Numas eleições dominadas pelos entendimentos, Albuquerque não tem “linhas vermelhas”
Todos os partidos com assento parlamentar estabelecem como meta aumentar a representação. Mas só PSD e IL se mostram abertamente disponíveis para dialogar com todas as outras forças políticas.
Os vários candidatos às eleições regionais antecipadas da Madeira entregaram as suas listas esta segunda-feira, com a expectativa partilhada de virem a crescer nas urnas. Mas têm estratégias bem diferentes. Desde logo, no que toca a entendimentos com outros partidos, um cenário que o cabeça de lista do PSD, Miguel Albuquerque, admite inclusive com o Chega.
À porta do Tribunal Judicial da Comarca da Madeira, no Funchal, o presidente demissionário do Governo regional definiu como objectivo "ganhar" as eleições e disse não colocar "linhas vermelhas a nenhum partido", caso não obtenha a maioria absoluta. "Dialogamos com todas as forças políticas", garantiu mesmo, após entregar a lista do PSD às eleições.
O processo em que foi constituído arguido por suspeitas de corrupção promete marcar a campanha eleitoral, mas Albuquerque desvaloriza as notícias que continuam a surgir e que diz não terem "qualquer fundamento".
Já José Manuel Rodrigues, presidente do CDS-Madeira, que era parceiro de coligação do PSD, procurou congregar votos nos centristas ao defender que os "descontentes com o PSD", os "desiludidos com o divisionismo do PS" e os "desencantados com partidos populistas", têm um "porto seguro" no seu partido.
Do lado do PS, o cabeça de lista Paulo Cafôfo apostou numa estratégia semelhante. Defendeu que as "duas únicas opções" nestas eleições são o PS e o PSD e acusou o partido de Albuquerque de estar "a cair de podre" e "amarrado a uma teia de interesses", ao contrário do PS, que "tem soluções, ideias, inovação".
Tentava, assim, afastar também o voto dos outros partidos, nomeadamente, do Chega, da IL, do CDS e do PAN, que acusou de dizerem que "querem a mudança", mas, depois, estarem "disponíveis para fazer um acordo com o PSD" e garantirem a "continuidade de Miguel Albuquerque à frente do Governo regional".
Pelo Chega, Miguel Castro assinalou que o principal objectivo da sua candidatura é "fazer crescer o grupo parlamentar". E, para isso, explorou as suspeitas de corrupção em torno de Miguel Albuquerque, acusando ainda o PS de ter "alguns dos seus candidatos envolvidos em processos", mas sem especificar quais.
Já o deputado da Iniciativa Liberal, Nuno Mora, disse igualmente ter a expectativa de "crescer e consolidar". Mas, ao contrário do Chega, e tal como o PSD, mostrou-se disponível para "conversar seja com quem for" para "chegar a entendimentos" que permitam reduzir os impostos e as listas de espera na saúde.
Por outro lado, Inês de Sousa Real, que foi à Madeira entregar as listas do partido, adiantou ao Diário da Madeira que "é difícil existir" a "possibilidade de um acordo com Miguel Albuquerque", depois de o partido ter assinado um acordo de incidência parlamentar com o PSD em Setembro. Mas assegurou que o PAN será uma "oposição construtiva, dialogante e capaz", apontando como meta ter "mais representação".
Também Roberto Almada, primeiro candidato pelo Bloco de Esquerda, defendeu o reforço da representação parlamentar do seu partido. E, tal como Paulo Cafôfo, argumentou que "a alternativa não pode ser o PSD, nem os outros partidos" porque "votar nessas forças políticas" é "votar no PSD".
Mas deixou igualmente uma farpa ao PS, ao afirmar que a alternativa também não passa pelos partidos "que se acham os maiores e os melhores". O bloquista tentava, assim, contrariar o voto útil nos socialistas, argumentando que "o voto útil de qualidade é o voto no Bloco".