Tasca da Tia Tina. Até ver, é aqui o epicentro da Rota Norte, uma road trip de pelo menos 777 quilómetros que antes de ser uma rota já era uma série de estradas desgarradas. "Tia Tina é a minha mãe, Albertina Neiva. Nasci nesta casa." Por isso é que Marco Neiva costuma dizer que foi aqui que nasceu a Rota Norte. "Daqui vejo a estrada. Estou a vê-la neste momento", diz, à medida que se desenrola a conversa com a Fugas sobre a sua Rota Norte que já é um livro, que é "um guia de viagem", com lançamento marcado para a manhã deste domingo, na Tasca da Tia Tina, aldeia de Feitos, Barcelos).
O projecto surgiu de uma viagem que Marco fez de bicicleta eléctrica pela EN2 durante 35 dias e 35 vídeos. À medida que se deixava levar, pensou que "o Norte também devia ter um produto turístico, uma estrada impactante que trouxesse gente de fora". Olhou para o território e saltaram à vista os eixos paralelos EN103, que liga Viana do Castelo a Bragança, e EN222, que une Vila Nova de Gaia a Vila Nova de Foz Côa. Recorda-se de ter pensado que essas estradas "sozinhas e independentes não têm muita força". E pensou que seria proveitoso "fechar o circuito" com a ajuda da EN13 na costa e, pelo interior, a EN218 e a EN221 — dupla que Marco diz ser "o segredo mais bem guardado" da Rota Norte. "Se juntarmos EN103 e a EN222, vão ganhar uma dimensão espectacular."
Sem mudar nada no mapa, começou a "desenhar" uma roadtrip circular com cerca de 777 quilómetros a unir o litoral e o interior, oito distritos, quatro sub-destinos turísticos, seis áreas protegidas e várias sob protecção cultural e natural. "A Rota Norte conecta os territórios de alta densidade com os de baixa densidade. Une o mar ao campo, o citadino ao rural. É feita de pessoas que vibram com as suas tradições, de pessoas que partilham com orgulho as lendas e histórias. É uma Rota que une o Norte, que respeita os dialectos típicos que não se perdem com a evolução do tempo. É a combinação perfeita entre o património natural e as construções feitas pelo homem."
Comparativamente com a famosa EN2, esta "não tem um início nem tem um fim, é circular e rapidamente se transforma numa estrada infinita." Pode-se começar com um copo de vinho verde na Tia Tina. Pode-se começar em qualquer parte do percurso e percorrer em qualquer um dos sentidos, isto apesar de Marco ter dado uma ordem ao livro — começa em Bragança, por ter Rio de Onor, "a aldeia mais descentralizada de Portugal", e segue o sentido dos ponteiros do relógio percorrendo as praias e o Douro internacional (e "o miradouro mais bonito" de Portugal, Penedo Durão), o Gerês, Montesinho e "aldeias fabulosas", o Douro vinhateiro, "a calmaria, a natureza"... e o atravessar da Ponte D. Luiz, "um sonho". "Percorre mais ou menos a mesma distância, mas a Rota Norte é mais concentrada e tem mais diversidade do que a N2", resume Marco Neiva, 39 anos, formado em Engenharia da Computação Gráfica e Multimédia, uma "vontade enorme de partilhar" e um "gatilho para o empreendedorismo", ou seja "uma constante vontade de fazer coisas e de inovar" — como lançar no espaço o Galo de Barcelos.
O livro é o resultado do trabalho de uma equipa de dez pessoas na recolha de informação e na potenciação de uma "marca" que vai ganhando dimensão. Lá dentro, estão os planos de Marco Neiva, mapas e listas temáticas do que ver pelo caminho, os restaurantes, os alojamentos e as curiosidades locais (o Cocó de Burro em Cinfães, a Pedra Bolideira em Chaves, etc), e as pessoas e as histórias de quem já fez a rota (como António Dias que a completou de bicicleta em 43 horas sem dormir e sem parar).
Para o autor, trata-se de mais um capítulo da sua estratégia de "dar a conhecer Portugal aos portugueses". "Comecei a conhecer melhor o território nacional do que os técnicos de turismo, a ter um pensamento mais abrangente e mais estratégico do que os responsáveis políticos. Há outras formas de promover Portugal com orçamentos mais baixos e com custos mais reduzidos", refere a propósito Marco Neiva, que diz conhecer "as dificuldades e o isolamento de alguns territórios". "Quero que a Rota Norte seja uma auto-estrada para o interior. Escrevi um livro, mas não sou escritor. Fui, aliás, um aluno medíocre a português. O importante é que seja prático e útil. Vou lançar o livro, mas o meu trabalho está feito. É um legado para o Norte, para as pessoas do Norte e para quem visitar o território."