Cartas ao director
Votos de ano novo
Porque estão a fechar empresas portuguesas que fabricam componentes para a indústria automóvel? Porque que é que as últimas composições do Metro do Porto e os autocarros eléctricos dos STCP são chinesas e não ocidentais? Talvez para isso esteja a contribuir uma Europa que tenha servilmente obedecido à agenda norte-americana, com a Alemanha a pagar 250% mais pelo gás americano, e tenha desviado uma parte substancial dos seus recursos para alimentar uma guerra perdida. A Europa está a ficar para trás, e Portugal não descola do coro regido pela batuta americana.
Um Governo que funciona como pau mandado não dignifica o país. Faço votos para que o nosso Governo deixe de ser mais uma ovelha no rebanho da União Europeia e seja capaz de lutar pela defesa de valores civilizacionais da Europa, impondo sanções a Israel para acabar com o genocídio em curso, e contribuindo também para iniciar um caminho de paz para a Ucrânia, numa guerra trágica que está afundar a Europa. Se já não pertencemos a um clube muito restrito dos senhores do mundo, ao menos sejamos respeitáveis!
José Cavalheiro, Matosinhos
Israel e o Papa Francisco
“Precisamos de uma fé madura... para um mundo de Putins e de assassinos em massa que assaltam todos os continentes”, escreve frei Bento Domingues no PÚBLICO de domingo. Aprecio as posições do frei Bento há mais de 50 anos; porquê nomear Putin e deixar Netanyahu nos assassinos anónimos?
Na véspera, o Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita acusou o Papa Francisco de usar “dois pesos, duas medidas” por ter condenado a “crueldade” de um ataque israelita que matou sete crianças em Gaza. Israel condena todos os que lhe apontam crimes: os organismos das Nações Unidas, a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch; e cortou relações diplomáticas com a Irlanda que teve a mesma coragem.
Israel tem razão num ponto: é preciso acabar com os “dois pesos, duas medidas”. O Hamas matou cerca de 1200 civis em Outubro 2023, Israel matou mais de 45.000 desde então só em Gaza, e submete mais de dois milhões de civis ao que corresponde a um genocídio.
Jean Pierre Catry, Lisboa
Centeno e o défice
O ex-ministro das Finanças Mário Centeno mostrou-se preocupado com a possibilidade do regresso do défice nas contas públicas. Mário Centeno é muito bem-visto no PS, pela recuperação das contas públicas num passado recente. Sabemos que por conta da sua oposição os salários dos professores não recuperaram o tempo de serviço perdido no Governo de Passos Coelho. Sabemos que por sua oposição não foram repostos os salários e pensões das forças de segurança e da generalidade dos funcionários públicos. Sabemos que o PS continuou com essa política depois da queda do Governo devido à não aprovação do OE para 2022. Sabemos que a queda do Governo de António Costa em 2023 foi por muitas razões mas também por essa. Sabemos que a AD ganhou as eleições de 2024 porque prometeu dar tudo o que o PS recusou às diversas classes de funcionários públicos. Centeno está preocupado com os aumentos salariais da generalidade dos funcionários públicos que podem pôr em causa as contas públicas, mas não parece preocupado com a perda de dinheiros dos impostos do IRC e dos benefícios fiscais para as grandes empresas, aquelas que ganham todos os dias muitos milhões de lucros por dia. A isto chama-se política de classe a favor dos mais ricos, ou não será?
Mário Pires Miguel, Reboleira
Barreto e a imigração
O sociólogo António Barreto escreveu no PÚBLICO: "Em quase todos os países europeus ou ocidentais, tem-se verificado um aumento permanente no número de imigrantes, assim como o do contributo destes para o desenvolvimento económico e o progresso das sociedades. Mas também para o surgimento de problemas de integração, de convívio e coexistência entre comunidades (...)." E acrescenta: "Deixar correr, não tentar controlar, não definir horizontes, não estipular condições e não fazer um colossal esforço de integração são erros crassos cujos preços a Europa começa a pagar."
Caro António Barreto, qualquer responsável político ou jornalístico deveria visitar os países nórdicos e tentar perceber o porquê de estes terem hoje uma das políticas mais restritivas à imigração. Estará a falhar o multiculturalismo? O excepcionalismo fazia parte destes povos tolerantes, reservados e com um sistema social único. A Dinamarca em 1983 foi o primeiro país signatário da Convenção 951 que proíbe a repatriação de refugiados de guerra ou de perseguidos. Após décadas de tentativas de integração de largas comunidades muçulmanas, as fissuras sociais são cada vez maiores. Aprender com estes povos nórdicos e prevenir o nosso futuro deveria ser o lema dos nossos dirigentes.
Fernando Ribeiro, S. João Da Madeira