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O antigo chalet de D. Maria Pia é um ícone do Monte Estoril — e voltou à sua forma original
Pinturas no tecto, padrões geométricos no chão e no telhado. Parece coisa do século XIX (e é), mas foi reabilitado em 2023. A modernização ficou para segundo plano.
Construído no século XIX, o chalet da rainha D. Maria Pia de Sabóia, no Monte Estoril, foi reabilitado em 2023, com o objectivo de preservar o seu carácter "patrimonial e histórico", diz o arquitecto Nuno Mateus, responsável pela obra, ao P3. A intenção, frisa, era clara: manter o original, sem "nenhum rasgo inovador".
Com vista para a Baía de Cascais e localizado mesmo em frente ao mar, o edifício apresentava sinais de degradação naturais em construções altamente expostas à maresia — por exemplo, a corrosão das colunas de pedra que limitam a varanda do primeiro piso. No entanto, para o arquitecto do atelier ARX Portugal, estas são um dos elementos arquitectónicos mais relevantes da obra e, por isso, foram reabilitadas em vez de substituídas. "A erosão faz parte da passagem do tempo", afirma.
O telhado do chalet, onde é possível ver a maior alteração face ao projecto anterior, surge agora como um dos elementos mais distintivos e imponentes da obra. O telhado antigo, colocado em 2000, era composto por telhas de cerâmica, vidradas a preto. Contudo, as fotografias anteriores permitiram perceber que essa não era a cobertura original.
O telhado preto deu lugar a telhas de duas tonalidades diferentes, umas em branco outras em barro natural, cuja disposição permitiu criar losangos ao longo de toda a cobertura, numa reprodução fiel do padrão observado em fotografias oitocentistas, tiradas pela própria rainha.
No interior, tanto os pavimentos como os tectos trabalhados querem reproduzir o desenho original. No entanto, o palacete tinha uma particularidade: a maioria dos elementos decorativos estava concentrada apenas no primeiro piso, onde foi possível encontrar tectos ornamentados com pinturas e adornos de madeira ou estuque, assim como pavimentos de madeira maciça com padrões geométricos. Numa tentativa de criar harmonia e para melhor aproveitar a singularidade do chalet, o atelier serviu-se da informação ornamental aí contida e replicou-a nos outros andares. "Deixámos que a casa se regenerasse", afirma Nuno Mateus.
O primeiro passo foi estudar o edifício, compreender o original através do que já lá estava e identificar os acrescentos posteriores. Depois, foi preciso construir um projecto capaz de juntar a essa base original, as condições necessárias de segurança e conforto, de forma a tornar o chalet habitável. No entanto, a modernização ficou para segundo plano, assume o arquitecto. Quem escolhe viver nos antigos aposentos de uma rainha sabe ao que vai, acredita.
Com quatro pisos e um sótão, o palacete foi dividido verticalmente em quatro habitações autónomas. O terceiro andar e o sótão formam um duplex. O sótão, onde a largura das janelas foi aumentada para garantir entrada de luz natural, resulta do aproveitamento da parte superior do telhado. A subdivisão do edifício implicou a rotação em 90º da escada exterior, de forma a manter as quatro fracções independentes sem que fossem necessárias alterações no interior.
O empreendimento Villa Maria Pia inclui ainda a construção de dois novos complexos de habitação. O arquitecto destaca a "dupla condição do projecto", que lhe permitiu conjugar a contemporaneidade com um legado arquitectónico do século XIX.