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A questão da moeda única seria importante no momento da adesão – e mesmo assim teria de ser bem ponderada – e não agora.

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Megafone P3: Portugalexit Eric Gaillard
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Foi no arranque da campanha para as europeias que João Ferreira ressuscitou o tema que o PCP usou como bandeira durante a crise de 2008: a saída do euro. A preparação para uma eventual saída ou até mesmo para uma situação em que a moeda única deixe de existir.

Percebo que devamos estar minimamente preparados para um eventual desastre económico de ordem tal que acabe com a moeda única (porque desastres económicos descabidos não têm faltado). Também percebo o desejo da autonomia na política monetária, que não conseguimos ter com a moeda única e que é tão útil como mecanismo de estabilização da económica. Mas ambas as questões são extemporâneas.

Primeiro, é importante ressalvar que um cenário em que a moeda única se extinga é extremamente improvável: não só devido aos obstáculos políticos e práticos envolvidos, mas pelos benefícios económicos e políticos que ela oferece a todos os envolvidos. A zona euro foi baseada em tratados complexos e qualquer mudança significativa exigiria o consenso de todos os países membros. Além disso, o euro proporciona estabilidade económica, facilita o comércio e os investimentos (não esqueçamos os riscos inerentes às trocas que a moeda única reduz), e confere à economia europeia uma posição de destaque global. Em vez de especular sobre o fim do euro, é mais construtivo concentrar esforços em abordar os desafios dentro da zona euro, promovendo reformas estruturais e fortalecendo a política económica europeia.

Segundo, reintroduzir uma moeda portuguesa seria um choque para a nossa economia: é quase certo que a moeda entraria em queda livre mal chegasse aos mercados. Em termos práticos, aumentariam os custos das importações (e já não vivemos numa economia que praticamente só exporta há 50 anos), aumentaria a inflação e escassearia o acesso a financiamento externo, para além do impacto na nossa dívida pública, que está, atualmente, maioritariamente quantificada em euros. Além disso, a reintrodução de uma moeda nacional poderia minar a confiança dos investidores e afetar negativamente o nosso crescimento económico.

Com todos os defeitos que a moeda comum tem (e sou a primeira a reconhecer os problemas da ideia), é importante reconhecer que a estabilidade proporcionada pelo euro tem sido um fator-chave para o crescimento económico e a atração de investimentos para Portugal, não fazendo qualquer sentido abandonar o barco depois de já estarmos em alto-mar. A questão seria importante no momento da adesão – e mesmo assim teria de ser bem ponderada – e não agora.

Portanto, apesar de o desejo de autonomia na política monetária ser totalmente compreensível, é essencial considerar os potenciais custos e riscos de uma saída do euro para nossa a economia. Em vez de usarmos estas ideias para ter visibilidade na campanha para as europeias, é fundamental trabalhar para fortalecer a união monetária europeia e promover políticas que estimulem o crescimento económico e a estabilidade na região. E isso inclui a implementação de reformas estruturais para fortalecer a competitividade económica e a criação de mecanismos de solidariedade para lidar com desafios comuns, mas assimétricos (olá, trauma do último resgate da Troika). Só através de uma abordagem colaborativa e pragmática será possível enfrentar os desafios económicos e políticos de hoje.

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