Itália vai apreciando os últimos cartuchos de Olivier Giroud

O avançado francês voltou a marcar pelo AC Milan e soube-se há dias que deverá mudar-se para os Estados Unidos. Este é o fim europeu de um dos jogadores mais subvalorizados do futebol mundial.

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Giroud em acção pelo Milan Daniele Mascolo / REUTERS
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Há jogadores que passam pelo futebol e não deixam uma marca especial. Uns por não serem especialmente talentosos, outros por não serem carismáticos, outros por terem falhado conquistas colectivas e outros por infortúnios que lhes enevoaram o talento. Depois, há Olivier Giroud.

Aos 37 anos, o avançado francês tem talento técnico raro, tem golos, tem títulos, tem carisma e tem presença sucessiva em equipas, campeonatos e competições de primeira água. Ainda assim, o futebol dificilmente lembrará Giroud como um avançado tremendo. Porquê? É difícil saber.

Se alguém fizer um ranking de jogadores mais subvalorizados do mundo, é bem provável que Giroud possa aparecer por lá – e num lugar bem destacado.

Neste domingo, o francês marcou mais um golo. Ajudou o AC Milan a fugir à derrota frente ao Genoa (3-3) e já vai com 16 golos e dez assistências na temporada.

Este gancho de actualidade não se baseia no golo que marcou, já que os jogos que faltam nesta temporada deverão ser os últimos em que o veremos num grande campeonato.

Há quatro dias, Didier Deschamps, seleccionador francês, descaiu-se sobre o futuro de Giroud, dizendo que deverá ir para os Estados Unidos, juntando-se a Hugo Lloris no Los Angeles FC.

“Se este vai ser o último Euro do Giroud? Sim, acho que sim”, apontou Deschamps, falando de “uma escolha desportiva e uma escolha de vida”.

“Apesar da sua idade e da sua experiência, ainda tem a chama dentro de si. Talvez seja também uma oportunidade, além do reencontro com Lloris. Ele quer continuar a sua carreira, mas com padrões um pouco mais baixos do que na Europa. No entanto, isso não muda a minha escolha imediata [de convocar Giroud para o Euro 2024], já que ele estará no Milan até o final da temporada”, acrescentou o seleccionador gaulês, que nunca abdica de Giroud nas suas convocatórias e até mesmo nos seus “onzes”.

Quem gosta de ver Giroud tem de aproveitar bem o pouco que ainda falta.

Faz um pouco de tudo

Num plano objectivo, podemos dizer que Giroud é fisicamente lento, não é muito auto-suficiente, não destrói defesas em lances de um contra um e não marca 30 ou 40 golos por temporada.

Mas também será mais ou menos consensual que o controlo de bola de Giroud é formidável, que a capacidade de jogar e associar-se em apoios frontais é do melhor que há, que há poucos jogadores daquele tamanho com tanta técnica, que o jogo de cabeça é de topo mundial e que a capacidade de finalização é assinalável: desde 2008 (!) nunca teve uma temporada – nem uma – abaixo da dezena de golos. São 17 temporadas, sendo que em sete delas rondou ou superou os 20 golos.

Recuperemos uma premissa do início deste texto, na qual se dizia que o avançado francês tem talento técnico raro, tem golos e tem títulos.

Golos? Está provado – e, para os mais desconfiados, fica o dado que diz que até é o melhor marcador de sempre da selecção francesa, mesmo que vá acabar por ser ultrapassado por Mbappé.

Talento? Basta ver as recepções de bola e os golos que faz – é mestre em finalizações difíceis, há compilações só com golos incríveis de Giroud e até já venceu um prémio Puskás.

Títulos? Mundial, Champions, Liga Europa, Liga Francesa e Série A já são qualquer coisa.

O avançado francês é ainda alguém que permite aos treinadores jogarem em vários sistemas. É forte fisicamente, bom finalizador e tremendo no jogo aéreo, caso tenha de funcionar como “pinheiro” de um 4x3x3. Mas também tem técnica e mobilidade para ser perfeito para um 4x4x2, seja para se associar, seja para servir de engodo para libertar um jogador como Griezmann ou Mbappé.

“É o sonho de um treinador. Ele faz tudo e está em todo o lado. E é um génio: pode fazer algo acontecer, marcar um golo, fazer um passe.. faz a coisa certa no momento certo”, chegou a dizer Joe Cole, ex-jogador do Chelsea, que usou ainda uma forma interessante de provar o seu ponto: “Há uma razão para o Deschamps não abdicar dele na selecção francesa”.

Em rigor, têm havido avançados bastante mais renomados a ficarem na sombra de Giroud na selecção – Benzema é um deles. E Giroud já marcou mais golos do que todos eles. Mesmo todos. De Benzema a Henry, passando por Platini, Griezmann, Fontaine ou Papin, Giroud tem mais golos do que qualquer outro francês.

Tem técnica, marca golos, tem títulos, jogou nos melhores campeonatos e competições do mundo e até faz coisas dignas de vídeos para redes sociais, com golos olímpicos.

Giroud vai para os Estados Unidos e dificilmente será lembrado da forma que merece.

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