Diferenças entre a Fed e o BCE provocam queda do euro
Depreciação do euro face ao dólar constitui um dos últimos obstáculos a um cenário de descida mais acentuada das taxas de juro na zona euro até ao final deste ano.
A expectativa de o BCE começar a cortar as taxas de juro a partir de Junho, combinada com uma maior hesitação da Reserva Federal dos EUA (Fed) em fazer o mesmo, está nos últimos dias a fazer baixar o valor do euro e a trazê-lo para perto da paridade com o dólar. Uma depreciação da divisa que pode levar a que o combate contra a inflação na Europa seja mais demorado.
Esta sexta-feira, no dia a seguir a Christine Lagarde ter, no final da reunião do conselho do Banco Central Europeu (BCE), reforçado os sinais de que a autoridade monetária pode começar a baixar as suas taxas de juro de referência no encontro agendado para 6 de Junho, o euro registou uma nova queda do seu valor face ao dólar.
A divisa da zona euro perdeu quase 1% face à sua congénere norte-americana, passando a valer 1,063 dólares e caindo para o valor mais baixo dos últimos cinco meses.
A tendência de descida acentuou-se de forma marcada esta semana, período em que o euro caiu 1,9% face ao dólar, e a perspectiva de se regressar a uma paridade entre as duas moedas começa a dominar os mercados.
A explicação para a depreciação que o euro está a registar relativamente ao dólar tem como explicação o facto de os investidores estarem a antecipar um alargamento do diferencial entre as taxas de juro em vigor na zona euro e as praticadas nos EUA.
Ao mesmo tempo que na zona euro se espera que o BCE faça um corte de 0,25 pontos percentuais nas taxas em Junho e volte a fazer o mesmo mais duas ou três vezes até ao final deste ano, nos EUA a expectativa relativamente à realização pela Fed de vários cortes de taxas no decorrer deste ano tem vindo a diminuir nas últimas semanas, à medida que são conhecidos indicadores económicos que apontam para a persistência de pressões inflacionistas e de aumentos salariais elevados.
Na quarta-feira, um dia antes da reunião do BCE, foi conhecido o valor da taxa de inflação nos EUA, que mostrou uma subida face a Fevereiro que não era esperada pelos analistas.
Por isso, aquilo que está a acontecer nos mercados é que estão a começar a antecipar um cenário em que, ao longo dos próximos meses, as taxas de juro do BCE baixam mais do que as da Fed. Isto torna os activos denominados em dólares relativamente mais atractivos e explica o porquê de o euro estar a perder terreno no mercado cambial.
Para os responsáveis do BCE, este pode ser um motivo de preocupação na hora em que tiverem de decidir, não só em Junho, mas também nos meses seguintes, se baixam as taxas de juro ou não. O problema é que um euro mais fraco face ao dólar faz com que os preços de muitos bens importados fiquem de forma imediata mais altos para os consumidores da zona euro.
Um dos exemplos mais evidentes é o do petróleo, que é transaccionado nos mercados internacionais e tem o seu preço definido em dólares. Se o euro se depreciar face ao dólar, as empresas da zona euro que importem petróleo vão ter de pagar mais em euros pelo mesmo preço em dólares.
Christine Lagarde e os restantes membros do conselho de governadores do BCE vão certamente ter em conta de que forma é que um euro mais fraco provocado pela diferença de taxas de juro entre a zona euro e os EUA pode vir, por sua vez, a atrasar o processo de recuo da inflação europeia.
Esta quinta-feira, na conferência de imprensa que se se seguiu à reunião do BCE, Christine Lagarde garantiu que as decisões que são tomadas pela instituição a que preside estão apenas “dependentes dos dados” e não “dependentes da Fed”.
Ainda assim, reconheceu que a depreciação do euro será “um factor, entre muitos outros, a ser levado em conta” nas decisões.
A expectativa dominante nos mercados é, neste momento, a de que um impasse na Fed, que terá uma reunião antes do BCE, não venha a impedir a autoridade monetária da zona euro de começar a cortar as suas taxas de juro já na reunião agendada para Junho. A diferença poderá, sim, sentir-se na forma como o banco irá estar disposto a fazer novos cortes ao longo dos meses seguintes.