HRW diz que as forças russas terão executado soldados ucranianos que se renderam
Organização de direitos humanos denuncia alegada execução de mais de 20 soldados ucranianos e exige investigação à Rússia por crimes de guerra na Ucrânia.
Membros das Forças Armadas da Federação Russa terão executado pelo menos 15 soldados ucranianos que tentavam render-se e outros seis que já se tinham rendido, denuncia a Human Rights Watch (HRW). Os alegados crimes, que a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos exige que sejam investigados como crimes de guerra, terão ocorrido nos últimos seis meses.
Num relatório publicado esta quinta-feira, a HRW diz que as suas denúncias se baseiam na análise de imagens captadas por drones, de vídeos publicados online e nas redes sociais, em reportagens sobre a guerra na Ucrânia e em entrevistas com soldados ucranianos.
“Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia que as suas forças cometeram muitos crimes de guerra hediondos”, acusa Belkis Wille, directora associada da divisão de Crises e Conflitos da HRW. “A execução sumária – ou assassínio – de soldados ucranianos rendidos e feridos, mortos a sangue-frio, expressamente proibida pelo direito internacional humanitário, também está incluída nesse legado vergonhoso”, afirma, citada pelo site da organização.
Since early Dec, footage shows Russian forces gunning down at least 15 Ukrainian soldiers attempting to surrender on battlefield, and possibly six more. Russian drone recording captures voice giving orders to “take no prisoners, shoot everyone.” https://t.co/HR6FnDTTmp pic.twitter.com/GNf6jM5OSv
— Belkis Wille (@belkiswille) May 2, 2024
Num dos cinco incidentes verificados e analisados pela HRW, ocorrido a 25 de Fevereiro, na vila de Ivanivske (Donetsk), as imagens captadas por um drone, cuja veracidade e localização foram confirmadas por especialistas da organização e do site GeoConfirmed, mostram pelo menos sete soldados ucranianos a saírem de uma trincheira e a retirarem as protecções. Um deles também retira o capacete e os sete aproximam-se “de cabeça baixa” de cinco soldados russos “identificáveis” como tal.
“Três soldados russos disparam contra os soldados ucranianos claramente rendidos, por trás e de ambos os lados. Seis dos soldados ucranianos permanecem de cabeça baixa, reagindo visivelmente ao impacto dos disparos, enquanto outro tenta reentrar na trincheira, mas é atingido antes de o conseguir”, descreve a HRW.
Num outro incidente, ocorrido a 5 de Fevereiro, também filmado por um drone russo, na região de Donetsk, no Leste da Ucrânia, “uma voz masculina” dá ordens a um grupo de soldados russos que acabam de capturar combatentes ucranianos e diz: “Não façam prisioneiros, disparem contra toda a gente.”
Sublinhando que a Rússia é signatária de vários tratados internacionais que proíbem expressamente as execuções extrajudiciais, nomeadamente o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, a HRW diz que endereçou uma carta ao ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, no dia 22 de Abril, a pedir explicações sobre as conclusões e as denúncias da sua investigação. Mas não obteve qualquer resposta.
“Embora cada um destes casos seja horrível, o que é talvez mais condenável são as provas que indicam que, em pelo menos um caso, as forças russas deram ordens explícitas para matar soldados, em vez de os deixarem render-se, corroborando, dessa forma, crimes de guerra”, diz Wille.
O Governo e a Procuradoria-Geral da Ucrânia já tinham denunciado, no final do ano passado, a execução de soldados ucranianos rendidos por parte das forças russas, acusações que o Kremlin sempre negou.