FMI: correcção dos preços das casas em Portugal não será repentina

Para responsável do FMI, aumento resulta de “uma escassez de oferta”, pelo que não espera “uma correcção repentina nos preços da habitação residencial”

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O FMI reviu em alta o crescimento económico de Portugal Yuri Gripas / REUTERS
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O director do FMI para a Europa admitiu neste sábado que a correcção nos preços da habitação em Portugal não será repentina e defendeu um aumento da oferta para responder a uma dificuldade que é transversal a outros países.

Em entrevista à Lusa, o director do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Europa, Alfred Kammer, considerou que Portugal registou aumentos significativos nos preços das casas nos últimos anos, mas assinalou que é um cenário que se estende a outras economias.

"Os preços das casas [em Portugal] aumentaram, dos níveis de 2015 até agora, em 111%, contra 42% na zona euro. É um aumento muito maior", disse. Alfred Kammer salientou que se assiste a um abrandamento nos preços da habitação na média dos países da moeda única, mas isso ainda não se verifica em terras lusas.

"Em Portugal os preços residenciais ainda continuam a aumentar", apontou, acrescentando que, contudo, o FMI não está preocupado com o impacto destes aumentos na "estabilidade financeira".

Para o responsável do FMI, este aumento resulta de "uma escassez de oferta", pelo que a instituição não espera "uma correcção repentina nos preços da habitação residencial".

"Esta é uma grande questão não só em Portugal, mas em vários países europeus. É uma questão de acessibilidade da habitação e, portanto, o que é preciso é criar o espaço regulatório e aumentar a oferta. O que o Governo também está a fazer é ter investimento público para criar habitação social", apontou. Para Alfred Kammer, "estas são duas boas respostas políticas e devem ser prosseguidas".

"Tínhamos feito um estudo sobre a questão da acessibilidade dos preços da habitação e dos arrendamentos há alguns anos e uma das grandes questões que daí resultou foi que não se trata apenas de uma questão de política social. É também uma questão de produtividade e de crescimento", disse, argumentando que os centros de produtividade geralmente estão nos centros urbanos.

Neste sentido, recorda que os jovens estão a deslocar-se mais para os centros urbanos. "Se não houver habitação, não podem deslocar-se para os centros urbanos e isso prejudica a produtividade e o crescimento do país. Portanto, é uma questão muito maior do que apenas uma questão de equidade e justiça", justificou.

Elogios ao "crescimento forte" da economia

Alfred Kammer elogiou ainda a evolução da economia portuguesa, recomendou uma reforma fiscal abrangente e avisou que incertezas, sejam políticas ou externas, têm sempre impacto no investimento.

Questionado se um governo minoritário pode ser um risco para as perspectivas económicas portuguesas, admitiu que "a incerteza é sempre algo negativo" e deve-se "tentar reduzi-la" tanto quanto possível.

"Sempre que há um aumento de incerteza, de onde quer que venha, há um impacto, nomeadamente no investimento, por causa das perspectivas. Isso é um problema e não importa se vem de um governo minoritário, ou da percepção de uma mudança nas políticas, ou se vem de uma elevada incerteza externa, incluindo de uma fragmentação geoeconómica", disse.

No entanto, destacou que "Portugal teve um crescimento muito forte nos últimos anos", apesar do abrandamento previsto para este ano, mas ainda assim acima da zona euro.

"O que estamos a assistir são os efeitos da política monetária europeia, que estão a deprimir a procura, mas também a diminuir a procura externa, mas o crescimento foi bastante forte e bastante robusto ao longo dos últimos anos", assinala.

O FMI reviu em alta o crescimento económico de Portugal para 1,7% este ano, mostrando-se ligeiramente mais optimista do que o Governo (1,5% num cenário de políticas invariantes), e cortou a taxa de inflação para 2,2%, segundo as previsões económicas esta semana divulgadas.

No retrato que traça da economia portuguesa, o responsável do FMI destaca a trajectória de redução da dívida pública face ao PIB nos últimos anos, tendo-se fixado em 99,1% em 2023.

"Portugal fez um trabalho excepcionalmente bom na redução da dívida pública ao longo da última década. É um dos rácios dívida/PIB com o declínio mais rápido na Europa após a pandemia, ao ter caído de 135% do PIB para 99% do PIB", aponta.

Alfred Kammer defende a importância desta opção, argumentando que uma dívida elevada cria vulnerabilidades e é "um fardo" quando taxas de juros mais altas sobem o custo do serviço da dívida.

"Foi uma conquista notável e achamos que uma política orçamental prudente deve continuar a ser seguida no futuro", recomenda, argumentando que se devem criar almofadas para despesas públicas adicionais no futuro.

Elenca assim entre as sugestões para Portugal "uma reforma orçamental abrangente, eliminando ou reduzindo despesas orçamentais, aumentar gradualmente o preço do carbono e a sua tributação e concentrar-se em algumas das pressões de despesa que estão a surgir devido ao envelhecimento da sociedade".

Defende ainda que "o investimento público tem um papel importante e para isso precisamos de ter espaço orçamental".

O FMI prevê um excedente orçamental de 0,2% do PIB este ano e um rácio da dívida de 94,7% e de 80,1% em 2028.

A instituição com sede em Washington melhorou esta semana em 0,1 ponto percentual (pp.) a previsão do crescimento global para 3,2% este ano e aponta para um avanço da economia da zona euro de 0,8% no ano corrente.