Com Jorge de Sena, a comemorar os 500 anos do nascimento de Camões

A Guerra & Paz publica quatro livros que reúnem a obra do autor de Os Lusíadas acompanhada pelas análises do académico que tanto o estudou e desvendou.

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Luís de Camões EVR - ENRIC VIVES-RUBIO
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O editor Manuel S. Fonseca Nuno Ferreira Santos
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Jorge de Sena (1919-1978) considerava Luís de Camões “o maior poeta em português” e foi “quem mais o amou, leu e devorou”. Por isso, a Guerra e Paz editores quer comemorar os 500 anos do nascimento do autor de Os Lusíadas (terá nascido entre 1524 e 1525), com quatro livros que juntam a obra dos dois escritores portugueses. O projecto “Camões-Sena 500 anos de Camões na visão herética de Jorge de Sena” tem o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e as obras chegam às livrarias durante este ano.

O editor Manuel S. Fonseca teve a ideia de juntar Sena e Camões, não só por ser “um prazer pessoal”, mas também porque o escritor, poeta e professor — que fundou o Center for Portuguese Studies, departamento que hoje tem o seu nome na Universidade de Santa Bárbara (EUA) — dedicou 30 anos a escrever “milhares e milhares de páginas” sobre Camões. Por outro lado, Sena poderia ser um “académico chato”, mas não o é. Trabalhou “emocionalmente e de uma forma muito forte” a obra de Luís de Camões e tentou resgatar Camões do senso oficial, tanto o que existia antes do 25 de Abril — hagiográfico — como o que se criou a seguir à Revolução dos Cravos. “Há um Camões poeta do futuro — e não um poeta do passado, anacrónico ou nostálgico —, que nasce da obra do Sena”, diz ao PÚBLICO o editor da Guerra & Paz.

O primeiro livro deste projecto, O Pensamento de Camões: O Épico e o Lírico, já está nas livrarias. Nas suas 84 páginas, tem o tamanho perfeito para se levar em viagens de metro ou enquanto se aguarda num consultório. Nele estão reunidos quatro ensaios que Jorge de Sena escreveu nos anos 70. O primeiro, “Camões, o maior poeta em português” foi escrito para a Enciclopédica Britânica; o segundo, que intitularam “Camões, a aristocracia de espírito: ninguém é nobre só porque os avós o foram”, foi publicado na altura do 4.º Centenário da publicação de Os Lusíadas. O terceiro, “Aspectos do Pensamento através da Estrutura Linguística d’Os Lusíadas” foi apresentado na Primeira Reunião Internacional de Camonistas; e o quarto, “Camões, o Poeta Lírico”, acompanhou uma edição inglesa de uma antologia do Camões lírico.

A ideia de que Camões é alguém que está muito acima do seu tempo está presente nestes textos. “No seu tempo, ele tem uma erudição fabulosa. Sobre Camões sabe-se pouco do ponto de vista estritamente biográfico, mas Sena diz que podemos saber muito através dos seus textos, se os soubermos ler. E o que ele vê nesses textos de Camões é, de facto, uma enorme erudição”, diz Manuel S. Fonseca explicando que o poeta não só tinha conhecimento da poesia e do pensamento do seu tempo, como da anterior, mas também de várias influências judaicas, gregas, das mitologias e do maravilhoso cristão. “Por trás deste projecto Camões-Sena está a ideia de legibilidade. Podia fazer um livro de 700 páginas e depois ninguém o lê. Portanto, não vale a pena”, acrescenta o editor.

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Retrato de Camões, indicado por Vasco Graça Moura como sendo um auto-retrato do poeta dr

Os Lusíadas e a Visão Herética é o segundo livro. Estará a 21 de Maio nas livrarias. Esta edição de Os Lusíadas de Luís de Camões, abre com o texto de Jorge de Sena “Sobre os dez cantos de Os Lusíadas” (1972), “uma pequena apresentação que ele faz, também para a Enciclopédia Britânica” e termina com “Camões: novas observações acerca da sua epopeia e do seu pensamento”, “um texto fantástico de Jorge de Sena, que é um resumo da sua tese de doutoramento, que são quase mil páginas, sobre o vocabulário de Os Lusíadas. Através dos termos, mostra quais são as influências e aquilo que está por trás. E diz o seguinte: se realmente tivessem compreendido Camões no seu tempo, os inquisidores tê-lo-iam queimado. Porque, na verdade, há um lado herético fortíssimo em toda a obra, muito diferente da visão do seu tempo e que tem uma inspiração universalista muito forte”.

Nas livrarias a 4 de Junho estará Babel e Sião, o terceiro volume. Junta a famosa redondilha de Camões, Sôbolos rios que vão; o Salmo de David que o inspirou; o conto Super Flumina Babylonis, de Sena, que tem como protagonista Camões a escrever essa redondilha, e ainda um outro texto que é uma análise dessa redondilha. “É um texto maravilhoso. Sena quase nos diz que este é o melhor poema, talvez, de toda a língua portuguesa”, recorda o editor. Estes dois livros vão ter capas duras, algum trabalho gráfico como as faces do miolo pintadas à mão. O quarto volume, são as Cartas de Camões a sair no Verão. “Recupero uma edição que já tinha feito antes e vou agora retrabalhá-la.”

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