Alemanha proíbe Varoufakis de falar por causa das suas ideias sobre a Palestina

O ex-ministro das Finanças grego devia discursar num congresso pró-palestiniano em Berlim que acabou por ser interrompido pela polícia, que efectuou três detenções.

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Manifestação no sábado contra a proibição do Congresso sobre a Palestina em Berlim CLEMENS BILAN/EPA
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O ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, líder da Frente Europeia de Desobediência Realista (MeRA25), que chegou a ter nove deputados no Parlamento da Grécia, foi alvo de uma proibição de falar na Alemanha por causa das suas ideias sobre a Palestina. Varoufakis está impedido de usar da palavra em qualquer evento em território alemão, inclusivamente por videoconferência.

O ex-ministro estava convidado para participar num congresso pró-palestiniano marcado para começar na sexta-feira e que acabou por ser interrompido pela polícia alemã, que nesse âmbito realizou três detenções.

Além de Varoufakis, também o cirurgião britânico-palestiniano Ghassan Abu Sittah, reitor da Universidade de Glasgow, e o historiador palestiniano Salman Abu Sitta foram alvos da mesma proibição.

O economista grego tornado político deu conta da proibição na rede social X (antigo Twitter), onde aproveitou para deixar a ligação para o discurso que iria proferir no congresso.

“O Ministério do Interior alemão emitiu uma ‘Betätigungsverbot’ contra mim, uma proibição de toda a actividade política”, escreveu. "Não é só uma proibição de visitar a Alemanha, mas estende-se à participação por Zoom."

Os organizadores da conferência, que convocaram uma manifestação de repúdio à actuação das autoridades, realizada no sábado, publicaram este domingo uma declaração onde acusam o Governo alemão de estar “a ajudar e a incentivar o genocídio” israelita em Gaza, justificando-o com “o direito à autodefesa” de Israel, ao mesmo tempo que “nega qualquer direito aos palestinianos, que há 76 anos sofrem de privação de direitos e são expulsos”.

Os organizadores divulgaram que o congresso (que deveria ter durado de sexta-feira a domingo) iria realizar-se só no domingo, permitindo a entrada apenas àqueles que tinham bilhete adquirido. Segundo a organização, terão sido vendidos 850 bilhetes. Durante a manhã, levaram a cabo uma transmissão ao vivo via Zoom do Tribunal da Conferência de Berlim.

“A Alemanha é o segundo maior fornecedor de armas para o genocídio”, justifica o congresso: “Desde Outubro de 2023, o Conselho de Segurança Federal, composto por Olaf Scholz, Wolfgang Schmidt, Annalena Baerbock, Boris Pistorius, Christian Lindner, Nancy Faeser, Marco Buschmann, Robert Habeck e Svenja Schulze, assim como pelos co-integrantes Carsten Breuer, Dörte Dinger, Steffen Hebestreit e Günter Sautter, aumentou em dez vezes a entrega de armas a Israel."

Na semana passada, no Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas, no âmbito de um processo apresentado pela Nicarágua, a Alemanha negou que estaria a “ajudar o genocídio em Gaza” ao vender armas a Israel. Mas a verdade é que, segundo dados do Ministério da Economia alemão, em 2023 a Alemanha enviou um total de 326,5 milhões de euros em equipamento militar e armas para Israel.

No sábado, justificando o cancelamento do congresso, a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, elogiou o trabalho policial: “É bom que a polícia berlinense tenha anunciado a dura repressão do chamado Congresso Palestiniano em Berlim. Estamos a acompanhar muito de perto a cena islamista.”

O aparato policial que a polícia montou em torno do local do congresso em Berlim era ostensivo, com mais de 900 polícias destacados e numerosas barreiras que condicionavam a circulação. A polícia de Berlim recebeu o reforço de agentes da Renânia do Norte-Vestefália, de acordo com o Mitteldeutsche Zeitung. As autoridades atribuíram ao evento a classificação de manifestação, estabelecendo o mesmo tipo de restrições habitualmente impostas a protestos pró-palestinianos.

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