Obras compradas ao Estado por empresa de Berardo expostas no Funchal
Mostra reúne peças que o empresário comprara a meias com o Estado nos primeiros anos do Museu Berardo. Associação de Colecções (a que Berardo preside) adquiriu-as em Outubro do ano passado.
Uma parte significativa das 219 obras de arte que José Berardo e o Estado português compraram desde 2007 para o Museu Colecção Berardo, e que em Outubro do ano passado foram adquiridas pela Associação de Colecções, sociedade madeirense que integra o universo de entidades controladas pelo empresário, está em exposição no Monte Palace Madeira — Jardim Tropical, espaço museológico e natural no Funchal que é detido pela Associação de Colecções.
A mostra O Mundo Começa Aqui!, inaugurada esta quarta-feira, reúne cerca de 130 peças, que incluem uma selecção das 219 compradas pela Associação de Colecções ao Estado (ao qual pagou a parte que este havia desembolsado aquando da aquisição para o entretanto extinto museu), assim como um conjunto de esculturas feitas no âmbito de uma residência artística pelo artista Paulo Neves. Ana Mendieta, Ângelo de Sousa, Fernanda Fragateiro, Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Joaquín Torres-García, José Loureiro, Lourdes Castro, Pedro Cabrita Reis, Willem de Kooning e William Kentridge estão entre os grandes nomes nacionais e internacionais que fazem parte da exposição.
“O espaço do Museu Monte Palace não tinha escala suficiente para comportar as obras compradas em Outubro do ano passado (há esculturas de Rui Chafes, por exemplo, que são de uma dimensão monumental). Mas existe a ambição de que a colecção integre o circuito nacional e internacional de exposições”, diz ao PÚBLICO Álvaro Silva, um dos comissários da mostra (juntamente com Carina Bento).
Estas 219 obras de arte do antigo Museu Colecção Berardo foram compradas com dinheiro proveniente de um fundo de aquisição co-financiado em partes iguais pelo empresário e pelo Estado. O protocolo que firmaram para a criação do museu, no interior do Centro Cultural de Belém, ditava que, em caso de dissolução da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea — Colecção Berardo, o empresário podia adquirir os itens comprados com recurso a esse fundo, ou indicar alguém para o fazer por ele, pagando ao Estado aquilo que este desembolsara na altura por cada uma das diferentes peças.
A fundação foi extinta por decreto-lei no final de 2022, cerca de quatro anos e meio após a Colecção Berardo ter sido arrestada pelo Estado.