Primeiro-ministro conservador da Coreia do Sul pede demissão após desastre eleitoral
Oposição derrota PPP e renova maioria na Assembleia Nacional. Gabinete presidencial não revela se o Presidente Yoon – um dos grandes derrotados das eleições legislativas – aceitou pedido de Han.
O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Han Duck-soo, e três conselheiros de topo do Presidente Yoon Suk-yeol colocaram os respectivos cargos à disposição nesta quinta-feira, na sequência do desempenho desastroso do Partido do Poder Popular (PPP, conservador) nas eleições legislativas realizadas na véspera. A apresentação destes pedidos de demissão foi revelada pelo próprio gabinete presidencial, que não esclareceu, no entanto, se Yoon os tinha aceitado.
Numa eleição que era vista como uma avaliação ao desempenho do Presidente conservador, eleito há apenas dois anos, o Partido Democrático (PD, liberal) e os seus aliados conseguiram renovar e ampliar a maioria que já tinham na Assembleia Nacional, composta por 300 deputados.
Somando os deputados eleitos através dos 254 círculos eleitorais da Coreia do Sul e os 36 que foram escolhidos utilizando um método de distribuição proporcional dos votos pelos partidos, o PD e os seus aliados obtiveram 175 lugares no Parlamento; já o PPP e os seus parceiros ficaram-se pelos 108.
“Aceitarei humildemente a vontade da população expressa nas eleições e esforçar-me-ei por reformar a administração e por fazer o meu melhor para estabilizar a economia e melhorar a vida das pessoas”, limitou-se a dizer Yoon, citado pelo seu chefe de gabinete, Lee Kwan-seop, que é um dos assessores demissionários, de acordo com a agência noticiosa sul-coreana Yonhap.
O sistema político que vigora na Coreia do Sul é presidencialista, pelo que é nas mãos do chefe de Estado que está concentrada a maioria dos poderes executivos. O primeiro-ministro é, ainda assim, a segunda figura do Estado e é quem lidera e coordena o trabalho dos vários ministérios.
Quem também apresentou o seu pedido de demissão foi Han Dong-hoon, que ocupava o cargo de presidente do PPP. “Peço desculpa à população, em nome do nosso partido, que não conseguiu obter o apoio das pessoas”, anunciou, citado pela Yonhap. “Assumo toda a responsabilidade pelos resultados eleitorais e demito-me.”
Segundo a Comissão Eleitoral Nacional, 67% dos eleitores registados (mais de 29 milhões de pessoas) participaram nas eleições de quarta-feira. Foram as legislativas mais participadas em mais de 30 anos no país asiático.
Legado em risco
A vitória do PD e a derrota do PPP deixam o Presidente do país em muito maus lençóis e, acima de tudo, sem capacidade para executar o seu programa até ao final do mandato (2027).
Uma vez que na Coreia do Sul o mandato presidencial é único (cinco anos) e não permite a recandidatura do detentor do cargo, Yoon arrisca-se a não conseguir que a Assembleia aprove o que quer que seja das suas propostas durante três anos e, consequentemente, a ver o seu legado político ser seriamente comprometido.
Do ponto de vista do Presidente, as eleições de quarta-feira só trouxeram uma boa notícia: ao contrário do que foi sugerido pelas primeiras projecções, a oposição, em conjunto, não conseguiu conquistar dois terços da Assembleia Nacional. Se o tivesse logrado, a oposição teria deputados suficientes para lançar um processo de destituição ao chefe de Estado, entre outras possibilidades, como alterar a Constituição ou reverter vetos presidenciais.
A popularidade de Yoon Suk-yeol caiu a pique dois anos depois de ter sido eleito prometendo acabar com a corrupção, baixar os impostos e lançar reformas profundas no sistema de saúde, na segurança social e na legislação laboral, após uma das campanhas “mais sujas” de sempre no país, segundo os especialistas. A estagnação económica da quarta maior economia asiática e alguns escândalos envolvendo pessoas que lhe são próximas, incluindo a sua mulher, contribuíram para a sua impopularidade e, ao que tudo indica, para os resultados destas eleições.
O seu adversário nessa eleição presidencial, que Yoon venceu com apenas mais 0,73% do total votos, foi o actual líder do PD, Lee Jae-myung. Mesmo envolvido num processo judicial por alegado suborno, Lee foi reeleito deputado nestas legislativas, e, com a vitória do seu partido, deve ser o candidato dos liberais na eleição presidencial de 2027.