidade de Gaza, foram descobertas três valas comuns. Outras três estavam junto ao Hospital Nasser, em Khan Younis, no Sul, e uma última no complexo hospitalar Kamal Adwan, no Norte. Pelo menos 520 corpos de homens, mulheres e crianças, incluindo doentes, foram exumados destas sete valas, segundo as autoridades locais.
“Esta é a prova da brutalidade do Exército de ocupação criminoso nas sistemáticas agressões contra o povo palestiniano e o sistema de saúde”, lê-se num comunicado do Governo da Faixa de Gaza, sob controlo do Hamas, citado pela agência de notícias turca Anadolu. “A ocupação procura destruir as bases da vida em Gaza para concretizar os seus planos de extermínio e expulsão.”
No total, ao longo de sete meses de retaliações militares israelitas, após o ataque do Hamas a 7 de Outubro, já foram abertas “cerca de 140 valas comuns” na Faixa de Gaza, algumas com centenas de corpos, de acordo com um relatório da organização Euro-Med Human Rights Monitor, publicado a 25 de Abril.
Em alguns casos, os corpos estavam de mãos atadas, apresentando sinais de tortura e execuções a tiro. Outros terão sido enterrados vivos, admitem especialistas das Nações Unidas, que se dizem “horrorizados com os pormenores que emergem das valas comuns” agora reveladas.
De mais de 390 corpos sepultados sob os complexos hospitalares de Shifa e Nasser, apenas 65 foram identificados por familiares, tendo em conta o avançado estado de decomposição e as formas de mutilação e tortura de que terão sido vítimas, explica Yamen Abu Suleiman, chefe do departamento de Defesa Civil de Khan Younis.
“Após semanas, as sepulturas foram encontradas, ainda se sente o cheiro da morte dentro do Al-Shifa. E acreditamos que existam mais destas valas”, afirmou Mu’tasim Salah, membro do comité de emergência do Ministério da Saúde de Gaza.
Salah relatou também a descoberta de crânios, separados dos corpos, desafiando instituições internacionais da área da justiça e da saúde a ir à Faixa de Gaza investigar e “documentar tais crimes, de modo a responsabilizar o Estado de ocupação”.
Desde 7 de Outubro do ano passado, mais de 35 mil palestinianos foram mortos sob fogo israelita, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada, e quase 80 mil ficaram feridos. A maioria das vítimas mortais (cerca de 70%) são mulheres e crianças.
A Euro-Med Human Rights Monitor estima que existam ainda “mais de 13 mil palestinianos desaparecidos sob escombros, enterrados de forma indiscriminada em valas comuns ou presos” em centros de detenção israelitas — onde também morreram algumas dezenas de palestinianos detidos, em circunstâncias ainda por esclarecer pelo Governo de Israel.